terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Os Maias. Maria Adelaide Amaral e o seu trabalho.

A minissérie produzida pela TV Globo Os Maias - tem a duração de 940 minutos, divididos em quatro discos. Ao final do disco número dois temos dois extras muito interessantes e ilustrativos. As falas de Maria Adelaide Amaral, que fez a adaptação e da professora Beatriz Berrini, professora de literatura na PUC/SP e grande especialista em Eça de Queirós. Maria Adelaide conta da adaptação feita e a professora destaca a força dos personagens na obra do autor.
Maria Adelaide Amaral explicita a realização do seu trabalho.

Maria Adelaide Amaral é portuguesa e veio ao Brasil com doze anos de idade. Ao entrar em contato com a obra de Eça, ainda no colégio, afeiçoou-se ao escritor. Em viagens a Portugal, refez os caminhos de Eça, detendo-se no Douro, onde ele está enterrado. Rezando em seu túmulo, misticamente lhe pede permissão para trabalhar a sua obra. Percebeu sinais de consentimento e lhe prometeu absoluta fidelidade. Coisas da espiritualidade.

Maria Adelaide se dedicava ao teatro mas sempre esteve muito atenta a televisão. Observava a televisão britânica. Vivia fascinada com os seriados produzidos pela BBC e lamentava não haver condições para semelhantes produções no Brasil. A questão no entanto, permanecia. Aí ela fala da realização da obra. O livro Os Maias ficou aberto ao lado de seu computador o tempo inteiro. Mas fez mais. Procurou incorporar Eça de Queirós por inteiro na minissérie. Estudou toda a obra do autor, trabalhou a sua correspondência e por esse caminho, as suas concepções filosóficas e políticas. Colocou Eça de Queirós por inteiro na minissérie. Os personagens coadjuvantes foram os portadores deste ir além. Me ajudou muito na compreensão. Tudo se tornou mais explícito.
D. Afonso, junto com o neto Carlos Eduardo e a neta Maria Eduarda, que ele julgava falecida, formam o grande trio da obra e lhe conferem o caráter trágico.

Maria Adelaide afirma que este foi um trabalho necessário. Uma minissérie, segundo os padrões da Globo, exige 44 capítulos e a obra daria uns 24. Como considerava indecoroso espichar a obra, incorporou o autor por inteiro. Ficou maravilhoso. Evidentemente que também ousou. A dramaturgia exige cenas de impacto. O real se torna mais real, o trágico se torna mais trágico e o romântico se torna mais romântico. Além disso foi reunido um elenco de primeira grandeza.

Maria Adelaide considera esta sua adaptação uma obra maior da televisão mundial e que se sente muito feliz com o trabalho realizado. E acima de tudo, se considera absolvida por Eça de Queirós, por fidelidade a ele, ao seu pensamento e à sua obra. Estudo, dedicação, competência técnica e creio que, acima de tudo, uma grande paixão se constituíram nos fatores responsáveis pelo êxito deste mais do que ousado projeto.
Beatriz Berrini fala de Eça de Queirós e de sua obra. Destaca personagens e cenas com muita propriedade.


Num outro extra, mais uma fala esclarecedora. A da professora de literatura portuguesa e brasileira da PUC/SP. e especialista na obra de Eça - Beatriz Berrini. Ela apresenta a obra de Eça como uma tragédia clássica grega e explicita o que isso significa e como está presente no livro e na minissérie. Fala da amizade, destacando a amizade entre Carlos Eduardo e João da Ega, nascida em Coimbra e que os acompanhou uma vida inteira. Mas mostra uma amizade superior, a existente entre o único neto e o único avô, que se amam e se respeitam profundamente.

Fala de Mefistófeles, do personagem de Goethe, muito popular na época. Ega se veste de Mefistófeles, sem ser ou incorporar, na realidade, o demônio, por ser um personagem cheio de virtudes e qualidades extraordinárias. Fala ainda da força extraordinária e avassaladora da paixão, nos amores trágicos de Pedro e Maria Monforte e de Carlos Eduardo e Maria Eduarda.  Caracteriza ainda as duas grandes personagens femininas, Maria Monforte e Maria Eduarda. É a divinização da mulher na obra de Eça. Maria Adelaide Amaral e a professora Beatriz Berrini trabalharam em regime de cumplicidade na adaptação da obra.
Carlos Eduardo e Maria Eduarda. A paixão e a tragédia.  São Maias.

A professora Beatriz destaca ainda em sua fala as cenas que ela considera como sendo as mais impactantes. Vale muito a pena conferir. Ainda, um último dado. A Rede Globo estabeleceu, para a realização deste trabalho uma parceria com a Sociedade Independente de Comunicação, de Portugal. Em suma, um grande trabalho e um resultado magnífico. Bom para presentear com qualidade.



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