quarta-feira, 19 de junho de 2013

O Grande Gatsby.

Eu tenho cá comigo os meus deuses. Como gostaria de estar em suas companhias pela eternidade afora. Então sim a vida seria mais leve, mais agradável e sem as aflições comuns a todos. Entre os meus deuses estão os dois Veríssimos: o Pai  e o Filho (o maiúsculo é proposital), o Érico e o Luís Fernando. Recomendações do Luís Fernando eu sigo à risca. Em novembro de 2012 eu descobri uma recomendação de leituras, dos dez maiores romances de todos os tempos, feita pelo Luís Fernando.
 http://www.blogdopedroeloi.com.br/2012/11/luis-fernando-verissimo-seus-livros.html

 Entre as suas preferências estavam os dois livros de Scott Fitzgerald . O Grande Gatsby e Suave é a Noite. Reli o Gatsby e li o Suave é a Noite. Estes anos 20... Paris.... Quem sou eu para dizer que o Luís Fernando esteve certo em suas indicações. Mas os livros são extraordinários.
O Grande Gatsby 27Abr2013 01
O trio central do filme: Leonardo di'Caprio como Gatsby, Carey Mulligan como Daisy e Joel Edgeston como Tom Buchanan

Falo de O Grande Gatsby, porque ontem fui assistir a sua nova versão para o cinema. O novo filme tem a direção de Baz Luhman e conta em seu elenco com as atuações de Leonardo Di'Caprio, no papel de Gatsby, de Carey Mulligan como Daisy e Joel Edgeston, como Tom Buchanan. O papel de Nick Carraway, o narrador, é interpretado por Tobey Maguire. A narrativa ocorre sob forma de retrospectiva. Nick é um aprendiz de escritor e um corretor de ações na Bolsa de Valores. A narrativa ocorre sob forma de retrospectiva. Faz todo o sentido. Ele, como não consegue falar de sua vida, recebe do analista a solicitação de que escreva tudo aquilo sobre o que não consegue falar. Escrever é um recurso muito usado pela psicanálise.

É dessa forma que sai a história, que é relativamente simples. Gatsby, em seu tempo de estudante, conhece uma menina, Daisy, que não se casa com ele, por ele ser muito pobre. Casa-se então com um colega seu, muito rico, Tom Buchanan. Gatsby não a consegue tirar da cabeça e usa de todos os meios para enriquecer.  Dará grandes festas para chamar sua atenção. Para conseguir esta aproximação compra uma mansão perto de Nick, que tem algum parentesco com Daisy, procurando usá-lo, na aproximação. A mansão também está estrategicamente localizada para que Gatsby veja o que se passa na casa do casal Tom e Daisy, do outro lado do lago, em East Egg. A aproximação com Daisy ocorre e, a partir daí, uma verdadeira sucessão de tragédias.
O livro O grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, na versão da Penguin - Companhia.

Mas o que esta história tem de tão significativa para figurar entre os maiores romances de todos os tempos e escrito ainda nos anos 20 do século passado? Vamos recorrer a Tony Tanner e a sua belíssima introdução no livro editado pela Penguin-Companhia. O prefácio tem cinquenta páginas e parece impossível escrever algo sobre o livro, que não seja um ensaio. O livro retrata a sociedade americana, mais precisamente o sonho americano do self made man. E sobre este sonho tudo é trágico como a tragédia de Gatsby. Busco num trecho do prefácio algo que faça entender a importância do livro e especialmente o seu tema.

"Ele quis mostrar a América profanada, mutilada, violada. Fossem quais fossem os auspícios do novo mundo - e as tentativas incoerentes, esperançosas e ainda assim desesperançadas de Gatsby dão uma indicação vaga, residual e distorcida de uma 'capacidade de maravilhar-se', desejada e não inteiramente compreendida, que poderia ter sido essencial para aperfeiçoar a América, a última grande chance da humanidade -, enfim, fossem quais fossem suas promessas, a América conseguiu tornar-se completamente acidental e propensa ao acaso. O que poderia ter sido o paraíso (um tema incendiário à literatura americana) tornou-se uma terra desolada".

O livro era para se chamar originalmente Trimalchio, o novo rico vulgar e de imensa fortuna, do Satyricon de Petrônio (estão vendo donde procede a criação, jamais do vazio) ou então Entre cinzas e milionários.  Vejam uma frase em epígrafe do livro, que dá bem uma ideia da obsessão de Gatsby por Daisy.

 "Então use o chapéu de ouro, se isso irá impressioná-la; E se conseguir saltar bem alto, salte para ela também, Até que ela grite: 'Meu amor com um chapéu de ouro, meu amor que salta bem alto, Preciso ter você" (de Thomas Parke D'Invilliers). São muitas simbolizações. Gatsby torna-se rico associando-se a grupos mafiosos para se tornar mais rico que Tom Buchanan, para lhe arrebatar a fútil Daisy. Gatsby é apresentado de forma um tanto simpática, é amigo do narrador, enquanto que Tom é mostrado como um cafajeste, um traidor e infiel marido, tendo caso, inclusive, com Myrtle, que terá um importante papel na história.
A versão do filme dos anos 70. Roteiro de Coppola, com Robert Redford (Gatsby) e Mia Farow (Daisy).

Para fazer um texto de melhor qualidade, creio que precisaria ler novamente o livro e, nem dispondo de todo o tempo livre, eu tenho condições para fazê-lo. Levaria no mínimo uma semana. O que fiz, foi muito mais no intuito de provocar a leitura do livro do que para assistir o filme, que já está em sua quarta versão. A anterior é dos anos 70, com roteiro de Coppola e como personagens principais Robert Redford, no papel de Gatsby e Mia Farrow, no de Daisy.

Ainda para melhor compreensão do livro, vejam o escrito em sua contracapa: "Fitzgerald escreveu este romance durante sua estadia em Paris, para onde, na mesma época, se mudaram Ernest Hemingway e Gertrude Stein, a 'geração perdida' da literatura americana. Egresso da classe média alta, Fitzgerald usou a própria experiência para fazer um alerta sobre o materialismo. Ainda que o narrador Nick Carraway não seja um alter ego do autor, ambos compartilham conclusões amargas a respeito da falsidade e do dinheiro".

O livro foi concebido em 1922 e escrito em 1924, quando Fitzgerald e Zelda moravam em Paris e andavam pela Riviera francesa. Encontros e desencontros nesta Riviera, será o tema de Suave é a Noite, que também já foi levado ao cinema em 1962, sob a direção de  Henry King. Os livros estão recheados com muitos dos conceitos da psicanálise, que se afirma neste período. As insatisfações humanas estão presentes nos dois grandes livros.

2 comentários:

  1. Excelente texto! Eu li "Suave é a noite" e agora estou lendo "O grande Gatsby".

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  2. Obrigado Daianne. Ler Fitzgerald é maravilhoso. Não é leitura simples. É impressionante como os críticos do cinema fogem do tema, se atendo mais a detalhes técnicos de filmagem, a características do diretor e por aí vai. Boa leitura Daianne. Atender uma indicação do Luís Fernando Veríssimo sempre é uma boa pedida.

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