domingo, 29 de março de 2020

O seminarista. Rubem Fonseca. Vestibular da UERJ.

Livros com indicação para vestibular são sempre uma das referências para as minhas leituras. Desta vez foi O Seminarista, de Rubem Fonseca, indicado para o vestibular da UERJ, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Devo confessar que tive também uma grande dose de curiosidade sobre a descrição de um seminarista, uma vez que eu também o fui. Aproveitando o embalo, comprei também o outro O seminarista, o do Bernardo Guimarães, que ainda não li.
A edição da Nova Fronteira de O Seminarista, de Rubem Fonseca.

A primeira observação minha é a de que "o especialista", ou o José Joaquim Kibir jamais fora um seminarista. É impossível para um seminarista se afastar tanto dos fundamentos doutrinários com que foi catequizado ao longo dos anos, a tal ponto de se transformar num frio assassino profissional, atendendo encomendas do "despachante". Aproveito para dizer que o especialista e o despachante são os dois personagens que ocupam as páginas dos primeiros capítulos.

Mas então por que será que a opção pelo título foi esta de O Seminarista? Será que foi apenas o fato da preferência de José por inúmeras citações em latim, que ele usava permanentemente, especialmente, quando em companhia de outro seminarista, o tal de D.S.? Ou seria pelo seu hábito de extrema pontualidade, virtude que reconheço em mim e em outros colegas do tempo de seminário. Ou seria ainda a questão de atender a uma preferência de sua mãe, e não a sua vontade própria, questão comum a quase todos. Ou seria a questão de ter sido expulso do seminário por razões libidinosas? É verdade que muito poucos seminaristas se tornaram padres, mas daí a se tornarem criminosos, isto eu não tinha nunca nem sequer imaginado.

Tudo bem, Rubem Fonseca, que, pelo que consta, nunca foi seminarista, é um romancista e como tal um ficcionista. E dos mais brilhantes. Rubem Fonseca foi comissário de polícia e talvez por isso, levou o seu personagem para o mundo do crime. Lendo sobre ele, vi que violência, erotismo e irreverência são os seus temas mais frequentes. Li também uma frase que grafei. Ela diz que Rubem escreve "sobre pessoas empilhadas na cidade enquanto os tecnocratas afiam o arame farpado". Tem muito arame farpado neste romance.

Bem, o "especialista" busca sua aposentadoria mas o seu breve passado não lhe dá sossego. O mundo do crime deixa muitas sequelas. É o momento em que entram em cena inúmeros outros personagens, como a Kirsten, por quem se apaixona loucamente, o D.S., seu antigo colega, um tal de Zaffir, entre outros.  O cenário do romance é o Rio de Janeiro. Traficantes entram em cena. No último dos 23 capítulos, além de confessar Amor aeternus por Kirsten, ele recebe um telefonema, que ele atende. Ele contem o seguinte diálogo: "Seminarista"? "Ele", respondi. "Seminarista, tenho um serviço para você". Uma espécie de síntese deste romance policial, que perfeitamente pode ser lido em único dia. São 179 páginas, divididas em 23 capítulos, contendo muitas encomendas.

Deixo ainda a orelha da capa: "Para o protagonista de O seminarista, matar não causa remorso, mas também não causa prazer. É apenas seu trabalho, que lhe permite se dedicar àquilo que realmente ama: livros, filmes e mulheres (No caso, apenas uma, Kirsten, a amor aeternus).  Não quer saber quem é a pessoa que será eliminada, nem mesmo lê os jornais do dia seguinte. Quando, no entanto, decide que já é hora de abandonar a profissão, descobre que não é tão imune aos efeitos de seus trabalhos e de suas escolhas como acredita ser, e tem que enfrentar fantasmas de um passado que pensa ter superado. Em seu décimo primeiro romance, Rubem Fonseca mais uma vez se mostra um dos mestres da narrativa brasileira, conciso e intenso, capaz de manter a tensão a cada página".

Rubem Fonseca nasceu na carioca cidade mineira de Juiz de Fora, em 1925, mas já aos oito anos se transfere para o Rio de Janeiro. O romance tem a data de 2009.

2 comentários:

  1. Amo leitura. Li dois livros de Rubem Fonseca, um para conhecer a literatura de alguém tão incensado, o segundo li buscando mudar meu olhar sobre as construções do autor, nao encontrei motivos para seguir lendo o autor, ñ sou melindrosa mas é contrário ao meu eu leitor colocar-me em contato com a banda podre dos seres humanos, mais ñ digo por entender desnecessário.

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    1. Sucapoeta, eu gostei do "Agosto", mas paro por aí. Não o aprecio muito, talvez em função do gênero abraçado, o do romance policial. Agradeço o seu pertinente comentário.

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