quinta-feira, 20 de maio de 2021

O Fio da Navalha. William Somerset Maugham.

Buscando em minha biblioteca livros ainda não lidos, deparei com O Fio da Navalha, do escritor francês/inglês W. Somerset Maugham. O livro integra a coleção da Biblioteca Folha, fato que explica o não tê-lo lido logo após a compra. Livros que integram uma coleção... Nunca tinha lido nada desse escritor maravilhoso. A sua forma simples e direta de narrar me surpreendeu agradavelmente. Depois li no livro de biografias que acompanha a coleção Os imortais da literatura universal, que O Fio da Navalha é uma de suas melhores obras e que o personagem Larry reflete as suas próprias preocupações diante da vida.

O Fio da Navalha. Biblioteca Folha. 2003. Tradução: Lígia Junqueira Smith.


W. Somerest Maugham nasceu em Paris, em 1874. Terá uma longa vida, vindo a morrer em Nice no ano de 1965, depois de percorrer o mundo inteiro. Os seus relatos biográficos o apontam, acima de tudo, como um grande contador de histórias. No caso de O Fio da navalha ele próprio toma parte da história contada, sendo ele o Mr. Maugham. O romance foi escrito no ano de 1944. A primeira guerra mundial e a depressão econômica de 1929 e as ruínas econômicas por ela provocada fazem parte da história. 

O romance começa  com Mr. Maugham empreendendo uma viagem ao oriente, no ano de 1919. Em meio a viagem, se detém em Chicago por três semanas, atendendo convite de seu amigo Elliot Templeton, um americano radicado em Paris, com gosto pela vida social, nobreza e obras de arte. Sua vida é uma festa. Dessa estadia, surgem os personagens do romance. Nas recepções Mr. Maugham conhece Isabel, filha de Louisa Bradley e sobrinha de Templeton, namorada de Laurence Darrell, ou simplesmente Larry, o personagem central do romance. Ainda é personagem de destaque Gray Maturin, filho de um rico corretor de títulos na cidade e um eterno apaixonado pela bela Isabel. Bem, esses são os personagens. O cenário mais frequente será a cidade de Paris, junto com a Riviera francesa. A história, por óbvio, eu não vou contar. Existem alguns outros personagens, também dignos de notas. Você os encontrará: Sophie, Suzzanne, o industrial Achille...

Dou, no entanto, uma visão do romance, a partir da orelha do livro da edição da Biblioteca Folha: "O século 20 produziu uma quantidade enorme de histórias sobre ex combatentes de guerra que, ao voltarem para casa, não se reconhecem mais naquilo que veem e precisam  de algum modo reencontrar o fio da meada. No entanto poucas obras literárias se tornaram tão emblemáticas dessa situação quanto esse romance de W. Somerset Maugham.

Depois de ver seu melhor amigo morrer nos campos de batalha da Primeira Guerra, o jovem norte-americano Larry Darrell retorna aos Estados Unidos completamente transformado. Em pouco tempo, decide deixar a vida burguesa de Chicago e adiar seu casamento com a bela Isabel. Como muitos jovens de sua geração, Darrell vai passar uma temporada de aprendizado existencial em Paris, onde perambula pelos cafés e começa a ler livros sobre a Índia e o Nepal.

Entusiasmado com as descobertas e a possibilidade de um mundo radicalmente novo, Darrell viaja para esses países em busca de iluminação espiritual - assim como o próprio autor fez na década de 30. Anos mais tarde, de volta a Paris, Darrell reencontra Isabel e vários amigos americanos que haviam deixado os EUA depois da crise financeira de 1929".

A história, com o narrador participante, se desenvolve ao longo de sete capítulos, sendo o de número seis todo dedicado a Larry e seu encontro com os sábios do budismo na Índia e no Nepal. Larry é um personagem ímpar e imprevisível. Traz a marca profunda de sua participação na Primeira Guerra, quando um amigo seu morre para salvar-lhe a vida. Daí a busca para dar à sua vida um significado e um sentido. Será incompreendido por todos, menos pelo narrador, que passara por questões semelhantes.

Do livro de biografias, anotei algumas passagens marcantes sobre o escritor e os seus personagens, passando antes por algumas marcas nessa sua biografia, como a precoce orfandade de mãe e pai, passando pela presença meio nefasta de um tio padre, pela sua formação no curso de medicina em Londres e o seu abandono para se dedicar inteiramente a literatura. Pelo fato de Isabel ser a personagem feminina mais importante, uma nota sobre as mulheres em seus livros: "As personagens femininas, de modo geral cruéis e interesseiras, na maioria das vezes nutrem profundo desprezo pelos homens que as amam e se comprazem em vê-los degradar-se. Amor é ilusão, diz Maugham ao longo de sua obra: amor provoca mais sofrimento que felicidade e, quando se restringe à mera atração física, é uma fonte de contínua tortura e servidão".

Quanto a Suzzanne, uma das personagens femininas de O Fio da Navalha, que se casa, possivelmente por interesse, ela mesma afirma: "Creia-me, amigo, os outros podem dizer o que quiserem, mas o casamento continua sendo a melhor profissão para uma mulher".

Mas a tese central do livro é a busca de um sentido para a vida, assim expresso em Larry, numa das respostas a Mr. Maugham, quando este lhe pergunta se a América é o melhor lugar para por em prática a filosofia de vida que aprendera em sua viagem para a índia: "Não sei por que não. Vocês europeus, nada conhecem da América. Pelo fato de amontoarmos grandes fortunas, acham que é só dinheiro que nos interessa. Pouco ligamos a ele; assim que o possuímos tratamos logo de gastá-lo, às veze bem, às vezes mal, mas em todo caso o gastamos. Dinheiro nada significa para nós; é apenas o símbolo do sucesso. Somos os maiores idealistas do mundo; só que, no meu modo de pensar, pusemos o nosso ideal onde não devia estar; acho que o maior ideal que um homem possa ter é o seu próprio aperfeiçoamento". Com essa busca pelo "próprio aperfeiçoamento", concluo o post, para que essa imagem seja a que continue ocupando o espaço em nossa mente.

Mas antes vamos lembrar que Maugham também fez muito sucesso com a adaptação de sua obra para o cinema. Com meia dúzia de clicks você localiza O Fio da Navalha. No cinema essa obra ganha maior dramaticidade. Lembrando que o romance teve a sua primeira publicação no ano de 1944, dado fundamental para entender o espírito da obra.


4 comentários:

  1. A primeira vez que li uma obra S. Maugham fiquei tão impressionada com a riqueza com que relata os dramas do personagem, as vivências internas. Busquei outras obras do autor e nao me decepcionei. Excelente

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  2. Eu nunca tinha lido Somerset Maugham. Assim que terminei "O Fio da Navalha" comecei "Servidão Humana". Foi uma descoberta maravilhosa. Que grande narrador. Interessante que ele nunca tenho ganho um Nobel de Literatura. Agradeço o comentário.

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  3. Excelente escrita. Sou fã de W.somerset maughan desde muito jovem. Espero cruzar com seu blog com mais frequência. Parabéns.

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    1. Muito obrigado Suzete pela sua elogiosa referência. Meus agradecimentos também por teres acessado o blog. Estou terminando de ler "Servidão Humana". Que obra impressionante. Grande narrador! Grande escritor. Como a leitura nos faz bem!

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