quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Simpósio do Barreado. Dante Mendonça.

Domingo 10 de novembro de 2024. Recebi um agradável convite do meu amigo Valdemar para um almoço no Sarau do Oba. Além do almoço, cujo cardápio era um baião de dois, haveria um show de "Moda de viola", com Ana Decker e Júnior Bier. Como sempre estou disposto para festas, não titubiei e fui. O dia foi para muito além do imaginado e do esperado. Comida boa, ambiente agradável e o show então, nem falar. Conseguem imaginar um show de vila caipira! E a Ana Decker e o Júnior, simplesmente maravilhosos.

Simpósio do Barreado. Dante Mendonça. Ed. Senac. 2023.

Ao final, ainda fomos brindados pelo anfitrião, o senhor Orlando, com um livro maravilhoso Simpósio do Barreado - Origens e receita do prato típico paranaense. A autoria é do jornalista, aquarelista e escritor Dante Mendonça. Na contracapa do livro estão os objetivos do tal do simpósio. - Afinal, o Barreado nasceu em Morretes, Antonina ou Paranaguá? Na antiga Grécia, durante um sympósion os convivas discutiam, comiam, bebiam e cantavam. No Simpósio do Barreado, especialistas se reuniram em Porto de Cima para um banquete na história do prato mais típico do Paraná.

O livro é uma grande obra de arte e uma peça de humor inigualável, além das aquarelas do autor. O livro também contém valiosos dados históricos das três cidades do litoral paranaense. A história do barreado tem os seus registros já a partir de 1820, quando Saint Hilaire, foi de Curitiba para o litoral e atendendo a pedido seu sobre a indicação de algum prato típico, lhe indicaram o barreado. A partir de então está viva a disputa sobre a origem e a receita ortodoxa do famoso prato. 

Para estabelecer a verdade, num sábado, dia 15 de agosto, dia de Na. Sa. da Guia, reuniu-se no Porto de Cima o tal do simpósio. O local era considerado neutro, uma vez que recebia as cargas vindas de Curitiba e se fazia o transbordo das cargas para os diferentes portos. O simpósio, na abertura, foi abrilhantado pela banda euterpina morretense, que, embora um vento venenoso vindo da Ilha das Cobras fizesse voar as partituras, o Guarani de Carlos Gomes foi magistralmente executado. A banda é o orgulho da cidade de Morretes.

Foram compostas a mesa que presidiu os trabalhos e a dos convidados ilustres. Entre eles estavam Jaime Lerner, o folclorista Luiz da Câmara Cascudo, o chef estadunidense Anthony Bourdain, o escritor Alexandre Dumas (autor de Memórias gastronômicas e Pequena história da culinária) e o naturalista Auguste de Saint-Hilaire. Mesa de muito respeito.

No simpósio, ao narrar a origem do prato, também são narradas as origens das cidades e apresentados usos e costumes dos povos fundadores e da população caiçara, já com vistas para a argumentação em defesa desta ou daquela cidade. Colonização portuguesa e espanhola e a chegada dos italianos em Alexandra. Entre as argumentações, os defensores das diferentes causas falavam do bom gosto originário das populações, dos maus hábitos alimentares dos adversários, do só comer peixes, outros apenas charque, dos bons restaurantes dos países originários. Alta erudição e muitas digressões, como o uso ou não do tomate, do qual resultou a horrível praga mundial do ketchup. O representante de Antonina faz uma bela referência às festas do entrudo e carnaval, ligando-os aos festejos da Capela, em louvor à virgem do Pilar. Morretes foi acusada de servir um barreado pouco ortodoxo, adaptado ao gosto dos turistas. Componentes e modos de preparo também mereceram longas discussões, especialmente o cuentro.

O simpósio teve três sessões ao longo do dia mas a decisão foi adiada para o dia seguinte. Nela, os jurados seriam isolados e comeriam dos três diferentes púcaros, estes, sem a identificação da cidade de origem. Rafael Greca coordenou estes trabalhos. Ernani Buchman foi nomeado o porta voz dos jurados e, depois de lavar as mãos  nas águas do Nhundiaquara, proferiu o veredito final:  "O Barreado nasceu com a fome e a vontade de comer, da cabeça e imaginação de algum índio carijó do litoral paranaense. Revogam-se disposições em contrário, e elegemos, como fórum do próximo Simpósio do Barreado, a Ilha do Mel".

Coube ao escritor Domingos Pellegrini escrever a orelha de capa, num belíssimo texto: "Este é, antes de tudo, um livro de amor e arte.

Pois só quem, como Dante Mendonça, ama a cozinha e a arte consegue reunir as duas tão amorosamente.

E só quem ama a História consegue transformá-la em história como aqui, casando também dimensão histórica e narrativa literária humana e envolvente.

É, por isso, um livro de quem e para quem sabe que mais humano que viver numa terra é viver a terra, conhecendo e amando sua gente, seus mestres e seus costumes.

Também é livro de arte nas aquarelas de Dante, que chegaram ao que mais pode almejar o artista, ter sua arte reconhecível à primeira vista, pois basta bater os olhos na sua lev1eza e expressividade para saber: é coisa do Dante.

Com tudo isso, este livro de arte e de amor à terra e sua história, sua gente e seu jeito de ser, consegue ainda ser também um gostoso livro de culinária! Que, além da autêntica receita do barreado, tem toda página como convite aberto para olhar e ver, pensar e rir, sentir e amar a vida, tornando este Simpósio do Barreado um livro muito vivo!"

A edição é de 2023, da Editora Senac. E o nosso domingo só terminou com a quase chegada da segunda feira! Maravilhoso.





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