Fiz uma breve busca em minha
biblioteca por livros ainda não lidos. Logo de saída me deparei com um clássico
que aguardava desde 2007 para ser lido. Trata-se de Memórias de minhas putas tristes, do Nobel de Literatura colombiano
Gabriel Garcia Marques. Fui amplamente recompensado em minha busca. Uma leitura
agradável e de um fôlego só estava no meu aguardo.
Memórias de minhas putas tristes. Gabriel Garcia Marques. Record.2007.
Na contracapa do livro está
transcrita uma parte do seu primeiro parágrafo. Ele nos dá um prospecto da obra
e uma perspectiva para a sua leitura: “No ano dos meus noventa anos quis me dar
de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa
Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes
quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de
suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus
princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com sorriso maligno,
você vai ver”.
Estão aí os três protagonistas do
livro. O idoso senhor, a completar noventa anos, a adolescente virgem e a
astuta Rosa Cabarcas, a dona do bordel. O idoso e lascivo senhor, além de
protagonista é também o narrador. Ele é homem culto e grande apreciador de
música, especialmente a clássica. É jornalista por profissão e que, ainda aos
noventa, mantem no jornal da cidade, uma crônica dominical bastante apreciada.
Em sua narrativa afirma que as “putas” nunca lhe permitiram tempo para o
casamento. Com elas teve uma longa vida, iniciada aos 12 e sem perspectivas de
acabar, mesmo após os noventa.
Rosa Cabarcas se especializara no
atendimento a seus clientes e não encontrou grandes dificuldades em atender o
seu exigente cliente. Recrutou a adolescente virgem em uma fábrica, onde vivia
a pregar botões e cuja remuneração ajudava no sustento de seus irmãos e irmãs.
Uma presa fácil, no contexto de um mundo de exploração. Um amor para
contemplação e sentimentalidades. E, acima de tudo, para a renovação de sua
escrita nas crônicas dominicais. Exortações ao amor e às suas sublimidades.
Rosa e Delgadina, este era o nome
que o jornalista deu à menina, subitamente desapareceram para só voltarem após
trinta dias de vacâncias em paradisíacas praias. Este desaparecimento ocorrera
depois do assassinato de um “graúdo”, nas dependências de seu estabelecimento.
O desespero tomou conta de sua vida. Após a volta ele é acometido por uma crise
de louco ciúme e de um ataque de fúria, do qual resultou a depredação do quarto
VIP, que mantinha no estabelecimento de Rosa. As suas já debilitadas finanças
acabaram de se arruinar por completo. Ainda lhe restavam quadros e joias,
heranças da mãe. Ele não tem dúvidas em sua penhora. Isso proporciona a ele o
desvendar das falsificações praticadas por sua própria mãe.
O livro, como já vimos, é de
leitura de um fôlego só. São 120 páginas, divididas em cinco capítulos. É um
dos últimos romances do autor, do ano de 2004. O Nobel de Literatura lhe fora
concedido em 1982. O livro tem uma frase em epígrafe. É de Yasunari Kawabata,
autor de A casa das belas adormecidas. Ela
diz: “Não devia fazer nada de mau gosto, advertiu a mulher da pousada ao ancião
Euguchi. Não devia colocar o dedo na boca da mulher adormecida nem tentar nada
parecido”. A Delgadina também permanecia constantemente adormecida.
Na orelha temos um parágrafo bem ilustrativo do livro: "Um leitor mais atento vai encontrar aqui as principais referências e motivações desse hino de louvor à vida e, por extensão, ao amor, já que um não existe sem o outro no imaginário do Prêmio Nobel de Literatura de 1982. Apesar de parecer estranho, uma dessas chaves está no conto de fadas A bela adormecida, que, não por acaso, é citado em um momento crucial dessa narrativa ambientada em uma cidade colombiana imaginária, numa época que de tão remota parece imemorial".
A edição do livro é da Record. A publicação original é do ano de 2004 e a edição que eu li é de 2007. A tradução é de Eric Nepomuceno.
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