Em 2012 o Brasil vivia tempos de bonança. Depois de 43 anos dedicados a sala de aula, optei pela aposentadoria. Queria me livrar de todos os compromissos rígidos, envolvendo metas, avaliações e horários. Queria usufruir de tempo livre. Como os tempos eram de bonança resolvi me presentear. 30 dias, conhecendo o berço da civilização ocidental. 30 dias pela Grécia e pela Itália. Maravilhamento total. Registrei a viagem no blog, que eu iniciava.
Uma incursão pelo misticismo e pela ciência. Os mistérios de Delfos.
Uma incursão pelo misticismo e pela ciência. Os mistérios de Delfos.
Por esses dias, rememorando a postagem sobre Delfos, alguém me sugeriu o livro O Oráculo. O segredo da antiga Delfos. Como sou facilmente influenciável e nada pão duro para a compra de livros, fiz isso, aproveitando as facilidades da Estante Virtual. Que agradável surpresa. Para além da leitura, uma vontade enorme para rever este maravilhoso lugar, o centro do mundo, como os gregos se referiam à cidade do oráculo. Lembrando que pelos oráculos, as sacerdotisas se relacionavam com Apolo, o deus da luz, do discernimento, da razão. Além de Apolo, também Dionísio era cultuado. A humanidade não poderia ser ingrata, a tal ponto, de esquecer a divindade que a brindou com a uva e o vinho e suas decorrências. O caráter místico e mítico do lugar também era atribuído a vapores e odores, sentidos no templo de Apolo.
O Oráculo se centra em torno destas questões. Desvendar, pela ciência, o caráter mítico deste sagrado lugar. Tomo do epílogo algumas frases para contextualizar a obra. "O oráculo começou a falar em nome dos deuses há mais de três milênios. Durante boa parcela desse tempo, a pítia gozou de uma reputação literalmente estelar, unida que era a Apolo e às maravilhas do firmamento. Quando, porém, a luz da civilização grega perdeu o brilho, sua imagem passou por vários estágios de deterioração, deixando-a maculada, demonizada, esquecida, romantizada e, após as escavações francesas, desprezada e até mesmo ridicularizada".
Quatro cientistas trouxeram a respeitabilidade do oráculo de volta e, recuperados de certa forma, os poderes ocultos da mente, as sacerdotisas, ou os oráculos dão conselhos à arrogante humanidade do mundo das ciências. "Sede sensíveis às lições da liberdade, parece dizer a pítia. Valorizai a ciência, mas entendendo que ela é um guia finito para a imensidão do tempo e do espaço, não uma religião, não uma visão de mundo. Será ela capaz de vos salvar? Poderá explicar meus lampejos e ações? Com relação a Delfos, não deixeis que a descoberta dos vapores vos feche os olhos para outras verdades, outras noções. Olhai mais longe. Dançai com o mundo em lugar de tentar reduzi-lo a explicações. Vide o barco, não apenas suas tábuas. Apegai-vos ao conhecimento. Fazei perguntas difíceis, sabendo, porém, que o vosso intelecto não passa de uma pequena janela e o que por ele se vê pode estar surpreendentemente incompleto. Abri-vos ao sentimento profundo e reverenciai a verdade em todas as formas. 'Sim', parece dizer ela, 'descobristes um dos meus segredos. Tenho outros'".
O segredo revelado se refere aos vapores e odores e os poderes alucinógenos que eles possuíam e que deram fama ao oráculo. Quanto aos outros segredos, trata-se de todo o mundo de magia que por doze séculos encantou e inclinou o mundo para o sagrado e o profano do lugar, ou seja, a luz de Apolo para guiar o sagrado da humanidade e o profano de Dionísio para aguentar o peso da tensão das pulsões vitais. Delfos nos instiga para entender os princípios máximos de sua sabedoria. "Conhece-te a ti mesmo" e "Evita os extremos".
Em 2012. Ruínas de Delfos.
Bem, vamos à essência do livro. Já na sua orelha lemos sobre o oráculo, sobre o monte Parnaso, Pítia e Apolo e sobre Plutarco historiando sobre o fenômeno Delfos. E alerta para um encontro entre ciência e espiritualidade. Um curto prólogo nos põem em contato com o oráculo, que na verdade, foram várias mulheres a decifrar os enigmas de Apolo. Também nos mostra as profecias mais famosas, como a de proclamar Sócrates como o mais sábio entre os gregos. Fala ainda sobre vapores inebriantes, êxtases e transes. Também fala das festas dionisíacas, reservando para estas, o poente. O leste, o sol, era de Apolo. Seguem sete capítulos.
O primeiro destes capítulos, O centro do universo, é para o leigo o mais interessante. Narra a história do misterioso local. São umas cinquenta páginas memoráveis. É uma viagem ao longo da história e do lugar. Os sábios antigos estão arrolados e envolvidos. Sócrates, Platão, Aristóteles. Heródoto, Pausânias, Píndaro, entre outros. O declínio chega junto com o declínio grego e com a ascensão do cristianismo, implacável na destruição real e simbólica do QG das coisas e das forças demoníacas.
O segundo capítulo, Os céticos, nos mostra, 15 séculos após o apogeu, a entrada do mundo das ciências nos mistérios do lugar sagrado. O imaginário do mundo se volta para o lugar, merecendo pinturas e representações, chegando até a Capela Sistina. O lugar passa por uma descrição, onde se ergue a pequena Kastri. No século XIX chegam os cientistas para escavações. Os franceses saem na dianteira. Predomina o cetiscismo.
No terceiro capítulo, Um homem curioso, os cientistas entram em cena. Primeiramente um indonesiano/holandês, De Boer, que, após os horrores da 2ª Guerra, se interessa pelo local. Ele é geólogo por profissão e se estabelece nos Estados Unidos. Visita Delfos e faz as suas observações. Discorda dos resultados das missões francesas. Nos próximos capítulos os outros três cientistas se somam aos estudos. No quarto, Os detetives, entra em cena John Halle, um arqueólogo. Halle e De Boer se encontram e formam uma parceria entre a geologia e a arqueologia. São os detetives a pesquisarem os mistérios de Delfos, os seus vapores e odores, de modo especial. No quinto, O "X" marca o lugar, mostra os estudos da dupla e o encontro de duas fendas que se cruzam. Seria o local de onde escapavam os vapores alucinógenos. As pesquisas evoluem do "pode ter sido" para o "foi". A esta altura já estamos no sexto capítulo, Êxtase, quando a equipe dos quatro cientistas se completa, com a entrada em cena de Chanton, um químico que estuda os gases retirados de blocos de mármore travertino e os identifica. Por fim, o quarteto se completa com Spiller, o médico toxicologista, que submete os gases presentes em Delfos à experiência humana e constata os seus efeitos anestésicos e alucinógenos.
O sétimo capítulo, A pista mística, é uma bela defesa do mundo como complexidade. Os quatro cientistas decifraram os gases presentes em Delfos e constataram os seus efeitos sobre o comportamento humano, mas nem de longe atingiram toda a mística que envolveu o lugar. O mundo é bem mais complexo do que os reducionismos que o mundo da ciência pode proporcionar com os seus desvelamentos. Uma bela mensagem. Bem, já vimos sobre o Epílogo, que é seguido por uma cronologia, muitas notas explicativas e de fontes, além de um glossário. Eu estou meio, como enuncia o título do sexto capítulo, em êxtase. O autor, William J. Broad, é jornalista e detentor de um prêmio Pulitzer. Que livro maravilhoso.
Em 2012. Ruínas de Delfos.
Bem, vamos à essência do livro. Já na sua orelha lemos sobre o oráculo, sobre o monte Parnaso, Pítia e Apolo e sobre Plutarco historiando sobre o fenômeno Delfos. E alerta para um encontro entre ciência e espiritualidade. Um curto prólogo nos põem em contato com o oráculo, que na verdade, foram várias mulheres a decifrar os enigmas de Apolo. Também nos mostra as profecias mais famosas, como a de proclamar Sócrates como o mais sábio entre os gregos. Fala ainda sobre vapores inebriantes, êxtases e transes. Também fala das festas dionisíacas, reservando para estas, o poente. O leste, o sol, era de Apolo. Seguem sete capítulos.
O primeiro destes capítulos, O centro do universo, é para o leigo o mais interessante. Narra a história do misterioso local. São umas cinquenta páginas memoráveis. É uma viagem ao longo da história e do lugar. Os sábios antigos estão arrolados e envolvidos. Sócrates, Platão, Aristóteles. Heródoto, Pausânias, Píndaro, entre outros. O declínio chega junto com o declínio grego e com a ascensão do cristianismo, implacável na destruição real e simbólica do QG das coisas e das forças demoníacas.
O segundo capítulo, Os céticos, nos mostra, 15 séculos após o apogeu, a entrada do mundo das ciências nos mistérios do lugar sagrado. O imaginário do mundo se volta para o lugar, merecendo pinturas e representações, chegando até a Capela Sistina. O lugar passa por uma descrição, onde se ergue a pequena Kastri. No século XIX chegam os cientistas para escavações. Os franceses saem na dianteira. Predomina o cetiscismo.
No terceiro capítulo, Um homem curioso, os cientistas entram em cena. Primeiramente um indonesiano/holandês, De Boer, que, após os horrores da 2ª Guerra, se interessa pelo local. Ele é geólogo por profissão e se estabelece nos Estados Unidos. Visita Delfos e faz as suas observações. Discorda dos resultados das missões francesas. Nos próximos capítulos os outros três cientistas se somam aos estudos. No quarto, Os detetives, entra em cena John Halle, um arqueólogo. Halle e De Boer se encontram e formam uma parceria entre a geologia e a arqueologia. São os detetives a pesquisarem os mistérios de Delfos, os seus vapores e odores, de modo especial. No quinto, O "X" marca o lugar, mostra os estudos da dupla e o encontro de duas fendas que se cruzam. Seria o local de onde escapavam os vapores alucinógenos. As pesquisas evoluem do "pode ter sido" para o "foi". A esta altura já estamos no sexto capítulo, Êxtase, quando a equipe dos quatro cientistas se completa, com a entrada em cena de Chanton, um químico que estuda os gases retirados de blocos de mármore travertino e os identifica. Por fim, o quarteto se completa com Spiller, o médico toxicologista, que submete os gases presentes em Delfos à experiência humana e constata os seus efeitos anestésicos e alucinógenos.
O sétimo capítulo, A pista mística, é uma bela defesa do mundo como complexidade. Os quatro cientistas decifraram os gases presentes em Delfos e constataram os seus efeitos sobre o comportamento humano, mas nem de longe atingiram toda a mística que envolveu o lugar. O mundo é bem mais complexo do que os reducionismos que o mundo da ciência pode proporcionar com os seus desvelamentos. Uma bela mensagem. Bem, já vimos sobre o Epílogo, que é seguido por uma cronologia, muitas notas explicativas e de fontes, além de um glossário. Eu estou meio, como enuncia o título do sexto capítulo, em êxtase. O autor, William J. Broad, é jornalista e detentor de um prêmio Pulitzer. Que livro maravilhoso.
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