O Velho. A história de Luiz Carlos Prestes é um filme documentário produzido em 1997, sob a direção de Toni Venturi e narração de Paulo José que retrata os mais de 90 anos vividos pelo "Velho", como era chamado, especialmente em seu círculo familiar. Os recursos de som e imagem são bem trabalhados e se constituem no ponto alto da obra. São mostradas fotos de personagens e de documentos junto com entrevistas de pessoas relevantes e ainda, de estudiosos de sua vida.
O DVD - O Velho - A história de Luiz Carlos Prestes. Um documentário de 1997.
O DVD - O Velho - A história de Luiz Carlos Prestes. Um documentário de 1997.
O documentário é dividido em seis partes: A inocência, a coragem, a esperança, a sombra, a maturidade e o resto dos anos. Na abertura são mostradas cenas da derrubada do muro de Berlim, em 1989, para logo em seguida mostrar cenas da Revolução Russa de 1917. A vida de Prestes foi profundamente marcada por esses fatos históricos. Eles direcionaram e redirecionaram todo o ideário de sua vida. Por sessenta anos estes fatos marcaram e dividiram a história do século XX. Havia dois grandes polos ideológicos, duas grandes formas de organizar a sociedade, que dividiram profundamente a humanidade, numa guerra ideológica sem precedentes.
A primeira parte do documentário se ocupa da Coluna Prestes.
A primeira parte do documentário se ocupa da Coluna Prestes.
Na primeira parte - a inocência - a Coluna recebe a maior atenção. Ela foi produto dos anos 1920 e foi uma reação imediata à eleição de Artur Bernardes, presidente insuportável aos quarteis. Ela começou em 1924 e terminou em 1927 com o grande feito de nunca ter sido derrotada. A Coluna chamou a atenção dos jovens tenentes, que dela participaram, para os graves problemas sociais existentes, especialmente o retrato da miséria no Brasil interiorano. Mostra ainda o seu encontro com a literatura marxista.
Na segunda parte - a coragem - já o encontramos na URSS (1931) trabalhando como engenheiro e se preparando para a revolução brasileira. Mostra a desconfiança dos soviéticos em relação a ele e, inclusive, se suspeita que Olga fora indicada para acompanhar os seus passos. A ação revolucionária se deflagra em 1935 com o episódio da Intentona Comunista, que foi um fracasso. Mostra que a organização do Partido Comunista do Brasil (PCB) se dava quase que exclusivamente dentro do exército e que ele obedecia às diretrizes traçadas pela Terceira Internacional. O episódio de 1935 serviu para isolar ainda mais os comunistas da população em geral.
Olga Benário, a mulher de Prestes era alemã de origem judaica. Foi entregue aos nazistas pelo governo Vargas.
Olga Benário, a mulher de Prestes era alemã de origem judaica. Foi entregue aos nazistas pelo governo Vargas.
Na terceira parte - a esperança - o foco recai essencialmente sobre o Estado Novo e o seu período posterior, marcado pela redemocratização, fato que dá origem ao título de "a esperança". Neste período o Partido vive na legalidade e elege deputados constituintes para 1946 e o próprio Prestes como senador, por São Paulo. A vida livre é breve. O Partido logo será decretado ilegal, os constituintes tem seus mandatos cassados e Prestes volta à clandestinidade. Um período bastante contraditório porque Prestes apoiara a permanência de Getúlio no poder em 1945, mesmo tendo sido preso e, Olga, a sua mulher ter sido entregue à polícia de Hitler. O mundo e o Brasil viviam a Guerra Fria.
Na quarta parte - a sombra - Prestes é mostrado como clandestino dentro de seu próprio partido. As contradições do regime soviético começavam a aflorar e houve o processo de depurações, que levavam todos a desconfiar de todos e ninguém confiar em ninguém. Prestes mantém o seu prestígio, por ser visto como a única pessoa capaz de manter a unidade do partido. Por isso ele era tolerado, mas já vivendo num grande isolamento. Era o fenômeno do stalinismo. Marca também o encontro com Maria Ribeiro, a sua segunda esposa, com quem teve sete filhos. Maria já tivera dois, numa relação anterior.
Na quinta parte - a maturidade - é mostrado o governo JK e os espíritos desarmados desse período. Mostra toda a impaciência dos quarteis, com os governos, Jânio e, especialmente, Jango Goulart. Mostra toda a passividade do Partidão, diante do dilema entre a luta armada e a resistência passiva. A maioria dos militantes optou pela luta armada e o partido se fragmentou. Ele volta para a URSS, com a liderança desgastada e contestada. Volta ao Brasil com a Anistia de 1979. Segundo Maria, a vivência na URSS foi o melhor período em suas vidas (1971-1979).
A última parte - o resto dos anos - é muito bonita e revela dados pouco conhecidos, como a relação com a sua numerosa prole, um fato nada comum na vida de um revolucionário. De maneira geral os depoimentos dos filhos vão na direção de uma relação filial fria e distante, de um pai ausente. Ele dividia a sua solidão com os seus livros. Com os netos já teve uma relação de absoluta dedicação e ternura. Se desliga do partido e ainda participa da reorganização sindical dos trabalhadores e das eleições presidenciais de 1989. 1990 será o ano de sua morte. Já era mais visto com os olhos da curiosidade do que da admiração.
"O Velho". Um documentário da longa vida de Prestes.
"O Velho". Um documentário da longa vida de Prestes.
A maior riqueza do documentário são as entrevistas em que foram colhidos os depoimentos. Merece destaque o próprio Prestes, presente ao longo de todo o documentário, de seus filhos, de Miguel Costa Jr., Fernando Moraes, Carlos Heitor Cony, Brizola, Fernando Gabeira, entre outros. Não existe nenhuma participação de Anita, a filha de Prestes com Olga Benário. Daniel Aarão Reis também se queixa da não participação de Anita na elaboração de seu livro. Olga está preparando a sua versão da vida do pai, em livro a ser lançado, ainda no primeiro semestre de 2015, pela Boitempo.
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