Um senhor livro. Uma senhora biografia. Um livro que revela a grandeza, tanto do biógrafo, quanto a do biografado. Um livro absolutamente necessário e imprescindível para quem quiser estudar a história recente do Brasil e conhecer os bastidores da política, da justiça, da mídia, do movimento sindical brasileiro e, por óbvio, a trajetória pessoal, sindical e política de Lula. Sem dúvida nenhuma, a história de Lula e a história do Brasil, ao menos a partir dos anos 1980, se interligam e se confundem por completo e por inteiro.
Lula - Biografia. Fernando Morais. Companhia das Letras. 2022.Demorei um pouco para começar a leitura, embora a enorme curiosidade. Estive envolvido em outro projeto. A minha trajetória de professor sempre me obrigou a ser um atento observador e analista da política brasileira, razão pela qual nunca desleixei de estar atento aos fatos. Mesmo assim, Lula - Biografia, de Fernando Morais, me revelou inúmeros fatos e, especialmente, os bastidores dos fatos dos últimos quarenta ou cinquenta anos da história desse país. E, melhor ainda, narrados pela maestria daquele que, seguramente, pode ser considerado um dos maiores biógrafos brasileiros.
O primeiro volume da biografia termina com um posfácio com o título: Este livro e algumas cenas do próximo volume. Nele, Fernando Morais nos conta da alteração do projeto original, de escrever a biografia em apenas um único volume. Nele não caberia tanta história. Junto ao biógrafo e os editores, houve então o acerto de dividi-la em dois volumes. A forma de contar é eletrizante. A sequência dos fatos te prende à leitura, embora, nem sempre apresentados de forma cronológica. Aliás, de forma brilhante e instigante, a biografia não começa pelo nascimento de Lula, mas, creio que dá para fazer essa afirmação, pelo nascimento de seu terceiro mandato na presidência da república. De seu improvável e impossível terceiro mandato, após tanto assassinato de reputação e tentativa de cancelamento político e moral, tanto de Lula, quanto do PT, o partido por ele fundado.
O livro se constitui de 17 densos capítulos e mais um apêndice. Os capítulos não tem títulos, mas sim, pequenas sínteses dos fatos narrados. Os seis primeiros narram os episódios de sua prisão em Curitiba, seus antecedentes e os exatos 581 dias da prisão e da "Vigília Lula Livre". Lance de mestre. O livro, numa retrospectiva se volta para outra prisão de Lula, agora a do ano de 1980, quando liderava, na qualidade de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, as greves que determinaram o início da agonia da insuportável ditadura militar, instaurada em 1964. Daí a história segue até a enorme decepção que Lula teve na eleição de 1982, como candidato derrotado a governador no estado de São Paulo. Essa depressão só foi aliviada com o consolo de Fidel, ao lhe dizer que fora pela primeira vez que um trabalhador fez mais de um milhão de votos. O resto da história será contada no segundo volume que já começou a ser escrito.
Para instigar a leitura, apresento a síntese das orelhas do livro: "Para além de juízos ou paixões, Lula está entre as maiores figuras políticas da história do Brasil. Único presidente da nação oriundo do operariado, e campo magnético de um partido profundamente original em suas raízes, exerceu o poder carismático e a influência de modo mais duradouro que qualquer outro homem público no período republicano, salvo talvez Getúlio Vargas - com quem também partilha a virulência dos adversários.
Desde 2011, Fernando Morais ganhou acesso direto, franco e frequente a Lula. A essas dezenas de horas de depoimentos, somou o faro de repórter e a prosa cativante para compor projeto biográfico que traz um painel do personagem em toda a sua grandeza e complexidade.
Em narrativa que faz uso de recuos e avanços cronológicos para manter o ritmo eletrizante, Morais transporta o leitor logo nas primeiras páginas às salas de um Instituto Lula envolto em nervosismo e incredulidade ante a decisão judicial que determinou a prisão do ex-presidente como desdobramento da operação Lava Jato. A comoção do momento é conhecida, mas os bastidores da escolha de se entregar e detalhes sobre o estado de espírito de Lula só agora são revelados. De um relato recheado de informações inéditas sobre o período em que o biografado ficou detido em Curitiba, Morais puxa o fio da trama para o primeiro cárcere, em 1980, do então líder sindical que mudou a história das greves no país, perseguido pelo Dops e visto como ameaça a uma ditadura que já claudicava.
Entre outras passagens-chave para compreender a formação do homem, suas ideias e seus atos, o presente volume reconstituiu ainda a infância e juventude de privações e as relações familiares, a migração para São Paulo, o início da vida como operário e a aproximação com o movimento sindical, a história do novo sindicalismo, as greves do ABC, a fundação do PT - até a entrada sem volta no mundo da política e a primeira campanha eleitoral, uma derrota que quase o leva a desistir de tudo, do que é dissuadido por improvável figura. Era só o começo do capítulo seguinte desta saga, que culminaria em três derrotas e dois mandatos presidenciais".
E na contracapa ainda lemos: "Este volume da primeira biografia de vulto de Luiz Inácio Lula da Silva recupera os momentos determinantes para que o personagem chegasse a ser o que é: o líder de massas que, com avanços e tropeços, se inscreveu na história como agente e símbolo de grandes transformações no percurso nacional, nas últimas cinco décadas.
Com a verve narrativa conhecida dos leitores, desde obras já clássicas como Olga e Chatô, Fernando Morais nos conduz de maneira hábil e segura por estrutura nem sempre linear, dando ainda a ver os aspectos mais relevantes da vida política recente de Lula, até a anulação de suas condenações pelo Supremo Tribunal Federal, em 2021.
Contribuição ímpar para compreender um personagem incontornável, Lula combina rigor na pesquisa e acesso inédito à fonte para se afirmar como uma biografia essencial".
Um livro para a história. Concluo dizendo que foi este Lula, o único ser capaz de deter o avanço fascista no Brasil, representado por Bolsonaro e pelos fanáticos e imbecis bolsonaristas. Essa é a verdadeira dimensão da grandeza de Luiz Inácio Lula da Silva.
Confesso que estava deixando está leitura em segundo plano. Não gosto de ler biografias ou trageyorias de pessoas em franca atuaçao porque as coisas mudam, a vida muda, a situaçao política muda e falta ao biografado o filtro de um distanciamento histórico necessário. Mas você apresenta de tal modo este trabalho, que vou colocá- lo na minha lista de prioridades.
ResponderExcluirNesta biografia existem duas coisas a considerar: o biógrafo e o biografado. O biógrafo é consagrado e o biografado chegou à presidência pela terceira vez. Também demorei um pouco para ler o livro, mas o recomendo muito. Agradeço o seu generoso comentário. Muito obrigado.
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