terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Os Sete Enforcados. Leonid Andreiev.

Este livro eu li por indicação de Graciliano Ramos. Sim, é isso mesmo que você está lendo. É óbvio que isso não ocorreu pessoalmente. Ele indicou os dez melhores romances de todos os tempos e entre eles estava Os sete enforcados de Leonid Andreiev. Confesso que nuca tinha ouvido falar deste escritor russo. Segundo Fernando Sabino, Os Sete Enforcados formam junto com A Morte de Ivan Illitch, de Tolstoi, A Dama de Espadas, de Puchkin e O Capote, de Gogol o grande quarteto de novelas imortais da literatura russa.
Edição brasileira de Os Sete Enforcados, de Leonid Andreiev. Um libelo contra a pena de morte.

Para não deixar você curioso dou os outros nove livros indicados por Graciliano. São eles: D. Quixote, de Cervantes; Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift; Gargântua, de Rabelais; As Ilusões Perdidas, de Balzac; Ana Karenina, de Tolstoi; Candide, de Voltaire; Crime e Castigo, de Dostoiévski; Pickwick, de Charles Dickens e Os Maias, de Eça de Queirós.

O título do livro Os Sete Enforcados nos dá uma ideia clara sobre a temática do livro. Algo meio lúgubre e mórbido como eram os tempos vividos por seu autor, Leonid Andreiev. Ele viveu o conturbado período do fim da monarquia absolutista da Rússia e da Revolução bolchevique, à qual, no entanto, não aderiu. Ele nasceu em 1871 e morreu em 1919. A sua vida foi permeada de uma tentativa de suicídio aos 22 anos, que lhe deixou uma lesão cardíaca, que mais tarde veio  a ser a sua causa de morte. A Revolução de 1917 o levou ao exílio na Finlândia.
O escritor russo Leonid Andreiev, (1871 a 1919). Tempos de revolução e de banalização da morte.


Foi considerado como o escritor de temas malditos, que ninguém, em seu tempo, ainda tinha coragem de abordar, como o sexo e a prostituição. O livro que eu li é da Rocco - jovens leitores e integra a coleção organizada por Fernando Sabino, Novelas Imortais. Nesta edição tem uma introdução do autor à edição americana, na qual ele próprio comenta o seu livro e define com clareza o seu objetivo: "Meu objetivo foi destacar o horror e a iniquidade da pena de morte sob quaisquer circunstâncias." E continua: "O horror da pena de morte é grande quando ela recai sobre pessoas honestas e corajosas, cuja única culpa é o amor excessivo e o senso de justiça - em tais casos a consciência se revolta. Mas a corda é ainda mais horrível quando forma seu nó em volta do pescoço de pessoas fracas e ignorantes".

Aí já está explicitado o tema da obra. A condenação à morte por forca de cinco jovens terroristas, três homens e duas mulheres, pessoas absolutamente jovens e dois prisioneiros comuns, condenados à mesma pena por roubos e assassinatos cometidos. Os cinco jovens, - Sergey Golovin, Musya, Werner, Vasily Kashirin e Tânia Kovalchuk haviam planejado um atentado contra o ministro, que não foi consumado em função da descoberta do plano pela ação policial. Já Ivan Yanson e Mikhail Golubetz ou Tsiganok, de apelido, eram criminosos comuns. O primeiro matara o seu patrão e o segundo tinha uma vida toda ligada ao crime.
Detalhes da capa de Os Sete Enforcados. A corda, o pescoço e a morte.


O livro não é longo e está dividido em doze pequenos capítulos. Pode ser lido em único fôlego. Coisa de menos de um dia. Conta sobre a descoberta do atentado ao ministro e o pavor dele diante da morte se o atentado se houvesse perpetrado, sobre o perfil de cada um dos sete condenados e a sua reação diante do julgamento, condenação e as diferentes reações no tempo de espera da execução. Como o título já diz, todos foram condenados à morte por enforcamento. O último capítulo é dedicado ao ato do enforcamento. O próprio autor já dera o perfil dos condenados como sendo jovens sonhadores e amantes da justiça e os presos comuns como pessoas fracas e ignorantes.

Sendo o livro um libelo contra a pena de morte a sua força está na descrição psicológica dos personagens diante da morte, no encontro de alguns com os pais, em atitudes de compreensão ou não diante do ocorrido e da solidão da maioria dos sete, abandonados nos seus isolamentos. Yanson chegara a receber uma carta, provavelmente de seus familiares, que nunca foi lida, por seu analfabetismo e por desconhecimento da língua dos que o rodeavam. Alguns dos jovens pertenciam a classe média. Outro ponto forte é o limite que se estabelece entre a vida e a morte. Quando se está diante da morte anunciada se prefere o silêncio, ocultar o medo e deseja que a execução ocorra o mais cedo possível. Mas esse tempo tem a duração da eternidade.
Tradução direta do russo de Os Sete Enforcados. Reflexões sobre o tempo de espera da morte.


O autor, ainda na apresentação, diz que relata a história de sete enforcados entre os milhares que sofreram a mesma pena, que atinge os alicerces da alma. As cenas de enforcamento eram tão comuns, conta ainda, que "em suas brincadeiras, crianças encontram corpos mal enterrados, e as pessoas contemplam com horror as botas dos camponeses que surgem à flor do chão; os carrascos que levaram à cabo essas execuções estão enlouquecendo e sendo conduzidos para sanatórios - e não raro enforcados também".

6 comentários:

  1. Caro Prof. Pedro Eloi, eu gostaria, por gentileza, de saber onde posso encontrar o texto de Guimarães Rosa em que ele faz a indicação de Os Sete Enforcados. Obrigado pela atenção! Abs. Milton.

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  2. Meu caro Milton. Desculpe a minha negligência em não ter indicado a fonte. Me perdi na memória e não consegui mais localizar. O que eu posso reafirmar é que eu cheguei a este livro pelo caminho que eu indiquei no post. Presumo que seja uma indicação do google. Sinto não poder atendê-lo. Meus agradecimentos e um abraço.

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  3. Por favor, gostaria de saber se a edição da Rocco é de tradução direta do russo? Desde já, agradeço pela atenção.

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  4. Alexandre Magno. O livro integra as "novelas imortais", organizadas por Fernando Sabino. A tradução é de sua filha,Eliana Sabino. A referência sobre a fonte da tradução não está presente no livro e também nada encontrei numa busca no Google. Ela, no entanto, tem facebook, o que torna possível um contato com ela. Sinto não lhe atender integralmente sua solicitação. Muito obrigado.

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  5. Caro Prof. Pedro, obrigado pelos comentários. Quero aproveitar e compartilhar contigo e com seus leitores o trabalho que eu estou desenvolvendo de coleta e divulgação de toda a obra de Andreiev publicada em português (Brasil e Portugal), através da BIBLIOTECA DIGITAL DE LEONID ANDREYEV EM PORTUGUÊS, disponível em www.issuu.com/leonidandreyev. Neste momento há 39 textos publicados, e mais estão por vir. Espero que goste e agradeço por qualquer comentário, crítica e sugestão. Abs. Milton.

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  6. Milton, parabéns pelo seu trabalho, junto com os meus agradecimentos.

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