quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A Guerra de Canudos. Os Sertões. Euclides da Cunha.

Quem teria a coragem de filmar Os sertões? Quem se atreveria a levar às telas as cenas de horror, terror e pavor contra as pobres gentes do sertão?  Ainda bem que existe gente ousada e atrevida para tanto. Sérgio Rezende é o autor desta façanha. É ele o diretor e o roteirista do filme. Com muita imaginação fez um trabalho brilhante e ao mesmo tempo atraente. Pôs drama e paixão na narrativa histórica e, creio que poderíamos dizer, científica de Euclides da Cunha. O resultado não poderia ter ficado mulher.
Os Sertões foi levado ao cinema pelo diretor e roteirista Sérgio Rezende, em 1997.

Sérgio Rezende tomou dois dos últimos sobreviventes da narrativa, uma mulher que fora degolada, por sua resistência provocativa e um dos quatro últimos sobreviventes e criou em torno deles uma família e lhe imaginou filhos. Os personagens são Zé Lucena e Penha, marido e mulher e a filha Luíza, inexistente no livro, que não acompanhou a família nas suas desventuras pelo sertão como revoltosos de Antônio Conselheiro. Na guerra de Canudos Luíza enfrenta a sua própria família.

A família de Zé Lucena é usada pelo roteirista e diretor como uma família do abandonado sertão nordestino. É atormentada pela seca e oprimida pelo latifúndio. Para a sobrevivência imediata vende, por ninharia, os meios da sobrevivência futura. A República, recém instalada, lhe sequestra o que sobrara. Numa cena simples está retratado o quadro social do nordeste do final do século XIX, tão vivamente descrito na obra de Euclides da Cunha. Não restando caminhos, sobra a utopia de Conselheiro, mais um beato do sertão. Oração, disciplina, pregação e profecias são os elementos aglutinadores. Zé Lucena segue o Conselheiro.
Com imaginação rara e criatividade Os Sertões foi levado ao cinema. Um drama foi criado.

Luíza, a filha mais velha do casal, empreende um caminho solitário, em franca rebeldia contra o pai. O caminho de sua sobrevivência está na prostituição. Um futuro soldado lhe oferece família. Está assim posicionada contra a sua própria família nesta atroz guerra. Os filhos mais novos acompanham Zé Lucena e Penha.
O filme volta-se então para Antônio Conselheiro e a pequena multidão que se forma em seu torno e para o início do conflito, na compra de material para a construção da igreja de Canudos, na cidade de Juazeiro e que, no entanto, não fora entregue. Os revoltosos foram buscar a encomenda na marra e assim se inicia a contenda, à qual ninguém conferia importância. Seria uma pequena refrega. Aí é que estava o engano. As primeiras expedições foram confiadas à polícia baiana e a partir da expedição Moreira César, a terceira, as coisas ganham a sua configuração alarmante. Vem aí a quarta expedição, sobre a qual o filme se volta inteiramente.  A viva descrição de Euclides da Cunha, das vinganças atrozes que foram cometidas, ganham imagens impressionantes.
Cena do filme. Antônio Conselheiro e o seu exército rebelado.

Quando toda a violência seria desnecessária, pois para vencer bastava dar tempo ao tempo, bastaria manter as posições, aí é que a violência se intensifica e ocorre o verdadeiro massacre. Quando sobram apenas uns 500 miseráveis casebres, a tapera babilônica é dinamitada. Existe uma cena de meia rendição, em que são entregues as mulheres, as crianças, os doentes e os feridos. Aí é que aparece a resistência de Penha e a sua degola. Zé Lucena aparece logo em seguida como um dos quatro sobreviventes a serem exterminados. O cadáver de Conselheiro é encontrado e ele será decapitado e a sua cabeça será levada como troféu. O extermínio fora completo numa grande vitória da República, contra um exército de famintos e esfarrapados. Luíza, em meio as batalhas finais consegue resgatar a pequena irmãzinha.

Sim, é muito importante dizer. No filme aparece um jornalista, que em meio às tropas do exército, faz a cobertura da guerra. O jornalista é extremamente sensível e condena a violência desproporcional usada contra os quase indefesos revoltosos. Os seus boletins são censurados e acaba sendo expulso da expedição. Creio que todos imaginam quem seria o jornalista que acompanhou a expedição. E... um grande viva à liberdade de imprensa, que mesmo sob a censura, não permitiu que os horrores desta guerra passassem despercebidos de nossa história.
A igreja nova era também a grande fortaleza da cidadela, a tapera babilônica.


O filme tem como diretor e roteirista Sérgio Rezende. Antônio Conselheiro é interpretado por José Wilker. Paulo Betti é Zé Lucena e Marieta Severo interpreta Penha. O papel de Luíza ficou para a bela Cláudia Abreu. Sobrou para José de Abreu interpretar o sanguinário general Arthur Oscar de Andrade. A música recebe a assinatura de Edu Lobo. O filme é relativamente longo, com a duração de 2 horas e 49 minutos.


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