domingo, 25 de abril de 2021

O mestre de esgrima. Arturo Pérez-Reverte.

Mais um livro comprado em promoção e não lido logo após a compra. O comprei no ano de 2011 e, como já contei em outro post, nas promoções eu comprava, ou pelo autor, pelo tema, ou pela editora. Este - O mestre de esgrima, de Arturo Pérez-Reverte, certamente foi em função da editora, a Companhia das Letras. Do autor, nunca tinha ouvido falar e nunca me detive sobre o tema da esgrima, nem como arma e nem como esporte. 

O professor de esgrima. Arturo Pérez-Reverte. Companhia das Letras. 2003. 

Não me decepcionei com a leitura. O tema é muito interessante. A disciplina exigida para a prática da esgrima é algo impressionante. Era uma arma da nobreza e exigia total disciplina, concentração e o cumprimento de todo um ritual, até mesmo para eliminar o adversário. Atrás da esgrima havia um rigoroso código de postura e de ética. Quanto ao autor, fiquei surpreso. Ele é lido em mais de vinte países. O livro pode ser enquadrado como um romance policial e histórico e, sob certo aspecto, até romântico amoroso.

O ano dos acontecimentos é o ano de 1868 e o país é a Espanha e a sua monarquia. Isabel II era a rainha, no poder desde 1830. O tema do livro são as insurreições deste ano que a derrubam do poder, mas não derrubaram a monarquia. Essas intrigas são parte integrante do romance, do qual, no entanto, o professor dom Jaime Astarloa, mestre pela Academia de Esgrima de Paris é o protagonista. Os personagens coadjuvantes, às quais o leitor deverá prestar atenção, são Dom Luis de Ayala, o marquês de Alumbres, amigo e aluno do mestre dom Jaime, a bela Adela de Otero, uma mulher estranha que entra na história também como aluna de dom Jaime e o amigo jornalista Agapito Cárceles. 

O romance, desenvolvido ao longo de oito capítulos e 271 páginas, se ocupa da descrição da esgrima e os lamentos do professor, no que diz respeito às armas de fogo e a consequente decadência dessa arte de defesa e ataque em duelos, especialmente, em defesa da honra. Essa decadência também afetava a demanda por alunos, cada dia mais escassos. Contra os princípios de Dom Jaime ele admite Adela de Otero como sua aluna, por quem se apaixona perdidamente. Sempre, no entanto, soube manter a compostura. Já era um senhor de certa idade. Bem, o resto é a trama do enredo, começando a parte policial. A leitura é extremamente agradável e fluente. É daqueles livros que você não quer parar de ler.

Para dar o tom do romance transcrevo um parágrafo em torno da ética e valores da esgrima e sobre a decadência desses mesmos valores, em que Adela de Otero cobra do mestre os ganhos do seu, digamos, estoicismo: "De todos os personagens deste drama, senhor Astarloa, foi o senhor o mais crédulo, o mais querido e o mais digno de dó. - As palavras pareciam gotejar lentamente no silêncio. - Todo mundo, os vivos e os mortos, mandou a consciência às favas. E o senhor, como nas comédias ordinárias, com sua ética ultrapassada e suas tentações vencidas, interpretando o papel de marido enganado, o último a saber. Olhe para o senhor, se for capaz. Pegue um espelho e me diga onde foi parar agora todo o seu orgulho, toda a sua segurança, sua fátua auto complacência. Quem diabo o senhor achava que era? Bem, tudo foi muito enternecedor, está certo. Se desejar, pode se aplaudir mais uma vez, a última, porque já é hora de baixar o pano. O senhor precisa descansar". p. 264. Foi para humilhar!

Deixo a orelha do livro para aguçar a sua curiosidade para a leitura: "Dom Jaime de Astarloa, um homem habituado aos usos da tradição, a honra é mais importante que o sucesso ou o poder político. O sexagenário professor de esgrima permanece fiel aos valores de toda uma vida: a lealdade é um princípio natural e a nobreza significa mais do que títulos adquiridos em ocasião propícia.

Nas ruas de Madri, porém, a agitação crescente - ouvem-se rumores sobre tropas revolucionárias que planejam deixar o exílio e derrubar a casa real dos Bourbon. A esperança republicana toma corpo, mas dom Jaime não se deixa levar pela instabilidade.  Apesar das transformações em curso, tudo é ordem e têmpera para o mestre de esgrima.

O mecanismo de relógio que rege a pacata existência do professor, entretanto, está prestes a ser desregulado.  A misteriosa e sedutora Adela de Otero, de pele acobreada e olhos cor de violeta, acrescenta vertigem à vida do experiente mestre e convence dom Jaime a lhe ensinar os segredos de um golpe fatal, conhecido como a mortífera 'estocada de duzentos escudos'.

À súbita paixão vêm se somar os percalços das intrigas políticas, que chegam aos ouvidos de dom Jaime pelas confissões de um de seus alunos, dom Luis de Ayala, o influente marquês  do los Alumbres. A dom Jaime somente, graças à lealdade do professor, o marquês confia segredos de alcova e documentos lacrados, bem como suas mais secretas opiniões sobre o poder.

Uma investigação policial termina por lançar o mestre de esgrima definitivamente no centro das convulsões políticas e sociais. A perícia de esgrimista terá então de conduzir seus movimentos, e qualquer hesitação poderá custar-lhe a vida. Como afirma o próprio mestre nesta inquietante parábola, 'em esgrima, o simples, é inspiração; o complexo é técnica'. Este parece ser também o norte do estilo do autor: um mínimo de retórica para um máximo de efeitos".

Plenamente recompensado com a leitura do livro e mais do que recomendações para a sua leitura. O autor é espanhol, nascido em 1951. É jornalista de profissão, profissão que abandona em favor da literatura. O mestre de esgrima data do ano de 1988. A edição brasileira é de 2003. A tradução é de Eduardo Brandão.



2 comentários:

  1. Tema raro e percebe-se a fluência no enredo.

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    1. Esgrima. Nunca tinha lido nada a respeito. Tradição e disciplina são os temas altos. Um belo Livro. Agradeço o seu comentário, Leni.

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