sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Dois tipos de ladrão. Voltaire. Não permita ser assaltado.

Nunca imaginei viver uma situação igual a essa que estamos vivendo. O anti intelectualismo é algo explícito e a ignorância é tida como virtude e até condição para ocupar cargos públicos. Perigosamente caminhamos para um obscurantismo, para um fundamentalismo evangélico neo pentecostal, da teologia da prosperidade, em nossa política. O que parece ser piada bem humorada é uma triste realidade. Em tempos de crise, monstros emergem de todos os tipos de cavernas. Nesses tempos também aparecem textos interessantes, sejam eles verdadeiros, ou não. Se inventados, são muito bem inventados.

Voltaire (1694 - 1778) e dois tipos de ladrão.

Dessa forma, deparei, primeiro, com um áudio, que falava de dois tipos de ladrão. O texto declamado era atribuído a Voltaire (1694-1778), o grande pensador do iluminismo filosófico e político francês e que figura entre os heróis no Panteon em Paris. Depois vi inúmeros textos no Google, comentando e dissertando a respeito. Ao filósofo é atribuído uma descrição sobre a existência de dois tipos de ladrão. Eis a descrição:


1 - O ladrão comum. É aquele que rouba o seu dinheiro, sua carteira, relógio, telefone, etc.

2. O ladrão político. É aquele que rouba o seu futuro, seus sonhos, seu conhecimento, seu salário, sua educação, sua saúde, sua força, seu sorriso, etc".

Depois de estabelecer essa diferença nos alerta para uma grande diferenças entre esses dois tipos. Fazer essa distinção é extremamente importante para identificar qual deles é o mais nocivo e qual pode ser evitado. É fácil diferenciar. Vejamos o texto:

"Uma grande diferença entre estes dois tipos de ladrões, é que o ladrão comum escolhe-o para roubar os seus bens enquanto o ladrão político é você que o escolhe para ele o roubar.

E a outra grande diferença, não menos importante, é que o ladrão comum é procurado pela polícia enquanto o ladrão político é geralmente protegido por um comboio policial".

Procurei pela veracidade da frase. Encontrei até o ano em que Voltaire a teria dito, o ano de 1742, mas não encontrei a fonte, o livro e o contexto. Ela me pareceu um tanto moderna demais. Uma acentuada diferença de épocas, de hábitos, como o do telefone, por exemplo. Pelo que consta, este teria sido inventado apenas em 1876. Mas como dizem os italianos: Se non è vero, è ben trovato.

No dia 4 de dezembro de 2019, os deputados estaduais do Paraná, votaram uma reforma da previdência extremamente nociva aos servidores públicos do Estado do Paraná. Mais idade e maiores descontos. Trabalhar mais e receber menos. A sessão em que ela foi votada foi transferida da Assembléia Legislativa para um labiríntico espaço privado ou privatizado, com um efetivo policial de mais de 800 policiais, multiplicado por dois, com a dobra de turno, ou como diz o texto, "por um comboio policial".

Não sei dizer de qual desses dois tipos de ladrão é mais fácil se livrar, uma vez que, no segundo tipo, são os assaltados que escolhem os seus ladrões. E como os escolhem! Com quanto gosto! Com quanto ódio e fanatismo! E eles são mais perigosos do que os ladrões ocasionais que te roubam os pertences em alguma ou outra oportunidade. Já os outros te fazem estragos permanentes, para o resto da vida, perpassando por toda a velhice. Te roubam "futuro, sonhos, conhecimento, salário, educação, saúde, força e sorriso".

E uma última observação. Para não incorrer em erro na hora de votar, o critério de um voto de classe é uma opção com poucas probabilidades de erro. Eu mesmo, na qualidade de trabalhador, só voto em trabalhador, identificado com um partido ligado a trabalhadores. Por esse critério, nunca me senti assaltado por aqueles em quem votei. Confira nessa relação se você votou, ou não, no ladrão que acabou de te assaltar:
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2019/12/quem-mexeu-na-sua-previdencia-no-estado.html















2 comentários:

  1. Pedro, obrigado por seu comentário ... Gostei muito da resposta de Lourival Sant'Anna no Jornal O Estadão publicado em 19 de dezembro de 2019 | 10h25 intitulado de "Os ladrões de Voltaire" que vou publicar na íntegra:

    "Circulam na internet textos e vídeos que atribuem ao filósofo francês Voltaire (1694 –1778) a distinção entre dois tipos de ladrões: o comum, que rouba os bens materiais, e o político, que rouba os sonhos e o futuro. É um pouco difícil que o texto seja mesmo de Voltaire. Não só porque cita “automóveis” entre os bens materiais. Isso poderia ser uma adaptação. Mas porque Voltaire viveu sob a França absolutista, onde não havia eleições. Seus embates – ele foi duas vezes preso e acabou exilado na Inglaterra, na Prússia e na Suíça – eram com o regente Felipe II e o rei Luís XV, não com políticos eleitos. Fiz uma busca no Google com as palavras “Voltaire”, “voleurs” (ladrões) e “politiques” e não veio nenhum resultado.

    A indignação com os políticos brasileiros é justificável e saudável. A qualidade da maioria deles está abaixo da crítica. Precisamos de uma reforma no sistema partidário e eleitoral. O atual sistema atrai desonestos – tanto no sentido intelectual quanto material – e afugenta os honestos. Para que essa reforma aconteça, os políticos precisarão ter certeza de que não se reelegerão, se a continuarem bloqueando – ao contrário do que sentem hoje. E isso cabe a nós, eleitores.

    Todo esse raciocínio tem como premissa que a democracia é o melhor regime, e precisa ser aperfeiçoada. O que me preocupa é que textos e vídeos como esses sejam usados numa campanha sub-reptícia para justificar a ditadura. O fato de usarem falsamente o nome de Voltaire, que sacrificou sua vida pela defesa da verdade (embora ele também tenha sido acusado de misógino, homofóbico, antissemita e anti-islâmico), só reforça essa preocupação. Nas ditaduras, a corrupção não é investigada. Nem a mentira. Elas se tornam um direito natural de quem está no poder. Pergunte a Voltaire."

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    1. Professor Anderson, maravilhoso o seu comentário, que é um adendo ao post. Te agradeço muito por isso. Muito oportuna a publicação e ela fica aqui registrada. Perspicaz a observação de Lourival Sant'Anna, do Estadão.

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