quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Anita Prestes critica o biógrafo de seu pai, Daniel Aarão Reis.

Daniel Aarão Reis é um historiador respeitado. O vejo como alguém da esquerda e foi ferrenho adversário do regime ditatorial brasileiro. É nestas áreas que concentra os seus estudos. Foi um dos organizadores de alguns dos seis volumes, mais precisamente os volumes I, V e VI (Este da Boitempo) da História do marxismo no Brasil, publicados pela Editora da UNICAMP. É doutor em história pela USP e professor na Universidade Federal Fluminense e pesquisador do CNPq. Consumiu cinco anos e meio na produção de Luís Carlos Prestes. Um revolucionário entre dois mundos, um lançamento de novembro de 2014, da Companhia das Letras.
A biografia de Prestes, escrita por Daniel Aarão Reis e duramente contestada por Anita Prestes.

Prestes teve uma longa vida de 90 anos (1889-1990) e destes, ao menos em 70, atuou como protagonista de nossa história, jamais sendo mero coadjuvante. Isso é mais do que suficiente para ser um personagem polêmico. Viveu em um período fortemente marcado pelas ideologias e embora sofrendo as influências do catolicismo e do positivismo, converteu-se ao credo marxista-leninista, sendo um de seus mais ardentes devotos. Consagrou sua vida à causa do comunismo. Como também este passou por profundas transformações, evidentemente, apareceriam profundas contradições.
Anita, filha de Prestes e Olga Benário. A menina foi resgatada da polícia nazista pelo trabalho incansável de Dona Leocádia, a mãe de Prestes. Isso pode ser lido em Olga, de Fernando Moraes.


Em seu primeiro exílio da URSS Prestes teve contato com Olga Benário e receberam a missão de promover a revolução proletária no Brasil. O seu projeto, que ficou conhecido como a Intentona Comunista de 1935, fracassou e os dois conheceram as agruras da polícia, especialmente, no período do Estado Novo. Olga Benário  foi deportada pelo regime de Vargas e entregue à polícia de Hitler. Lá seria executada. No processo de deportação Olga estava grávida de Anita, que foi tirada das garras do nazismo, graças ao trabalho incansável da mãe de Prestes, Dona Leocádia.

Anita teve formação em química industrial, mas logo se dedicou à história. A memória de seu pai teria que ser preservada. Foi dela a primeira grande reação ao lançamento, em novembro de 2014, pela Companhia das Letras, da biografia de seu pai, escrita por Daniel Aarão Reis, uma biografia que pretende ser "a principal referência sobre o "Velho", o mito e o homem", conforme se lê na orelha do livro. A crítica é pesadíssima. Desqualifica tanto o historiador, quanto a sua pessoa.
Luís Carlos Prestes, o "Velho". Uma longa jornada com muita determinação.


"Estamos diante de um livro escrito por um historiador, que poderia ser usado em sala de aula de um curso de história como modelo para os estudantes do que não deve ser um um trabalho de historiador". Assim Anita abre o texto de sua crítica. A seguir cita Hobsbawm sobre o que deveria ser a obra de um historiador. Fontes várias, checagem rigorosa de dados e o estabelecimento das conexões. Nada disso foi feito, afirma ela. Efetivamente o livro não segue a metodologia de uma tese de doutorado. As notas sobre as fontes estão ao final do livro, capítulo por capítulo, mas não tem a indicação das páginas. É um trabalho que sobra ao leitor, caso queira a precisão. Afirma categoricamente que a opção metodológica é "marcada pela incompetência e irresponsabilidade do pesquisador", sendo ele responsável por erros factuais e de informações falsas.
Prestes e a sua presença no mundo. Junto com Fidel Castro.

Assim haveria erros nas páginas 26, 347, 279 e 480. Aponta também questões de interpretação, em que o biógrafo atribui "posições centristas a Prestes". Ele sempre teria sido um revolucionário. Estas estariam nas páginas 330, 338, 358 e 437. Aponta ainda que existem erros nas legendas de várias das fotografias que ilustram o livro. O livro, critica ela, é um texto "eivado de fofocas, mexericos, intrigas e mentiras, em que se reproduzem as invencionices da viúva de Prestes" e de outros detratores. As relações de Anita com Maria, a esposa do segundo casamento, conforme o relato de Aarão Reis, nunca foram das melhores.
Anita é doutora em história pela UFF e professora na UFRJ.


Termina com mais acusações: "Trata-se de um livre anticomunista, cujo objetivo é a desqualificação de Prestes, de sua mãe, de suas irmãs e também de sua esposa Olga Benário Prestes. Não poderia também faltar a acusação de que o autor está a serviço da burguesia. Todas essas acusações estão disponíveis no Google.  Anita está preparando a sua versão da biografia de seu pai, a ser lançada em 2015, pela Boitempo. Entre a ortodoxia e a heterodoxia,  teremos o privilégio da pluralidade.

Daniel Aarão Reis comentou que iria rever os supostos erros e corrigi-los numa próxima edição, se fosse o caso. Também se queixou que não teve a colaboração de Anita na pesquisa de seu trabalho. Também senti a total ausência de Anita nos depoimentos do filme documentário O Velho - A história de Luiz Carlos Prestes.




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