sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sobre o Quilombo de Palmares.

No belo livro de Manoel Bomfim, as teorias racistas, tanto as da existência de raças inferiores, apresentadas como raças completamente inferiores e gravemente diversas, quanto as dos efeitos nocivos das misturas de raças, mostradas como efeitos regressivos dos cruzamentos são fundamentadas no historiador português Joaquim Pedro de Oliveira Martins, (1846-1894), em sua obra O Brasil e as colônias portuguesas.
O livro de Manoel Bomfim, donde retirei a descrição sobre o Quilombo de Palmares.

Manoel Bomfim mostra as profundas contradições existentes em seu pensamento, que tanto produz as horrorosas teorias racistas, que afirmam a existência de raças superiores e inferiores e a degeneração de raças que se misturam, quanto a beleza de um texto de exaltação dos valores cultivados no Quilombo dos Palmares. Procurando na Wikipedia, encontrei as explicações: No texto sobre Joaquim Pedro de Oliveira Martins se lê: "Perfilhou várias ideologias contraditórias". E continua explicando, que ao longo de sua existência ele foi anarquista, liberal, anti liberal, fascista, socialista e também racista. Não quero hoje polemizar sobre ele. Quero apresentar apenas a beleza de sua descrição sobre o Quilombo de Palmares e os elevadores valores morais gerados na vida quilombola. Vejamos:

"De todos os protestos históricos dos escravos, Palmares é o mais belo, o mais heroico. É uma Troia negra, e a sua história uma Ilíada. Foi a ocupação dos holandeses que deu lugar à formação da república dos escravos. O abandono das fazendas pelos senhores, e mais tarde o armamento dos negros para expulsar os invasores, eis as causas imediatas da organização deste grande quilombo. Em 1630, quarenta negros guinés, escravos de Porto Calvo, refugiaram-se nos Palmares, coisa de 30 léguas para o interior de Pernambuco, e fortificaram-se. Como os romanos, captaram as sabinas, índias e mestiças dos arredores. Principalmente para viver das razzias das plantações próximas, dos saques dos fazendeiros. Assim viviam os romanos. Palmares era o asilo dos escravos fugitivos, como também o fora Roma e os conselhos medievais; crescendo em número, constituíram-se em sociedade, tinham um rei, o zambi, um cristianismo copiado dos jesuítas, e leis que foram escritas por um Numa preto. 
Imagem da organização e da vida no Quilombo dos Palmares.

À maneira que prosperavam, abandonavam a pilhagem, fazendo-se agricultores. Lavraram e comerciaram; e os fazendeiros dos arredores, vendo-se livres do incômodo antigo de vizinhos tão hostis, tratavam agora com a cidade nascente, vendiam-lhe fazendas e armas; assim as nações se formam, e Palmares MERECIA JÁ ESTE NOME quando, reconquistado e pacificado o norte do Brasil, o governo resolveu submeter a república (1695). Tinha ela então quatro ou cinco milhas de circuito; o recinto era fortificado por uma paliçada alta, à moda das aringas ou mocambas da África. Dentro havia as plantações; um rio com água abundante, frondosas bananeiras, campos de milho e mandioca.

A população contava mais de vinte mil pessoas, das quais oito ou dez mil em armas esperavam os agressores. Caiu a república, destruída pelas armas portuguesas, mas caiu epicamente, como uma Troia de negros. Vencidos, mortos, esmagados pela força, rotas as fortificações, aberto de par aos invasores o ninho da sociedade nascente, os palmarinos não se submeteram, suicidaram-se. O zambi, com os rotos destroços de seu exército, precipitou-se do alto de um penhasco, e os cadáveres dos herois vieram rolando, despedaçados, cair aos pés dos portugueses vitoriosos.
Imagem de Zumbi, o famoso rei do Quilombo.

Os prisioneiros, voltados à condição miseranda, suicidavam-se, trucidavam os filhos e as mulheres; e quando lhes tiravam todos os meios de se matarem, deixavam-se acabar à fome. A Troia dos negros foi arrasada, mas a memória dos seus herois ficou e ficará como um nobre protesto da liberdade humana contra a dura fatalidade da natureza, cujas ordens impuseram à exploração da América a condição do trabalho escravo".

De reparo neste texto, apenas a última frase, a da "dura fatalidade da natureza". Foi mesmo um vil processo de exploração e dominação. O livro de Bomfim é absolutamente contundente em mostrar os males de origem, que se perpetraram contra os povos que viveram e aos que foram aqui trazidos para o mundo do trabalho, na qualidade de escravos para a América Latina. A América Latina - Males de origem, este é o livro em que estes males estão descritos, em cores muito vivas.

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