O livro com a longa entrevista de Lula, na qual "ele mais se desnuda", segundo a expressão de Ivana Jinkings, uma das entrevistadoras, tem também uma preciosidade em seu prólogo. Trata-se de um texto escrito por Luis Fernando Veríssimo, Controle de Natalidade, no qual ele afirma existir no Brasil um controle sobre a esquerda, a fim de impedi-la de nascer e de crescer, para que ela não possa estabelecer políticas públicas que gerem, ao menos um pouco de igualdade.
O maravilhoso livro que contém a entrevista com o Lula e o texto do Veríssimo.
O maravilhoso livro que contém a entrevista com o Lula e o texto do Veríssimo.
O livro com a entrevista tem por título A verdade vencerá - O povo sabe por que me condenam. Além de Ivana Jinkings, da editora Boitempo, participaram da entrevista Juca Kfouri, Maria Inês Nassif e Gilberto Maringoni. O livro é como que um diário da crise do segundo governo da presidente Dilma e da complementação posterior do golpe, com a condenação e prisão de Lula, visando o impedimento de sua participação no pleito eleitoral de 2018, como candidato à presidência da República. Um importante documento para a história.
Mas neste post quero me ater ao prólogo. Ele contém apenas três parágrafos. Elogiar Luis Fernando Veríssimo é como elogiar a perfeição em si. Mas sempre é necessário expressar. Não basta admirar, tem que dizer. A crônica é perfeita. No primeiro parágrafo ele evoca o Brasil como o país mais desigual do mundo e que este fenômeno tem origem numa longa construção histórica. Vou reproduzir o parágrafo na íntegra:
"Não se constroi o país mais desigual do mundo em pouco tempo. Foi um longo processo, que começou com o primeiro nativo sendo espoliado pelo primeiro português, na nossa cena inaugural, e continua até hoje - mais de quinhentos anos de submissão de uma maioria a castas dominantes e fechadas, primeiro a dos nossos colonizadores, depois a de uma oligarquia nacional empenhada em se manter fechada e dominante."
O segundo parágrafo é o central e se refere ao controle de natalidade, expresso no título, do impedimento do nascer de um projeto alternativo que possa reverter este quadro de desigualdade. Vejamos:
"As histórias oficiais política e econômica do Brasil nem sempre reconhecem esse empenho deliberado de proteger privilégio e poder do patriciado brasileiro, preferindo atribuir nossa tragédia social a alguma espécie de danação, culpa do nosso caráter, ou mesmo do legado daqueles nossos 'descobridores' portugueses, quando não ao tamanho do nosso território ou ao nosso clima. Mas a desigualdade brasileira não é uma fatalidade, tem autores identificáveis, pais conhecidos. Através da história, ela vem sendo mantida, principalmente, pelo que pode ser chamado de controle de natalidade de qualquer opção de esquerda, proibida de nascer ou se criar. Até onde a casta dominante está disposta a ir para evitar que a esquerda prolifere, nós já vimos. Os gritos de dor dos torturados pela ditadura de 1964 ainda ecoam em porões abandonados. E 1964 é apenas um exemplo do que tem sido uma constante histórica."
O parágrafo final é dedicado aos governos do PT e às políticas públicas praticadas e que resultaram em distribuição de renda e a consequente diminuição da desigualdade. Daí o feroz combate da volta do PT ao governo. Na frase conclusiva, uma volta ao título. Vejamos:
"Até hoje se discute se o governo de Getúlio Vargas foi 'progressista' por convicção ou por conveniência política. De qualquer maneira, foi uma das poucas vezes, antes dos anos petistas, em que 'as esquerdas' brasileiras estiveram nas cercanias do poder, mesmo fazendo concessões para não ser abortadas. O primeiro governo do Partido dos Trabalhadores mostrou que era possível fazer política social consequente sem ter que ceder a tentações ditatoriais, como as que acometeram Vargas. Houve distribuição de renda - e começou-se a diminuir a desigualdade no país. Daí a reação feroz da casta dominante à perspectiva da volta do PT ao poder, de que trata este livro. O patriciado, em eterna vigilância contra o nascimento de uma esquerda viável, deu-se conta da sua distração e agora se apressa em corrigi-la - até com o repetido sacrifício de convenções jurídicas e cuidados éticos."
Sempre grande o nosso cronista. O livro todo é uma afirmação perante a história. Um documento necessário. E, toda uma luta, para abortar este absurdo controle de natalidade sobre as esquerdas brasileiras.
Sempre grande o nosso cronista. O livro todo é uma afirmação perante a história. Um documento necessário. E, toda uma luta, para abortar este absurdo controle de natalidade sobre as esquerdas brasileiras.
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