segunda-feira, 9 de março de 2020

Carta Manifesto em defesa da Escola Pública do Paraná

Mais de duzentos educadores(as) e estudantes participaram neste sábado (07/03/2020) do seminário "Currículos em disputa no Paraná - Do Currículo Básico a BNCC/CREP, promovido pelo Núcleo Sindical da APP Curitiba Norte, pelo NESEF- Núcleo de Estudos do Ensino de Filosofia e pelo Observatório do Ensino Médio, ambos da UFPR. Ao final do encontro foi aprovada a CARTA/MANIFESTO, que segue.

CARTA/MANIFESTO EM DEFESA DA ESCOLA PÚBLICA DO PARANÁ.


Educadoras e educadores do Estado do Paraná, participantes do Seminário "Currículos em Disputa no Estado do Paraná: Do Currículo Básico a BNCC/CREP", realizado na data de hoje (07.03.2020), nas instalações da Universidade Federal do Paraná, no Campus Rebouças, organizado pelo Coletivo de Educadores APP-Independente, pelo Núcleo Sindical da APP Curitiba Norte, pelo Observatório do Ensino Médio da UFPR e pelo NESEF também da UFPR, repudiam as ações da Secretaria da Educação do Estado do Paraná - SEED, no processo de implantação do Currículo da Rede Escolar Paranaense (CREP), controlada pelo empresário Renato Feder, empossado como secretário de educação pelo governador Ratinho Júnior.
Mesa que presidiu os debates do período da manhã e os participantes.

Neste início de ano letivo, as escolas do Paraná foram surpreendidas pela SEED com a imposição de um novo currículo (o CREP) ao qual devem se adaptar. Trata-se de um currículo construído por tecnocratas, arbitrária e autoritariamente, sem nenhum diálogo efetivo com o conjunto de educadores, ignorando e desrespeitando todo processo histórico de construção da escola pública pela sociedade paranaense nas últimas décadas.

O ideário da escola pública, democrática e de qualidade - amplamente debatido nos coletivos de educadores do estado, registrado em documentos oficiais tais como "O Currículo Básico" no início da década de noventa e "As Diretrizes Curriculares" na primeira década dos anos dois mil, rigorosamente teorizado em sofisticados trabalhos de pesquisas acadêmicas desde o início do processo de redemocratização de nosso país na década de oitenta - está sendo totalmente ignorado por Renato Feder e sua equipe de gestores.

Negando a história e a cultura constituintes das escolas do Paraná, a Secretaria Estadual de Educação impõe um currículo engessado, desconsiderando a autonomia pedagógica e as peculiaridades das unidades escolares, reduzindo os professores da condição de sujeitos do processo pedagógico a controladores da aprendizagem de estudantes, reduzindo pedagogos e diretores da condição de articuladores do processo político-pedagógico à condição de fiscais do trabalho docente.

O desrespeito demonstrado por Renato Feder e sua equipe de gestores aos educadores e às escolas do Paraná reflete-se ainda na completa falta de oferta de oportunidades de formação a pedagogos e a professores para atuarem no âmbito do novo currículo.

O resultado do desrespeito e do autoritarismo demonstrado por Renato Feder e por sua equipe de gestores é um verdadeiro caos instaurado em nossas escolas. Por um lado, exige-se dos educadores que se enquadrem em um projeto de educação sem que lhes tenham sido ofertadas quaisquer possibilidades de entendê-lo. Por outro lado, as condições de trabalho docente, as quais já se revelam insustentáveis, tal era o nível de precarização vivido nos ambientes escolares provocado pelo governo Beto Richa, tornaram-se muito pior.

Renato Feder, além de não oferecer nenhuma solução para os gravíssimos problemas vivenciados por educadores e estudantes em nossas escolas, cria novos e mais graves problemas, aumentando a pressão por resultados e os mecanismos de controle sobre a atividade pedagógica. Ao mesmo tempo  em que precariza as condições de trabalho nas escolas, Renato Feder pressiona direções para o cumprimento de metas e elevação do índice de aproveitamento expresso em avaliações como a Prova Paraná.
Mesa que presidiu debates no período da tarde.

O secretário de educação do governo Ratinho Junior constrói uma gestão do sistema educacional com base no equívoco de que nossas escolas não ensinam com mais qualidade por falta de vontade dos educadores. Desse equívoco surgem as propostas de tutoria, de centralidade no treinamento para a Prova Paraná, de suspensão de eleições para diretores, de punição de professores que se afastam do trabalho por adoecerem, da adoção de um único livro didático por disciplina, da imposição de um currículo engessado que nega a vida dos sujeitos do processo ensino-aprendizagem.

A política educacional hoje adotada pelo governo do Paraná segue a mesma lógica adotada pelo governo  Federal, que culpabiliza educadores e educadoras pelos índices de qualidade educacional, e que torna invisíveis as lutas realizadas pelos movimentos negros, indígenas, de mulheres, da educação do campo, de jovens e adultos para o campo do currículo.

Sob a gestão do empresário Renato Feder, nossas escolas tornam-se, cada vez mais, espaços de desespero e de adoecimento. Como se ensinar e aprender com qualidade em ambientes como esses? Ironicamente, de forma quase zombeteira, a SEED afirma ser preciso construir um "bom clima" escolar.

Como educadores comprometidos com a história de construção da escola pública, democrática e de qualidade, comprometidos com a sociedade paranaense, com nossos jovens e com nossas crianças, comprometidos com os conhecimentos produzidos pela ciência pedagógica e com os princípios de um projeto de educação emancipadora e, por isso, humanizadora, não aceitamos, em nenhuma hipótese, os desmandos e a irresponsabilidade do empresário Renato Feder frente a Secretaria da Educação.

Conclamamos os educadores e os estudantes de nosso estado, as comunidades escolares e os setores de pesquisas pedagógicas, bem como todos os setores da sociedade civil que possuam compromissos efetivos com a escola pública, para se posicionarem firmemente contra o desmonte do sistema escolar que vem sendo promovido pelo governo Ratinho Junior.

Exigimos ainda, que as direções das entidades representativas de educadores e de estudantes assumam a responsabilidade pela luta em defesa da escola pública, envidando debates pedagógicos rigorosos, orientando as comunidades escolares, organizando ações de resistência e de rebeldia.

Em breve, o secretário Renato Feder irá embora de nosso estado para cuidar de suas empresas, mas, se continuar agindo como vem agindo na gestão da SEED, deixará rastros de destruição extremamente difíceis de serem reparados.

FORA, RENATO FEDER! VIVA A ESCOLA PÚBLICA DO PARANÁ.

 Segue o link, por enquanto, das atividades realizadas na parte da tarde.
https://www.facebook.com/ObservatoriodoEnsinoMedio/videos/671804870290653/UzpfSTEwMDAwMzM1NTc4NjI5OToyNjQxNDc2OTQyNjQwODA2/?q=prof.%20luiz%20paix%C3%A3o&epa=SEARCH_BOX

2 comentários:

  1. As infinitas capacidades de aprender coisas são humanas... Adam Smith propunha no século XVIII Educação paga pelo Estado em doses homeopáticas...para evitar a obliteração intelectual dos pobres (classe trabalhadora) ... Por que são infinitas as possibilidades de apreender da classe trabalhadora?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Na Riqueza das Nações, volume II, no capítulo Os gastos do Soberano ou do Estado ele fala da educação. Se alguém deve ajudar será sempre o poder local. Isso exerceu fortes influências para a municipalização do ensino. É nessa parte que ele apresenta o chamado Estado Mínimo. Agradeço o seu comentário

      Excluir

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.