Na contracapa da edição portuguesa do livro de Valter Hugo Mãe, a máquina de fazer espanhois, lê-se o seguinte: "A maior parte dos livros são escritos para o público; este é um livro escrito para leitores". O mesmo pode-se dizer com relação ao filme de Paolo Sorentino, a Grande Beleza. Seguramente não é um filme para o público. É um filme para quem gosta de cinema e para quem tem, ao menos, uma mínima compreensão de mundo. A Grande Beleza só poderia falar da beleza e, ela começa com a cidade de Roma e depois vai continuando em sua busca permanente. Encontrá-la não é fácil e nem o filme pretende indicar caminhos. Existe uma cena inicial de um turista que desmaia, diante dos encantos da cidade.
Cartaz de divulgação do filme A Grande Beleza, vencedor de Oscar 2014, de melhor filme estrangeiro.
O filme inicia com um convite, de Céline, escritor meio maldito em função de seu anti semitismo, retirado do livro Viagem ao fim da noite: "Viajar é útil, exercita a imaginação. Aliás à primeira vista todos podem fazer o mesmo. Basta fechar os olhos. É do outro lado da vida". A viagem sugerida é a de um grande olhar sobre a cidade de Roma, sobre a Itália e sobre o mundo. Um olhar não convencional, um olhar de quem se cansou das futilidades do mundo. Do mundo italiano de um Berlusconi e dos outros personagens de um mundo globalizado e pós-moderno. Mas não se preocupe, eles não aparecem no filme. É uma crônica do mundo contemporâneo e de seus valores. O efêmero consagrado do pós-moderno.
O grande personagem do filme é Jep Gambardella, um escritor, que fez enorme sucesso com um único romance O Aparelho Humano. Pelo sucesso do livro e pela sua riqueza a fama e os convites para as festas lhe são garantidos. Este é o cenário para a crônica da vida contemporânea. Tudo é uma única grande festa, tudo é muito grande para que o vazio se instale. Mas este vazio também tem os seus limites, e estes limites passam a ser muito bem explorados. Existe uma frase muito enigmática de Jep, quando este abandona o leito de uma mulher fácil e fútil, afirmando que aos 65 anos, ele não pode mais fazer coisas que ele não queira mais fazer.
Toni Servillo, em magnífica interpretação do escritor Jep Gambardella.
Depois das cenas iniciais, com cenários de Roma e com canto gregoriano na trilha sonora, iniciam as baladas, as festas da alta sociedade italiana e as críticas ferozes e mordazes ao seu estilo de vida e, especialmente, aos seus gostos estéticos. Nada lhe escapa. A vida familiar, representada por uma mãe que quer reconhecimento, às concepções artísticas, com uma atriz nua, a bater a cabeça contra a parede e uma menininha jogando tinta e a esparramando sobre as telas, à religião com a figura da madre de 104 anos, que só se alimenta de raízes porque as raízes são muito importantes, e acima de tudo com a figura do cardeal, candidatíssimo à papa, e preocupado apenas com comidas. Foge a qualquer pergunta que lhe possa causar incômodos.
Jep trabalha para uma revista dirigida por uma anã. A presença da anã não é em vão. Sempre enxerga o mundo da altura do ponto de vista das crianças, isto é, de homens que não cresceram. Metáforas. Metáforas exigem inteligência. As entrevistas entediavam o próprio Jep. Jep é cobrado por novos romances de valor. Roma, representada pela sua alta sociedade e o mundo dos valores dominantes o ocupam tanto e o impedem na continuidade da carreira. As críticas são inteligentes e ultrapassam a simples ironia, alcançando o escracho. São agressivas, mas nunca chatas. São suscitadas e sugeridas, mas para a sua solução, um único caminho é apontado, a busca da beleza.
Jep Gambardella, com o seu grande amigo Romano.
Desde o lançamento o filme recebe comparações com a Dolce Vita de Fellini. Esta foi uma das primeiras sensações que senti ao assistir o filme, embora sentindo a falta da Fontana di Trevi e outras paisagens de Roma. Para validar a comparação é apontada a crítica à sociedade italiana como o tema principal e até a atuação de Toni Servillo, o Jep, é posta à altura de um Marcelo Mastroiani.. A comparação com Fellini também remonta aos grandes tempos do cinema italiano no pós guerra, que retornaria, agora neste cenário horrível do mundo globalizado e pós-moderno. O filme não me sai da cabeça. Pretendo assisti-lo numa segunda vez, e sob a iluminação da crítica, perceber novos detalhes.
O filme não é unanimidade. Como afirmei no início, um mínimo de compreensão do mundo é necessário para o assimilar. Se não for assim, atentem para dois comentários que eu li: "Uma bosta, não entendi nada", afirmou uma pessoa ou então, esta outra afirmação: "É um filme chato, sem ligações. É uma história boba, em um cenário esplêndido". É um filme de autor. Paolo Sorentino é simultaneamente o diretor e o roteirista do filme. Uma coisa da práxis.
E como comecei citando Valter Hugo Mãe, termino também com ele. Além do que já apontei de comum entre o escritor e Paolo Sorrentino, de que eles não atingem o público, também a abordagem do filme e do livro a máquina de fazer espanhois tem como tema a velhice. Jep tem 65 anos e seu silva, vai para o feliz idade com 84 anos. Jep busca a beleza. Esta é representada por Roma e, acima de tudo, pela beleza de sentimentos puros, como os que tivera em sua juventude. Já seu silva encontra beleza e significado com a amizade que trava com seu esteves, de cem anos de idade.
O grande personagem do filme é Jep Gambardella, um escritor, que fez enorme sucesso com um único romance O Aparelho Humano. Pelo sucesso do livro e pela sua riqueza a fama e os convites para as festas lhe são garantidos. Este é o cenário para a crônica da vida contemporânea. Tudo é uma única grande festa, tudo é muito grande para que o vazio se instale. Mas este vazio também tem os seus limites, e estes limites passam a ser muito bem explorados. Existe uma frase muito enigmática de Jep, quando este abandona o leito de uma mulher fácil e fútil, afirmando que aos 65 anos, ele não pode mais fazer coisas que ele não queira mais fazer.
Toni Servillo, em magnífica interpretação do escritor Jep Gambardella.
Depois das cenas iniciais, com cenários de Roma e com canto gregoriano na trilha sonora, iniciam as baladas, as festas da alta sociedade italiana e as críticas ferozes e mordazes ao seu estilo de vida e, especialmente, aos seus gostos estéticos. Nada lhe escapa. A vida familiar, representada por uma mãe que quer reconhecimento, às concepções artísticas, com uma atriz nua, a bater a cabeça contra a parede e uma menininha jogando tinta e a esparramando sobre as telas, à religião com a figura da madre de 104 anos, que só se alimenta de raízes porque as raízes são muito importantes, e acima de tudo com a figura do cardeal, candidatíssimo à papa, e preocupado apenas com comidas. Foge a qualquer pergunta que lhe possa causar incômodos.
Jep trabalha para uma revista dirigida por uma anã. A presença da anã não é em vão. Sempre enxerga o mundo da altura do ponto de vista das crianças, isto é, de homens que não cresceram. Metáforas. Metáforas exigem inteligência. As entrevistas entediavam o próprio Jep. Jep é cobrado por novos romances de valor. Roma, representada pela sua alta sociedade e o mundo dos valores dominantes o ocupam tanto e o impedem na continuidade da carreira. As críticas são inteligentes e ultrapassam a simples ironia, alcançando o escracho. São agressivas, mas nunca chatas. São suscitadas e sugeridas, mas para a sua solução, um único caminho é apontado, a busca da beleza.
Jep Gambardella, com o seu grande amigo Romano.
Desde o lançamento o filme recebe comparações com a Dolce Vita de Fellini. Esta foi uma das primeiras sensações que senti ao assistir o filme, embora sentindo a falta da Fontana di Trevi e outras paisagens de Roma. Para validar a comparação é apontada a crítica à sociedade italiana como o tema principal e até a atuação de Toni Servillo, o Jep, é posta à altura de um Marcelo Mastroiani.. A comparação com Fellini também remonta aos grandes tempos do cinema italiano no pós guerra, que retornaria, agora neste cenário horrível do mundo globalizado e pós-moderno. O filme não me sai da cabeça. Pretendo assisti-lo numa segunda vez, e sob a iluminação da crítica, perceber novos detalhes.
O filme não é unanimidade. Como afirmei no início, um mínimo de compreensão do mundo é necessário para o assimilar. Se não for assim, atentem para dois comentários que eu li: "Uma bosta, não entendi nada", afirmou uma pessoa ou então, esta outra afirmação: "É um filme chato, sem ligações. É uma história boba, em um cenário esplêndido". É um filme de autor. Paolo Sorentino é simultaneamente o diretor e o roteirista do filme. Uma coisa da práxis.
E como comecei citando Valter Hugo Mãe, termino também com ele. Além do que já apontei de comum entre o escritor e Paolo Sorrentino, de que eles não atingem o público, também a abordagem do filme e do livro a máquina de fazer espanhois tem como tema a velhice. Jep tem 65 anos e seu silva, vai para o feliz idade com 84 anos. Jep busca a beleza. Esta é representada por Roma e, acima de tudo, pela beleza de sentimentos puros, como os que tivera em sua juventude. Já seu silva encontra beleza e significado com a amizade que trava com seu esteves, de cem anos de idade.
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