Antes da resenha, uma confissão. Se há um ponto fraco em minha formação, este é, sem dúvida, a literatura. Eu explico: A minha formação é de seminário. Com certeza, os padres temiam a literatura. Ah, os romances, histórias de amor! Lembro de uma canção de muito sucesso na época - Asa Branca - do grande Luiz Gonzaga. Em vez de cantar - Entonce'eu disse: adeus, Rosinha // Guarda contigo meu coração, nós cantávamos - adeus mãezinha... E, por simplicidade ou ingenuidade nem percebíamos a troca. Amor, só o de mãe.
Os três mosqueteiros. Alexandre Dumas. Coleção- Os Imortais da Literatura Universal.Pois bem, este teria sido o tempo mais adequado para a leitura desse belo romance, Os três mosqueteiros, romance de aventuras e bravuras, de romantismo e de história, de traições e de vilanias, muitas delas praticadas pelo cardeal, o cardeal Richelieu, um dos personagens do romance, muito mais do lado do mal, do que do bem, certamente. Então, eu não reli este romance, eu o li pela primeira vez. Não tem como não gostar e, mesmo que não gostasse, não o ousaria dizer. Afinal, é dos mais consagrados e festejados autores.
O livro que eu li é da coleção Os imortais da Literatura Universal. Uma coleção maravilhosa. Três volumes de biografia e contextualização acompanham a edição. Basicamente será a minha referência para esta explanação.
No epílogo ao romance, Alexandre Dumas nos dá a seguinte informação: "Privada de socorro da esquadra inglesa e da divisão prometida por Buckingham, a Rochela se rendeu após um assédio de um ano. No dia 28 de outubro de 1628, assinou-se a capitulação". Dou essa informação pela sua importância na contextualização, para chamar a atenção para a data de 1628. Se observarmos as datas de vida e morte do autor, veremos que ele nasceu em 1802 e morreu em 1870. A obra, portanto, é uma retrospectiva, uma volta ao século XVII. Tempo de Luís XIII e de Maria da Áustria como rei e rainha da França, secundados no poder pelo poderoso ministro, o cardeal Richelieu. São tempos complicados, cheios de intrigas. Muitas guerras. França, Inglaterra, Espanha, Áustria... As guerras de religião praticamente já tinham se assentado. Os territórios já estavam razoavelmente estabelecidos. Não a demarcação das fronteiras.
Mas, vamos ao romance, bem como ao seu autor. O Alexandre Dumas de Os três mosqueteiros é o pai. Não confundir com o filho, também escritor, e autor de A dama das camélias. Ele nasceu nas proximidades de Paris, mas a mudança para a capital, foi para ele extremamente significativa. O ambiente de Paris era contagiante. São contemporâneos seus, Victor Hugo, Honoré de Balzac e Prosper Marimée. Entrou para o campo das letras, pelo seu gosto pelo teatro e o fascínio por Shakespeare. Ali encontrou o campo de seus sonhos da juventude: "amores impetuosos, emoções violentas, suicídios". Vamos acompanhando o livro guia.
Ainda no teatro, ele entra em contato com os temas históricos. Sob a influência de Walter Scott (Ivanhoé) ele envereda de vez nesse campo. O livro guia nos fala dessa concepção, bem como do seu Os três mosqueteiros: "Dumas seguia o método de Scott. Os leitores de um romance histórico queriam sentir no relato as mesmas emoções suscitadas pela representação teatral: encontrar pessoas humanas sob os escudos e os mantos reais, conhecer a história de seu país, os costumes das épocas passadas, sem o esforço que um compêndio escolar exigia". E, um amigo lhe trouxe o esboço de seu romance mais famoso:
"O ponto de partida é o caso amoroso entre o cavaleiro D'Artagnan e a dama Constance Bonacieux, camareira de Ana da Áustria (1601-1666). Através da amada, D'Artagnan acaba participando de uma intriga política: Ana de Áustria, mulher do rei Luís XIII (1601-1643), ofertara ao amante, Buckingham, um cofre de joias que o marido lhe dera de presente. Sabedor do fato e desejoso de provocar a ruína da rainha, o ministro Richelieu (1585-1642) sugere ao rei que peça a Ana para usar as joias no próximo baile da corte. Desesperada, a rainha pede a D'Artagnan que recupere o pequeno tesouro, transportado por Buckingham para a Inglaterra. O cavaleiro une-se a três amigos e juntos partem para a aventura, enfrentando as ciladas do pérfido Richelieu e os traiçoeiros encantos da demoníaca Milady, cúmplice do ministro". E os efeitos?
"Nenhum dos outros numerosos volumes de Dumas provocou tamanha emoção. Os romances que retomam a história de D'Artagnan, ou o famoso Conde de Monte Cristo (1845), não conseguiram suplantar Os três mosqueteiros (1844). Grande parte do êxito se deve à simpatia que os quatro heróis despertaram. O público devia ter sentido que representavam desdobramentos do próprio Dumas, também dado a aventuras e façanhas. Nenhuma dessas personagens é de criação original; todas figuravam na obra de Sandras e viveram realmente no século XVII. Dumas, porém, deu-lhes nova vida, ressaltou-lhes as características, tornando-as mais temerárias, e ampliou o âmbito de ação. Através de uma trama apaixonante e de um estilo cheio de vitalidade, reviveu toda a atmosfera do século XVII francês, o esplendor da corte e o sensacionalismo das intrigas políticas, o poderio econômico e cultural de uma época brilhante. Graças a sua imaginação, alcançou suprir as lacunas do conhecimento histórico, que sua inquietude jamais lhe permitira aprofundar. Seu próprio tempo, ocupado com atrizes e conspirações, forneceu-lhe muitos dos pormenores que aproximam do real essa pintura do século XVII". E, para terminar, vamos lembrar dos três, na verdade quatro mosqueteiros:
"Todas essas personagens, ávidas de ação, refletem o espírito aventuroso do autor, falecido em 1870, ele mesmo lutador, incansável em prol da arte e de seus princípios políticos. Ousado como D'Artagnan, corajoso como Athos, sedutor como Aramis, alegre como Porthos, não seria falsear a verdade acrescentar ao quarteto dos famosos espadachins um quinto mosqueteiro: o próprio Dumas, herói de pena em punho, esgrimindo pela fama e pelo amor".
O romance que eu li tem 511 páginas, com letrinhas dignas de uma lupa. São, ao todo, 57 capítulos de deliciosas e espetaculares aventuras e uma bela reconstrução histórica. Por se tratar de um romance histórico, deixo a resenha da obra inaugural desses romances. Ivanhoé, de Walter Scott.
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