Começo esta resenha de - Bandeirantes e Pioneiros - paralelo entre duas culturas -, de Vianna Moog, contando a forma pela qual adquiri o livro, provavelmente em meados dos anos 1970. Após me formar em filosofia, na Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição, da cidade de Viamão, no ano de 1968 e, já no ano seguinte, eu me estabelecia na cidade de Umuarama (PR), como professor. Enquanto meus pais estavam vivos, uma ou até duas vezes por ano, eu ia visitá-los. E eu ia de ônibus, passando por Curitiba. Assim Curitiba - Porto Alegre, via serra, estava em meu roteiro.
Bandeirantes e pioneiros. Paralelo entre duas culturas. Vianna Moog. Civilização brasileira.Bem, numa dessas viagens, havia uma parada para almoço, na cidade de Vacaria. No restaurante havia uma banca de jornais e revistas e também alguns livros. Entre os livros, estava o próprio: Bandeirantes e Pioneiros. O dinheiro era escasso, mas não tive dúvidas em adquiri-lo. Nunca fui pão-duro para a compra de livros. Coisas daquele tempo. Creio que nos dias de hoje não encontraria o livro tão à mão. O livro teve a sua primeira edição no ano de 1954 e, o exemplar que eu adquiri foi o da 9ª edição, do ano de 1969. Vianna Moog é gaúcho de São Leopoldo, nascido no ano de 1906. Veio a falecer em 1988, na cidade do Rio de Janeiro. Integrou a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número 4.
A grandeza do livro começa pelo seu título e sub-título. Nada mais claro e preciso. Creio que cabe perfeitamente no imaginário de qualquer pessoa a diferença entre um bandeirante e um pioneiro, a de um explorador, de um colonizador. Essa diferença chama o sub-título: paralelo entre duas culturas. As duas culturas são as de dois países: Brasil e Estados Unidos. O livro tem um curto prefácio do autor. Nele enuncia o tema ou a grande razão de ser do livro: Como pode haver tanta diferença entre dois países, sendo os Estados Unidos, a grande potência e o Brasil sendo o que é. Quais seriam as razões para toda essa diferença. A resposta, ou as respostas estão ao longo das 361 páginas do livro
Ele está estruturado em seis capítulos, prefácio, epílogo e bibliografia. Dou os títulos dos capítulos: 1.Raça e geografia; 2. Ética e economia; 3. Conquista e colonização; 4. Imagem e símbolo; 5. Fé e símbolo; 6. Sinais dos tempos. Mais uma vez, observamos que conquista e colonização. Estas palavras também nos remetem ao título. A conquista é obra do bandeirante, da exploração predatória e a colonização é fruto do trabalho, do árduo trabalho do pioneiro. Concepções de vida totalmente diferentes. Mas há também outros fatores, bem visíveis, nos outros capítulos. Ainda no prefácio, o autor nos adverte sobre as polêmicas que o tema provoca. Mas ele diz topar o mexer nos marimbondos.
Dou em pequenos tópicos, alguns itens básicos sobre cada capítulo. Assim, no primeiro, veremos o racismo, a escravidão e a miscigenação nos USA e no Brasil, a questão da disposição das cadeias montanhosas nesses países e, também da mesma forma, os rios. Teriam esses fatores facilitado ou dificultado a ocupação do continente? São analisadas algumas experiências. O segundo capítulo, provavelmente o que mais bibliografia e estudos acumula, mostra o Brasil como um país católico e os USA como um país protestante. Protestantes calvinistas. Isso importa, pois eles tem uma visão muito particular sobre o trabalho. Trabalhar é a melhor forma de orar e engrandecer a Deus. Também são mostradas as implicações da visão calvinista com a teoria agostiniana da predestinação e desta, com a prosperidade. Há muitas referências a Max Weber. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Outra parte do capítulo é destinada à análise das riquezas de solo e subsolo dos dois países e suas influências, ou não, no desenvolvimento econômico.
Em conquista e colonização, o tema do terceiro capítulo, a abordagem passa pela análise dessas palavras e suas implicações. As influências religiosas e suas concepções sobre o trabalho são vistas pelos olhos de pioneiros e de bandeirantes, além do espírito prático e inventivo do pioneiro, contra o espírito aventureiro e o desejo de enriquecimento fácil e rápido do bandeirante. Os desdobramentos dos temas desses três primeiros capítulos são o material para os outros três. No quarto capítulo são mostrados os fatores que marcaram a passagem do pioneiro para o ianque e à Guerra da Secessão. É mostrada ainda a figura de Lincoln e a sua ação na pacificação e na manutenção da unidade do país. Já do Brasil, vamos ver as primeiras experiências de colonização pela imigração no sul do país.
No quinto capítulo é observada a não permanência dos princípios pioneiros e fundadores e o seu rompimento com o plasmar da grande nação, quando no Brasil só se vislumbra pessimismo em seu futuro. A miscigenação piora as raças misturadas. Dois personagens fantásticos são apresentados nessa visão. Babbit, de H.S. Lewis e José Dias., o personagem de Dom Casmurro, do grande Machado de Assis. Babbit representa o comerciante ianque, que se torna grande, já despido das virtudes do pioneiro. Enquanto isso, persiste em José Dias o desejo do enriquecimento fácil e sem trabalho penoso.
Em Sinais dos tempos, no sexto capítulo, mais dois personagens nos são apresentados. Lincoln pelos Estados Unidos e o Aleijadinho pelo lado brasileiro. Um belíssimo capítulo. Figuras míticas, muito veneradas. Da orelha da capa e contracapa do livro tomo mais algumas referências:
"Bandeirantes e Pioneiros, de Vianna Moog, é uma primeira tentativa séria de interpretação comparativa.
O segundo capítulo, intitulado Ética e economia, é dos que mais estimulam o debate. Nele se coloca, paralelamente, o desenvolvimento de dois tipos de capitalismo: a progressão geométrica norte-americana, no quadro do protestantismo, a progressão aritmética brasileira, no quadro do catolicismo. Trabalho de erudição e pesquisa, equivale a um verdadeiro ensaio que, sozinho, justificaria prolongada e frutífera polêmica.
Polêmico, aliás, é o livro todo. Vianna Moog suscita o diálogo com a crítica, já que admite - em seu prefácio - ter abordado 'um tema essencialmente dinâmico, com um número quase ilimitado de incógnitas, todas a variarem umas em função das outras'. um tema, em suma, que 'não é propriamente dos que comportam pronunciamentos definitivos ou julgamentos isentos de erros de observação, de emoção e de interpretação'".
Um livro que, embora a sua data de publicação seja de 1954, continua sendo muito atual e que explica muito das diferenças entre os dois países. As grandes interpretações de Brasil são bem tardias e uma visão positiva de nosso país ocorre apenas a partir de Gilberto Freyre, com Casa-Grande & Senzala, publicado em 1933.
Deixo ainda duas resenhas de livros abordados nas análises. Babbitt, o comerciante ianque.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2025/05/babbitt-harry-sinclair-lewis-1922-nobel.html
E também o A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2025/01/a-etica-protestante-e-o-espirito-do.html
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