terça-feira, 2 de abril de 2024

O Tempo e o vento (parte III). O Arquipélago (Vol. 1). Érico Veríssimo.

Com O arquipélago, a trilogia de O tempo e o vento, chega à sua parte final, ou melhor, ao início de sua parte final. Vejamos a pequena síntese que encontramos na contracapa do primeiro volume: "O arquipélago, última parte da trilogia O tempo e o vento, encerra a saga da família Terra Cambará. Neste primeiro volume, o Brasil, o Rio Grande do Sul e Santa Fé se modernizam. Não cabem mais nos planos das oligarquias tradicionais. Os Cambarás retiram o apoio ao governo e aderem à revolução libertadora em 1923: retomam o caminho das armas e das coxilhas ao lado dos maragatos, antes arquiinimigos.


O tempo e o vento (parte III). O arquipélago (vol. I). Companhia das Letras. 

As peripécias e paixões da luta são narradas pela perspectiva do escritor Floriano Cambará, que em 1945, com a queda de Getúlio Vargas, relembra os passos de sua vida, o tempo que perdeu e a memória que conquistou". Um país e uma família em transformação. Um arquipélago de ilhas desconectadas? Seria?

Vejamos os títulos desse primeiro volume: 1. Reunião de família I; 2. Caderno de pauta simples; 3. O deputado; 4. Reunião de família II; 5. Caderno de pauta simples; 6. Lenço encarnado. O período de abrangência é o de 1920, até o fim do governo Vargas. Embora Rodrigo Terra Cambará ainda seja o personagem central, junto com Flora, Licurgo, Toríbio e Aderbal Quadros, a centralidade vai se transferindo para os filhos, para a nora e para o genro do novo quadro familiar. A família deixa de ser a tradicional família patriarcal. Jango e Sílvia, Floriano, Eduardo, Alicinha, Bibi e Sandoval, aos poucos, são transformados em protagonistas. Roque Bandeira, o Tio Bicho é um personagem que vai ganhando grande ascendência, assim com o irmão Toríbio, um filho, como diríamos, extraviado de Toríbio.

A reunião de família I, ocorre no Sobrado, no dia 25 de novembro de 1945, quando Rodrigo tem o seu quadro de saúde agravado por um edema pulmonar agudo. O fato teria ocorrido após um encontro com Sônia, vinda do Rio de Janeiro para Santa Fé. Rodrigo era incorrigível. Da reunião de família fazem parte Rodrigo e Flora, Maria Valéria ( a consciência viva do Sobrado) os filhos Jango e a nora Sílvia, com Jango metido a fazendeiro, Floriano, um aprendiz de escritor, Eduardo, o filho comunista, stalinista e prestista e Bibi, a filha e o seu marido Sandoval, louco para usufruir de uma boa herança a ser gasta com a deliciosa vida no Rio de Janeiro e a doce, e predileta de Rodrigo, Alicinha. É a reunião de uma família já totalmente desestruturada.

O caderno de pauta simples são os ensaios de Floriano, o aprendiz de escritor, em busca de afirmação em sua almejada carreira. Em Santa Fé havia a Lanterna de Diógenes, a livraria da cidade, onde em seus tempos de infância, Floriano comprava os tais cadernos de pauta simples que o aproximaram e familiarizaram com a escrita. Que profissão danada. Tio Bicho o aconselha para que ele promova um grande encontro seu com as suas raízes em Santa Fé, com o Rio Grande e com o Brasil. Seria o projeto de O tempo e o vento?

O terceiro título - O deputado - é o mais longo do livro. Rodrigo é o deputado, deputado estadual que marca o rompimento da família Terra Cambará com o oficialismo, ou seja, com Borges de Medeiros, o eterno governador do Rio Grande do Sul. Aqui vale lembrar, que em 1893, quando começa a Revolução Federalista, começa também a narrativa de O tempo e o vento. No Sobrado, encontramos Licurgo Cambará, resistindo bravamente, cercado pelos federalistas, os maragatos de lenço vermelho. Para Licurgo esta tarefa não foi nada fácil. Ela implicava em reconciliações praticamente impossíveis de se realizarem. A passagem do deputado Rodrigo por Porto Alegre enseja a Érico veríssimo fazer uma atenta observação da política e da vida na capital do Rio Grande do Sul. O deputado Rodrigo e os seus ímpetos!

A reunião de família II é simplesmente uma continuação, onde são narrados os acontecimentos dos dias 27 e 28 de novembro de 1945. O estado de saúde de Rodrigo melhorou. Em Santa Fé ocorre um comício em favor do Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da UDN à presidência, atrapalhado, e sob grande torcida dos Cambarás, por uma chuva torrencial. No Sobrado, a reunião é marcada pelas profundas divergências ideológicas entre os componentes da família, com acaloradas discussões.

Os ensaios do futuro escritor também tem continuidade. Floriano agora se dedica às memórias do Sobrado, com destaque para a peste bubônica e as histerias em torno da caça aos ratos.

Lenço encarnado é o belo capítulo final deste primeiro volume de O arquipélago. O Rio Grande do Sul está farto dos seguidos mandatos de Borges de Medeiros (Acabara de ganhar o quinto mandato). Os ideais federalistas de 1893 novamente se erguem, agora sob o comado de Assis Brasil. É janeiro de 1923. Um ano inteiro de escaramuças, mas longe da violência de 1893-1895. Borges havia rompido com o governo de Artur Bernardes, mas como este não intervém em favor dos federados, seus ideais revolucionários arrefecem. Saudosos, os velhos revolucionários estão a lamentar os tempos em que se fazia Revolução de verdade. E se interrogavam: Covardia ou avanços do entendimento civilizatório? O lenço encarnado tem continuação no segundo volume.

Deixo a resenha do volume anterior, o volume número dois de O Retrato.




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