quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Luís Carlos Prestes. As influências na sua formação.

Sempre que leio uma biografia, um dos meus olhares se dirige para as influências que o biografado teve em sua formação, quais as matrizes ideológicas que o influenciaram, como foi a sua escola e, especialmente, as suas leituras. Se houve mudanças profundas em seu modo de ver o mundo procuro ver os caminhos alternativos que foram percorridos. Fiz isso agora com a bela biografia - Luís Carlos Prestes, um revolucionário entre dois mundos, de autoria de Daniel Aarão Reis.
Luís Carlos Prestes, um revolucionário entre dois mundos, entre duas ideologias.


Na vida de Prestes ocorreu esse fenômeno da grande guinada. Um é o Prestes que comandou a Coluna, outro será o Prestes que entrou em contato com a literatura marxista, quando tinha um pouco menos do que trinta anos. O primeiro capítulo da longa biografia, que consumiu cinco anos e meio de trabalho do pesquisador e historiador, é dedicado à formação do biografado. O capítulo recebe a denominação de Anos de formação.

As primeiras influências de Prestes lhe vem da família. De sua mãe vem o catolicismo junto com os seus valores. Uma presença constante e muito forte. De seu pai vem o gosto ou a necessidade de se dedicar a vida militar. Precisaria ganhar a vida, que nunca lhe foi fácil. Atrás da vida militar existia todo um conceito de formação com as marcas do positivismo. O positivismo lhe ficou entranhado, passando a sonhar com a condução de um povo para grandes transformações, conduzido por uma elite esclarecida. Sua formação militar se deu Rio de Janeiro, embora tivesse nascido em Porto Alegre. Formou-se engenheiro e sempre despontou como o melhor aluno de matemática da turma.
Dos tempos da Coluna lhe veio o contato com a realidade e a consciência das injustiças.

Essa formação o colocou no mundo da racionalidade, uma racionalidade mais técnica do que humana. Ele próprio, em autocrítica fala das deficiências em sua formação, no programa "Roda Viva" da TV Cultura. Veja o relato de Aarão Reis, na página 467 do livro: "A Coluna fora uma experiência decisiva: Abriu-me os olhos [...] éramos ignorantes, formados numa Escola Militar, nós não conhecíamos nem sociologia... Queríamos derrubar Artur Bernardes, mas as coisas eram bem mais complexas. Só obtivera respostas satisfatórias quando encontrara o marxismo-leninismo"

O contato com o marxismo se deu em Buenos Aires, onde se encontrava depois do fim da Coluna. Lá o Partido Comunista tinha existência legal e teve um encontro com Victório Codovilla, o seu Secretário Geral. Não foram muitos os contatos e era apenas considerado como "um pequeno burguês radical". Mas recebia e comprava livros nas boas livrarias da cidade, livros sobre marxismo e comunismo.Também recebia livros de escritores brasileiros: "Escritores enviavam livros autografados, como Oswald de Andrade, Plínio Salgado, Graça Aranha, Afonso Schmidt e Monteiro Lobato". Veja um depoimento seu sobre estes tempos:
A formação marxista, com os livros que lhe foram recomendados por dirigentes do Partido.

"Estudei marxismo. Convenci-me que o caminho era o indicado pelo Partido Comunista Argentino e pelos comunistas brasileiros. [...] Li O Capital, de Marx e de Engels, Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã.; A origem da família, da propriedade privada e do Estado e Do socialismo utópico ao socialismo científico". E dá mais uma importante informação: "No entanto, frisou, o mais decisivo de todos fora O Estado e a Revolução, de Lenin. E mais outra importante informação de que estas leituras se assentaram sobre a racionalidade adquirida na Escola militar: "O pensamento lógico e a base materialista adquiridos nos estudos de ciências naturais na Escola Militar, facilitaram a apreensão dos postulados marxistas". Pág. 122. Tinha estudado numa escola de qualidade.
Mais títulos lidos em sua formação marxista. Textos de Engels.

Um outro depoimento importante se encontra na página 144. Nele ele destaca a importância da formação teórica: "Tive que travar tremendas lutas comigo mesmo, na medida em que me convencia do que havia de falso e ilusório no mundo de preconceitos que haviam sido metodicamente arrumados na minha cabeça. Foi a especulação teórica, em busca de solução de um problema político, que me levou ao marxismo. Não nasci marxista, muito ao contrário, não foi sem vencer as maiores resistências do meu próprio eu que consegui assimilá-lo. Para ser honesto comigo mesmo, não podia deixar de tomar o caminho revolucionário. Era preciso entregar-me por inteiro à causa da luta pela transformação radical da situação do povo brasileiro".
Prestes, uma história em defesa de uma ideologia. Para isso precisou de muita formação teórica.

Em Moscou, Prestes se trancava no escritório, quase o dia inteiro, "lia muito, sempre fora um leitor compulsivo, devorador de livros de suas disciplinas preferidas: história, política, economia, filosofia" Pág. 353. Essas são as disciplinas essencialmente formadoras e que por isso mesmo sempre são o alvo preferido dos direitistas que querem uma Escola Sem Partido - sem política, mentes dóceis. Acho que está cumprida a tarefa. Já percorremos os caminhos da formação de um dos maiores visionários que Brasil já conheceu.

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