"Escrito para um público amplo... descreve-se com riqueza de detalhes o dia-a-dia dos escravos... um surpreendente relato das relações econômicas e sociais". The New York Times Book Review. Esta é a apresentação que está na contra capa da edição brasileira do livro de Kátia de Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil, em sua reimpressão de 2003, da Editora Brasiliense. A primeira edição do livro ocorreu em 1982 e foi escrito em francês. A edição brasileira tem a tradução de James Amado, que me consta ser o irmão de Jorge, o irmão famoso. O livro tinha a pretensão de relatar ao mundo as tristes experiências da escravidão brasileira.
Ser escravo no Brasil. O monumental livro de Kátia de Queirós Mattoso.
Cheguei ao livro através de Antônio Cândido, quando este deu em 1990, dez indicações de livros essenciais para a compreensão de Brasil. Tenho um post sobre estas indicações. Antônio Cândido dividiu o Brasil em grandes temas e para cada um destes temas sugeriu um grande livro. Para a questão da escravidão, indicou este, do qual passarei a dar a estrutura fundamental. Ele foi escrito em francês com a finalidade de ser lido ´"por um público amplo", mas acabou mesmo sendo a grande referência no Brasil. Kátia é grega de nascimento que se radicou em Salvador, sendo professora na Universidade Federal da Bahia.
Cheguei ao livro através de Antônio Cândido, quando este deu em 1990, dez indicações de livros essenciais para a compreensão de Brasil. Tenho um post sobre estas indicações. Antônio Cândido dividiu o Brasil em grandes temas e para cada um destes temas sugeriu um grande livro. Para a questão da escravidão, indicou este, do qual passarei a dar a estrutura fundamental. Ele foi escrito em francês com a finalidade de ser lido ´"por um público amplo", mas acabou mesmo sendo a grande referência no Brasil. Kátia é grega de nascimento que se radicou em Salvador, sendo professora na Universidade Federal da Bahia.
Foto de Kátia de Queirós Mattoso. - Nasceu na Grécia em 1931 e faleceu em Paris em 2011. Foi professora na Universidade Federal da Bahia.
O livro de 2003 tem prefácio do historiador Ciro Flamarion S. Cardoso que destaca três virtudes fundamentais no livro: "1. Uma base documental sólida, proveniente da intimidade com as fontes primárias (em especial da Bahia) e ao mesmo tempo com a extensa bibliografia do escravismo brasileiro; 2) enquanto muitos livros de síntese no fundo generalizam a experiência da escravidão numa única região ou a partir das realidades que afetavam a um só tipo de escravos (os domésticos, por exemplo), neste texto se procurou considerar todas as principais situações regionais e estruturais; 3) o tema da alforria e dos libertos, raramente visto em debates neste país, tem grande peso e desenvolvimento".
O livro de 2003 tem prefácio do historiador Ciro Flamarion S. Cardoso que destaca três virtudes fundamentais no livro: "1. Uma base documental sólida, proveniente da intimidade com as fontes primárias (em especial da Bahia) e ao mesmo tempo com a extensa bibliografia do escravismo brasileiro; 2) enquanto muitos livros de síntese no fundo generalizam a experiência da escravidão numa única região ou a partir das realidades que afetavam a um só tipo de escravos (os domésticos, por exemplo), neste texto se procurou considerar todas as principais situações regionais e estruturais; 3) o tema da alforria e dos libertos, raramente visto em debates neste país, tem grande peso e desenvolvimento".
O meu objetivo não é o de apresentar uma síntese do livro. Seria impossível num único post. O que eu quero é fazer é a provocação para a sua leitura. Por isso vou apresentar a estruturação do livro. Ele foi dividido em três partes e nove capítulos. As três partes envolvem o ser vendido como escravo, o ser escravo e o deixar de ser escravo. Os relatos não são frios e acadêmicos. Foram escritos com muita paixão. Mas vamos a estrutura do livro:
Cenas do transporte de "mercadorias humanas" da África para o Brasil.
A primeira parte tem como título Ser vendido como escravo. Vai da página 15 até a 96. Possui três capítulos com os seguintes títulos: Capítulo Primeiro: Na África - Ser vendido como escravo. Capítulo Segundo: Ser uma mercadoria como as outras. Capítulo Terceiro: Ser uma mercadoria apreciada. Não darei detalhes, mas gostaria de salientar a escolha da autora para a qualificação atribuída ao escravo como uma mercadoria. Ela está revestida de um significado profundo.
A segunda parte tem como título Ser escravo. Ocupa as páginas entre a 97 e a 172. Possui também três capítulos, dos quais também darei os títulos: Capítulo quarto: O africano se adapta ao Brasil e aos brasileiros. Capítulo quinto: As solidariedades. Capítulo sexto: Refúgios e refugos. A narrativa cresce em sua dramaticidade, na descrição de sofrimentos e da construção de uma identidade, praticamente impossível, pois, lhe falta uma das características essenciais do humano, que é a liberdade. A descrição da religiosidade do escravo negro me marcou profundamente. Cinicamente comparavam os seus sofrimentos com os sofrimentos de Cristo na cruz, que lhes proporcionava uma vida livre. Me veio à lembrança o livro de Primo Levi, Os Afogados e os Sobreviventes, em que ele afirma que o suicídio é um ato da liberdade humana e, portanto, não praticável, nas condições em que se encontrava no campo de concentração de Auschwitz. Mas o livro também aborda os diferentes refúgios em que os escravos procuravam conforto. Um destes refúgios era o suicídio.
Aplicação de chicotadas no pelourinho. O castigo mais aplicado aos escravos.
A terceira parte é dedicada ao tema Deixar de ser escravo? Observem a interrogação. Esta parte também possui três capítulos, que ocupam as páginas que vão da 173 até a 240. Capítulo Sétimo: A carta de Alforria. Capítulo oitavo: A miragem da liberdade. Capítulo nono: O liberto, ponte nas relações sociais. Dois destaques, o terceiro tópico da apresentação de Ciro Flamarion do tema raramente abordado e o título do oitavo capítulo como a miragem da liberdade. Como o texto já está se alongando, recomendo as duas páginas finais do livro, onde tem o depoimento de libertos, mas não resisto a uma pequena descrição sobre o dia seguinte ao da libertação:
A terceira parte é dedicada ao tema Deixar de ser escravo? Observem a interrogação. Esta parte também possui três capítulos, que ocupam as páginas que vão da 173 até a 240. Capítulo Sétimo: A carta de Alforria. Capítulo oitavo: A miragem da liberdade. Capítulo nono: O liberto, ponte nas relações sociais. Dois destaques, o terceiro tópico da apresentação de Ciro Flamarion do tema raramente abordado e o título do oitavo capítulo como a miragem da liberdade. Como o texto já está se alongando, recomendo as duas páginas finais do livro, onde tem o depoimento de libertos, mas não resisto a uma pequena descrição sobre o dia seguinte ao da libertação:
"Neste final do século XX, essa liberdade nos parece inteiramente teórica, assim como a emancipação outorgada em 1888, quando da abolição da escravatura, a milhares de homens e mulheres, lançados de um dia para outro à alegria de de uma liberdade reconquistada e aos temores de um amanhã sem pão e sem teto". Aproveito ainda para apresentar as três virtudes essenciais do escravo: a obediência, a humildade e a fidelidade.
Também me atrevo a duas indicações sobre o tema da escravidão. Joaquim Nabuco e Florestan Fernandes. De Joaquim Nabuco, o seu projeto de acabar com a obra da escravidão, com a integração efetiva no ex escravo na sociedade e de Florestan, sobre as dificuldades do ex escravo se integrar a uma sociedade competitiva. Mas o livro da Kátia nos faz testemunhar a realidade do quanto os livros realmente nos formam e moldam a nossa consciência e o nosso olhar. Um livro de primeira grandeza.
Obrigado pelo post, muito bom.Deu vontade mesmo de ler o livro. É fácil de encontrá-lo?
ResponderExcluirPrimeiramente agradeço o seu generoso comentário. Em segundo lugar quero dizer que fazer ler é o grande objetivo do blog. Fico muito feliz quando consigo esse resultado. Em terceiro lugar, dei uma busca nas grandes livrarias, na Travessa e na Cultura, que informam que a edição está esgotada. Talvez ele possa ser encontrado em livrarias menores, ou então na Estante Virtual. A Editora é a Brasiliense e a edição que eu tenho é de 2003.
ResponderExcluirObrigada por mais esta contribição. Voce tem me oferecido um contéudo mais que valoroso.
ResponderExcluirO artigo que estou escrevendo é sobre a trajetória do negro no Brasil e a ausencia desses povos na formação da cultura brasileira. Muito obrigada, viu?
ResponderExcluirQue bom Valquíria que o meu blog está servindo para referências bibliográficas para você. Agradeço o seu comentário.
ResponderExcluirEloi, estamos em 2018, estou lendo agora o livro de kÁtia Mattoso. Gostaria de trocar uma ou duas ideias sobre comentários seus. Joaquim Porã: joaquim.poran@hotmail.com
ResponderExcluirOi Joaquim. Um grande livro, grande referência. Indicação de Antônio Cândido. Estou à disposição. Agradeço o contato.
ResponderExcluirOlá Eloi. Leio o livro sob indicação do prof. Osvaldo Rodrigues (UFMT). Encontrei seu blog quando em busca de resenhas... parabéns pelo trabalho de divulgação.
ResponderExcluirObrigado pelo seu comentário, Valter. Faço este trabalho com muito gosto e raro prazer. Lamentável que ainda continuemos sendo um país com as marcas profundas da escravidão.
ResponderExcluirComo posso conseguir este livro em pdf?
ResponderExcluirMeu amigo, não consigo lhe dar esta informação. Certamente você poderá encontrar o livro na Estante Virtual. Muito obrigado.
ResponderExcluirEntao observamos tres caractristicas de requicios da escravidao e todos em carater incondicional: a obediência , a humildade e a fidelidade
ResponderExcluirPrimeiramente agradeço a sua manifestação, F. Brandão. As três características, creio, precisariam de uma análise mais profunda, especialmente a questão da humildade. O que sobrou mesmo é o espírito autoritário e aí essas características viram uma espécie de imposição. Os países escravocratas parece que não conseguem humanizar-se. E o que são os tais salários de acordo com o mercado?...
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