Em 2011 eu ainda dava aulas na universidade. Assim eu não lia todos os livros que eu comprava. Lembro que as livrarias Curitiba faziam grandes promoções de queima de estoque, livros encalhados, certamente. Eu comprava por dois critérios, por autor ou por editora. O livro A morte de Rimbaud atendia a estes dois critérios: um bom autor, Leandro Konder e, uma grande editora, a Companhia das Letras. Também um terceiro quesito me chamou a atenção. Rimbaud, o escritor francês. Somente agora eu fiz a leitura.
A morte de Rimbaud. Leandro Konder. Companhia das Letras. 2000.
Não tenho grande experiência em fazer resenhas de romances policiais e o livro é do gênero. Não quero dar pistas que possam retirar a curiosidade ao leitor. Então tomo, da contracapa do livro, o seu enredo: "Um milionário apaixonado por literatura francesa resolve sustentar cinco escritores que julga muito talentosos. Passa a chamá-los pelo nome de grandes autores franceses: Rimbaud, Aragon, Rousseau, Malraux e Claudel. Oferece-lhes uma polpuda verba mensal e despacha-os anualmente para férias na França. Rimbaud é encontrado morto. Pode ter sido acidente - ou não". O local do acidente é o Grande Hotel Combray. Bem interessante.
Depois de um pequeno problema em identificar o narrador, a leitura fluiu, como deve fluir um romance policial. Nele notei muito humor, ironia e, com certeza, um fundo moral, motivado pelo financiamento do milionário e a improdutividade dos escritores. O cenário, como os nomes poderiam sugerir, não é a França, mas sim, fictícias cidades brasileiras. Todos os personagens são brasileiros, embora os seus nomes não induzam a isso.
Os cinco escritores são: Cláudio Nicodemo da Silva, o Claudel, Mauro Teodoro dos Santos Oliveira, o Maurô, ou Malraux, José Tibúrcio Gonçalves Aragão, o Aragon, João Carlos Suslov, apelidado de russo, pelo sobrenome, passou a ser chamado de Rousseau e Severino Cavalcante, que na academia de musculação era chamado de Rambo, que se transformou em Rimbaud. O mecenas atende por Bergotte. e o personagem central do romance é Sdruws, um detetive e guarda-costas do milionário mecenas dos escritores. Outro personagem com papel de protagonista é Saint-Ex (Saint-Exupéry), o gerente do hotel onde se dão os acontecimentos. Outros personagens também são envolvidos. Um romance policial sempre precisa de pistas e despistes. É óbvio que um delegado de polícia também é personagem.
Os escritores, embora os grandes apelidos, são absolutamente grotescos e perversos e são totalmente desprovidos de qualquer criatividade. Os quatro sobreviventes são suspeitos do crime. Se odiavam reciprocamente o suficiente para provocarem tais suspeitas. Também o próprio investigador, Sdruws dá motivos para ser suspeito. Como bons componentes de romance policial também não faltam cenas de traição, de desconfianças, de ciúmes, de desavenças e de relações sexuais com alto teor de perversão. Até traficantes frequentam as páginas do romance.
O livro tem também uma curiosidade interessante, que só poderia estar presente no livro pela enorme erudição de seu autor. Todos os capítulos são antecedidos por frases em epígrafe e que se relacionam com o teor do capítulo. No capítulos final tem uma epígrafe de cada um dos escritores famosos. O livro todo tem uma epígrafe de Marx, a grande especialidade do autor, que é professor de filosofia. Eis a epígrafe: "Perseu precisava de um capacete para perseguir os monstros. Nós, puxando o capacete para baixo, cobrimos os olhos e os ouvidos, para podermos negar a existência dos monstros". A frase está escrita também no original, em alemão. Leandro Konder foi exilado na Alemanha, como vítima da ditadura militar brasileira de 1964.
Sobre o romance lemos na orelha da capa: "Sem a sua experiência de leitor, ele com certeza não teria escrito um livro que se enquadra com tanta exatidão no gênero policial. Aqui existe, por exemplo, uma morte, que pode ter sido acidente ou assassinato; uma ilustre coleção de suspeitos; um conjunto variado de motivações para o crime e de oportunidades para cometê-lo; pequenas tramas paralelas que são puro diversionismo; uma série de detalhes aparentemente gratuitos e que no entanto se revelam determinantes para o desenrolar da ação; um detetive paciente, pertinaz e autoconfiante, desses que são capazes de se fazerem de bobos apenas para soltar a língua de um suspeito".
O livro integra um projeto da Companhia das Letras, envolvendo a morte de grandes escritores. Rimbaud foi um escritor bastante controvertido e toda a sua literatura foi produzida antes dos vinte anos. Deixo o link de Uma temporada no inferno. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2019/01/uma-temporada-no-inferno-e.html. Ao final do livro também encontramos notas bibliográficas dos escritores franceses envolvidos.
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