O meu contato com a obra de Francis Scott Fitzgerald, se deu por uma indicação de livros de Luís Fernando Veríssimo, provavelmente feita numa das feiras de livro da cidade de Paraty, no Rio de Janeiro. Na ocasião, lhe foi solicitada a lista de seus dez livros preferidos. Entre eles estavam os dois de Scott: O grande Gatsby e Suave é a noite. O comentário de um leitor no post do blog de 2012, sobre os livros indicados, me fez retomar a leitura dos dois. Desta vez o fiz pela ordem de sua escrita. Primeiro O grande Gatsby, escrito em 1925 e Suave é a noite, em 1934.
Suave é a noite. Scott Fitzgerald. BestBolso. 2008. Tradução: Lígia Junqueira.O cenário do primeiro romance é o dos arredores luxuosos de Nova York, enquanto que o do segundo é o da Riviera Francesa. Em comum, os dois tem como protagonistas pessoas riquíssimas que vivem em ambientes de muito luxo e de poucos momentos felizes, em meio às suas graves crises existenciais. Em comum, os dois tem também a década de 1920, década em que os Estados Unidos decolam ruma a maior potência econômica e mergulham em profundas contradições morais, em meio ao puritanismo da Lei Seca (1920- 1933) e a rápida ascensão econômica proporcionada por meios ilegais de atividades comerciais duvidosas. É também a década da geração perdida, a era do jazz, em que muitos escritores norte americanos foram viver em Paris, entre eles, Scott.
Suave é a noite tem uma outra característica peculiar ao seu tempo. Os tempos da psicanálise. Dick Diver é um psiquiatra que, em clínicas suíças, envereda por esses campos. Dick e Nicole serão os protagonistas do romance. Eles são, respectivamente, o médico e a paciente. Outra característica particular deste romance é o seu caráter autobiográfico. Vejamos o fato na descrição de Roberto Muggiati, no prefácio:
"Se o perfil social foi inspirado em Gerald e Sara Murphy (inspiradores do cenário, na Riviera), o perfil psicológico do casal protagonista de Suave é a noite acabaria ganhando os contornos de Scott e Zelda neste que é o mais autobiográfico dos textos de Fitzgerald. Scott e Zelda casaram-se no Sábado de Aleluia de 1920, na catedral de São Patrício, em Nova York. Ele tinha 24 anos, ela 20. Um ano depois nasceu a única filha, Scottie. Jovens na primeira década transgressora do século XX, gostavam de passear de táxi (sentados no capô, é claro), de dançar e de beber. Eram os anos turbulentos que Scott batizou de 'A Era do jazz': a América vivia sob a Lei Seca, proliferavam os bares clandestinos, a bebida falsificada; a trilha sonora da década era o jazz e as metralhadoras dos gângsteres. [...] Espírito inquieto e crítico, Zelda antecipou de certa forma o feminismo e a guerra dos sexos. [...] Ela e Scott defendiam um casamento mais aberto e menos hipócrita do que os da geração de seus pais. Em 1924, na praia de Garoupe - enquanto Scott passava o dia inteiro escrevendo O grande Gatsby -, Zelda conheceu um jovem aviador francês. [...] O caso não durou muito, mas levou Zelda a uma tentativa de suicídio e criou uma chaga viva no casal". E já que enveredamos nos dados biográficos, vamos ao seu final:
"Seria o último romance escrito por Fitzgerald (Suave é a noite) - ele morreu de um ataque do coração em 1940, aos 44 anos, deixando inacabado O último magnata. Zelda continuaria a perambular pelos asilos - em meio a lampejos de lucidez - até morrer em 1948 no incêndio do hospital Asheville. Tinha 47 anos e foi identificada por um chinelo debaixo do corpo carbonizado".
Mas vamos ao romance, identificando os principais personagens. Dick e Nicole formam o casal protagonista (médico e paciente). Rosemary Hoyt e Tommy Barban rodearão o casal. Rosemary é bela e jovem, do mundo cinema. Já Tommy seria o "jovem aviador francês"? Os personagens periféricos seriam Abe North, amigo de Dick, Baby Warren, a irmã e tutora de Nicole e rica herdeira de uma imensurável fortuna. e a senhora Speers, mãe de Rosemary. Estão aí os personagens para a envolvente trama que se passa nas clínicas, nos bares e nas calorosas recepções oferecidas na Riviera Francesa. Muito luxo, paixões ardentes e o penetrar nos mais recônditos refúgios de seres humanos envolvidos em seus mistérios mais profundos. O livro é dividido em três partes, que ocupam 445 páginas
Vejamos a contracapa: "Ambientado na Riviera Francesa em fins da década de 1920, este livro narra a história de Dick Diver, brilhante psiquiatra que se casa com a paciente Nicole Warren. A vida do casal não é mais do que uma farsa: dominados pelo tédio, incapazes de dialogar, entre interessantes coquetéis, recepções e dinheiro, vivem numa atmosfera de falsa euforia. Fitzgerald foi o autor que melhor captou a aura da riqueza e seu efeito sobre a alma humana, mostrando a rotina dos privilegiados numa época em que a América decolava num binômio de prosperidade e hipocrisia. Obra marcante da Geração Perdida, Suave é a noite, em tom marcadamente autobiográfico, revela personagens com uma excepcional carga de realismo".
Vamos ainda ao último parágrafo do prefácio de Roberto Muggiati, sobre a permanência da obra. "Suave é a noite permanece como testemunho da arte de um escritor que teve a coragem de enfrentar a selva das relações afetivas e de estudar a fundo o amor numa época em que a sensação imperou sobre o sentimento. Melhor do que qualquer outro romancista do século XX, Scott Fitzgerald soube navegar por águas turvas no seu empenho de traçar a cartografia do desejo humano".
Deixo também a resenha de O grande Gatsby.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2025/07/o-grande-gatsby-f-scott-fitzgerald.html
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