sábado, 13 de fevereiro de 2016

Viajando pelas terras missioneiras. Paraguai - Argentina e Brasil.

Num belo dia estávamos em um churrasco numa chácara em Campo Magro. Comentei com o meu amigo Valdemar Reinert que eu iria visitar a cidade de Diamantina, em Minas Gerais. Verificamos o voo e fomos juntos. Em Diamantina combinamos a próxima viagem - que seria para as terras missioneiras da América do Sul, onde se encontram sete patrimônios culturais da humanidade. Dois no Paraguai, quatro na Argentina e um no Rio Grande do Sul. Farei abordagens em posts separados. As missões ou as reduções foram um dos projetos mais utópicos de toda a história da humanidade. Uma utopia religiosa e socialista.
Este mapa dá uma boa ideia sobre a localização geográfica dos trinta povos das missões.

Chegou o tempo da partida. À nossa comitiva se somou o Adilson, cunhado do Valdemar, que mora em Florianópolis. O esperamos no modesto aeroporto da progressista cidade de Chapecó. Aí ficamos num dilema sobre o caminho a percorrer. Se entraríamos na Argentina por Santa Catarina, ou pelo Rio Grande do Sul. Optamos para fazer a travessia por Dionísio Cerqueira, em terras catarinenses. Mas para quem sai de Curitiba, a melhor opção é fazer o cruzamento pela cidade de Barracão. A ruta 12 leva para Posadas.

Em São Miguel do Oeste, ao pararmos num bar, para um pequeno lanche e informações mais precisas, ocorre a primeira peripécia da viagem. Foi o primeiro contato com um missionário de uma outra causa, que não era a jesuítica. Era um missionário da causa separatista, O Sul é o meu País. Como a recepção não foi positiva, o assunto puxado foi a ditadura militar, com loas para o general Geisel. Como o assunto também não empolgou, houve uma guinada à esquerda. Brizola e o MST foram a sua nova tentativa. A Encruzilhada Natalino foi dada como a origem do MST.. Outros temas se seguiram mas precisávamos partir. E o homem queria conversar. Propôs até um churrasquinho.
Adilson, Valdemar e eu em Trinidad, a mais conservada das reduções.

O serviço de imigração é tranquilo. Carteira de identidade ou passaporte são necessários. A carteira de identidade deve ser nova, aquela que tem fotografia colorida. O cartão verde de seguros pode ser adquirido com facilidade. O carro precisa de dois triângulos de sinalização. Não fomos parados nenhuma única vez, nem na Argentina, nem no Paraguai. A paisagem é belíssima. Creio que devemos ter passado por reservas florestais. Chegando a Posadas optamos por seguir direto a Encarnación, já no Paraguai e, acertamos em cheio. Uma moderna ponte separa, ou une, as duas cidades. Boas refeições, ótima acolhida e, acima de tudo, uma educação refinada de seu povo. Aí visitamos dois Patrimônios da Humanidade: Santíssima Trinidad e Jesus de Tavarangue.  Ficam a uns 30 quilômetros da cidade. Mais distante está Sán Cosme e Damian, que não visitamos. Ao todo eram oito as reduções jesuíticas no Paraguai.
A igreja e o colégio. É o que sobrou na redução de Jesus de Tavarangüe.

De noite voltamos a Trinidad para o show de som e de luz, um espetáculo imperdível. E, ainda em Encarnación, fomos ao sambódromo da cidade, pois, ali se realiza o mais tradicional dos carnavais do Paraguai, que tem raízes plantados nos idos de 1916. Depois de novamente atravessar a ponte, que leva o nome do padre Roque Gonzales, um dos três mártires rio-grandenses, dos quais eu ouvi falar muito na minha infância passada em Harmonia, damos uma passada no centro de Posadas, a capital da província de Missiones. Ao atravessarmos a ponte deparamos com uma enorme fila de argentinos em busca da Costanera, uma rua litorânea de 27 quilômetros, em Encarnacion, nas margens do rio Paraná. É o maior balneário do Paraguai. Seguramente um investimento com retorno garantido. São 27 quilômetros de aterros. As praias se tornaram possíveis com a construção da hidroelétrica binacional de Yacyretá.

As missões na Argentina eram em número de quinze. Quatro são Patrimônio da Humanidade. A de Sán Ignacio Miní, a de Nuestra Señora de Loreto e as de Santa Ana e Santa Maria La Mayor. Visitamos a de Sán Ignacio e a de Nuestra Señora de Loreto. Fomos surpreendidos por uma forte chuva, que muito prejudicou a nossa visita. Uma observação importante. Essas missões estão a uns setenta quilômetros de distância de Posadas. Elas se situam na Ruta 12. Pelo meio da tarde voltamos ao Brasil. Buscamos a ruta 14, no rumo de São Borja, a cidade brasileira de dois presidentes. São Borja está a apenas 164 quilômetros de distância de Posadas.
Adilson e o guia em Nuestra Señora de Loreto. A preservação florestal é prioridade. As ruínas estão devidamente protegidas.

Em São Borja, ainda no mesmo dia, visitamos o porto, onde estava sendo preparada a noite de carnaval. Um lembrete. Para sair da Argentina, na cidade de San Tomé, paga-se um pedágio de cinquenta e quatro reais. Portanto, não dá para ficar passeando de ida e volta entre Sán Tomé e São Borja. A travessia é feita por ponte sobre o rio Uruguai. Reservamos o domingo para a visita aos museus das casas dos dois presidentes. Elas estão muito próximas e se situam na mesma rua. Apesar de terem plantões anunciados, com números de telefone e nomes de pessoas a serem chamadas, ninguém atendeu. Assim, em domingo de carnaval, não conseguimos fazer a visita. Visitamos ainda a igreja da cidade e, em frente a ela, o mausoléu do presidente Vargas, onde também estão os seus restos mortais. A visita ainda se estendeu ao cemitério, onde se encontram os túmulos das famílias de Vargas e de Jango Goulart. No túmulo da família de Jango também está enterrado o governador Leonel de Moura Brizola, que era casado com Neusa, a irmã do presidente.
Ruínas de São Miguel, a última etapa da viagem missioneira.


De São Borja fomos direto a outro Patrimônio da Humanidade, as ruínas de São Miguel. Percebe-se que é a mais visitada de todas e a que tem melhor infraestrutura turística, com museu e artesanatos e, pasmem..., livros temáticos à venda, inclusive o clássico A Conquista espiritual, do padre Antônio Ruiz de Montoya.  Ainda entramos no centro de Santo Ângelo para ver a sua bela catedral e fomos direto para a parte final da viagem, para dois dias de descanso nas águas termais de Piratuba, que é uma destas muitas maravilhas que deram certo, por esse Brasil afora.
A bela catedral missioneira de Santo Ângelo


Em Florianópolis deixamos o nosso bom companheiro de viagem e voltamos a Curitiba. Percorremos 3.020 quilômetros e na bagagem trouxemos muita história, muita cultura e, na lembrança, as muitas conversas com pessoas que encontramos ao longo da trajetória e, na memória, fica a imagem de grandeza dos povos guaranis e os insondáveis mistérios das utopias socialistas dos padres jesuítas. Lamentamos não termos ouvido nenhum chamamé ao vivo, a mais típica das músicas missioneiras. Em compensação trouxe uma Seiva Missioneira, produzida nas terras onde ocorreu a maior batalha da guerra guaranítica, a de Caibaté.

4 comentários:

  1. Boa noite Pedro Eloi
    Foi uma dAs melhores viagens, e como você disse com sede de saber, de bons momentos como aquele em Trinidad e aquela Guia do local que muito nos impressionou pela sua dedicação demonstrando sua fiel ascendência missioneira. Ainda teremos muitos assuntos ( deixei muitas fotos com Valdemar ).
    Abs. Adilson

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  2. Oi Adilson. Eu digo o mesmo sobre esta viagem, uma das melhores que eu já fiz. Além da riqueza histórica e cultural,as boas companhias. Tenho lido bastante sobre o tema e parece que eu entendo cada vez menos o que aconteceu. Como pode ter havido um experimento desses, que Umberto Eco qualificou como um "santo experimento", logo a partir dos jesuítas, verdadeiros guerreiros da contra reforma. Grande abraço e até breve.

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  3. Amigo Pedro, estarei no roteiro no próximo feriadão de setembro. Teu post me ajudou e muito na definição do roteiro. Trocaremos impressões na volta. Se tiver alguma dica a mais ficarei feliz em recebê-la. Abraço!!!

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  4. Oi Sérgio. Muita história e cultura e uma grande utopia. Até Umberto Eco se encantou, chamando o papa Francisco de um jesuíta paraguaio, isto é um missioneiro. Recomendo,na missão de Trinidad a guia Romina, uma estudante entusiasmada com a causa e na cidade de Encarnación fomos muito bem atendidos no Hotel Arthur. Abraço e boa viagem e até a volta.

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