Este post tem a sua origem em algumas falas recentes que fiz, especialmente, uma em Joinville, com os educadores e educadoras da IELUSC, Associação Educacional Luterana Bom Jesus, na abertura do ano letivo de 2023, sob a mediação das professoras Mariana e Kérley, a quem registro os meus agradecimentos.
O post é retirado do livro de Dom Hélder Câmara O deserto é fértil, um livro de 1976 (Civilização brasileira). Me lembro até da sua compra, numa banca da rodoviária de Curitiba, no tempo de seu lançamento. Ah, bons tempos em que se vendiam livros em rodoviárias... O livro é tão bom, com reflexões tão profundas, que ele me acompanha permanentemente. Em minha vida, carrego comigo alguns santos, profetas inspiradores. Dom Hélder é um deles. O livro é tão bonito e, como está disponível apenas em sebos, tomo a liberdade de apresentar ao menos um de seus capítulos, procurando motivar os leitores para a busca do livro no seu todo. Uma leitura imprescindível e que, acima de tudo, faz muito bem. Mas, vamos ao capítulo, o de número 6.
O deserto é fértil. Dom Hélder Câmara. Civilização brasileira. 1976.6. Partir... caminhar...
Partir é, antes de tudo, sair de si. Romper a crosta de egoísmo que tende a aprisionar-nos no próprio eu.
Partir não é rodar, permanentemente, em torno de si, numa atitude de quem, na prática, se constitui centro do Mundo e da vida.
Partir é não rodar apenas em volta dos problemas das instituições a que pertence. Por mais importantes que elas sejam, maior é a humanidade, a quem nos cabe servir.
Partir, mais do que devorar estradas, cruzar mares ou atingir velocidades supersônicas, é abrir-se aos outros, descobri-los, ir-lhes ao encontro.
Abrir-se às ideias, inclusive contrárias às próprias, demonstra fôlego de bom caminheiro. Feliz de quem entende e vive este pensamento: "Se discordas de mim, tu me enriqueces".
Ter ao próprio lado quem só sabe dizer amém, quem concorda sempre, de antemão e incondicionalmente, não é ter um companheiro mas, sim, uma sombra de si mesmo. Desde que a discordância não seja sistemática e proposital, que seja fruto de visão diferente, a partir de ângulos novos, importa de fato em enriquecimento.
É possível caminhar sozinho. Mas o bom viajor sabe que a caminhada é a vida e esta supõe companheiros. Companheiro, etimologicamente, é quem come o mesmo pão.
Feliz de quem se sente em perene caminhada e de quem vê no próximo um eventual e desejável companheiro.
O bom companheiro preocupa-se com os companheiros desencorajados, sem ânimo, sem esperança... Adivinha o instante em que se acham a um palmo do desespero. Apanha-os onde se encontram. Deixa que desabafem e, com inteligência, com habilidade e, sobretudo, com amor, leva-os a recobrar ânimo e voltar a ter gosto na caminhada
Marchar por marchar não é ainda verdadeiramente caminhar.
Caminhar é ir em busca de metas, é prever um fim, uma chegada, um desembarque.
Mas há caminhada e caminhada.
Para as Minorias Abraâmicas, partir, caminhar significa mover-se e ajudar muitos outros a moverem-se no sentido de tudo fazer por um mundo mais justo e mais humano.
Se discordas de mim, tu me enriqueces.
Se és sincero
e buscas a verdade
e tentas encontrá-la como podes,
ganharei
tendo a honestidade
e a modéstia
de completar com o teu
meu pensamento,
de corrigir enganos,
de aprofundar a visão...
Estás cercado de ti, por todos os lados
Para te livrares de ti mesmo
lança uma ponte
por cima do abismo de solidão
que o teu egoísmo criou.
Trata de ver, além de ti.
Busca ouvir alguém.
E, sobretudo,
tenta o esforço de amar
ao invés de simplesmente te amar...
Queres ser,
então perdoa:
tens que te livrar, primeiro,
do excesso de ter,
que te enche de tal maneira
- da cabeça aos pés -
que não resta espaço
para ti mesmo
e ainda menos para Deus (Páginas 27 a 30).
Como na abertura da fala houve a apresentação do coral da instituição e eles cantaram Wave, de Tom Jobim. ... - Fundamental é mesmo o amor. É impossível viver feliz sozinho, imaginem se eu não alterei o script da fala.
Tenho dois posts para apresentar, ligados ao tema. O primeiro sobre o significado da palavra amém, uma belíssima reflexão. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2015/07/sobre-o-significado-da-palavra-amem.html e o segundo, sobre a vida benfazeja de Dom Hélder que, por ela nos demonstrou que o Fundamental é mesmo o amor. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/12/dom-helder-o-artesao-da-paz-raimundo-c.html
E, Mariana e Kérley, amigas queridas, dedico o post para vocês.
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