A Eneida é o poema da cidade de Roma. Ele foi escrito no ano 19 a. C. por Virgílio. O herói do poema é Eneias, sobrevivente da Guerra de Troia. Ele é filho de Anquises e da deusa Vênus. Após a Guerra de Troia, vencida pelos gregos, com o recurso de um traiçoeiro estratagema, Eneias recebe dos deuses a missão maior de fundar, para os sobreviventes troianos, uma nova cidade e um novo reino. Os deuses haviam reservado para os troianos um destino maior. Eneias, não sem dificuldades, cumpre o seu glorioso destino, lançando-se aos mares.
A Eneida. Virgílio.Antes de cumprir sua missão, Eneias empreende uma viagem ao mundo das sombras, ao mundo dos mortos. Será guiado por Sibila, que possuía dons divinatórios. Eneias quer ter um encontro com Anquises, seu pai, para dele receber conselhos e, ao visitar o mundo dos mortos, ver as qualidades humanas que foram premiadas e as que foram punidas. Ele quer fundar a cidade e o império que praticassem as boas qualidades e em que as más fossem evitadas. Os valores seriam assim revestidos de uma força sobrenatural. Esta visita ao mundo dos mortos está inserida no sexto capítulo do poema, sem dúvida, o grande cerne dessa obra monumental.
Já no mundo dos ínferos, depois de muitas admoestações de Sibila, sua guia, ela o alerta: " - Ó Eneias, a tarde vai avançando e estamos a chorar. Aqui há uma bifurcação: o caminho à direita vai dar às muralhas do grande Plutão e aos Campos Elísios, mas o da esquerda conduz ao horrível Tártaro, onde são punidos os maus". E, diante do inferno, já ouvindo gritos e terríveis gemidos, Eneias assim se dirige à profetiza que o acompanha:
" - Dize-me, ó profetiza, de que espécie de crimes são culpados aqueles e a que penas foram condenados? Por que tão grande gemer se eleva?" E segue uma viva descrição de horrores.
" - Ó rei ilustre dos troianos, a nenhum mortal piedoso é permitida a entrada naquela porta, mas quando Prosérpina me colocou como guardiã dos bosques de Averno, ela mesma me ensinou os castigos dos deuses e tudo mostrou-me. Rodamonte de Creta governa essas paragens más, ouve os condenados e as culpas, castiga as fraudes, obriga sob tortura a confessar os pecados contra os mortais - pecados deixados sem confissão até a hora da morte, alegrando-se seus detentores com uma falta vã. Imediatamente Tisífone, vingadora, armada de azorrague, olhos cruéis acendidos de alegria ao levantar e baixar o chicote, açoita os culpados. Na outra mão agita suas hórridas serpentes e lança suas Fúrias irmãs, tão selvagens quanto ela mesma.
Abriram-se as portas da morada infernal e a Sibila gritou a Eneias:
- Vês Tisífone sentada em guarda permanente ao portão? Lá dentro, naquele vestíbulo, tem assento uma hidra cruel, mais cruel que as cem Fúrias, com suas cinquenta bocas negras. Mais adiante está o Tártaro propriamente dito, abismo escancarado que alcança com sua profundidade duas vezes a altura do Olimpo à terra. Naquele poço de dor e tristeza, os filhos de Tita, os primeiros filhos da antiga Terra, foram lançados pelo raio relampejante de Júpiter e lá agora se revolvem em agonia. Lá também estão os enormes folhos gêmeos de Alódio, que tentaram com as mãos rasgar o céu e arrancar o onipotente Júpiter de seu trono dourado. Também vi Slamoneu, condenado por tentar imitar os sons do Olimpo e os raios de Júpiter. Galopando arrogantemente seu carro de quatro cavalos pela Grécia, agitava um archote flamejante e batia os bronzes - pobre imitação dos barulhos do Olimpo - exigindo divindade para si mesmo. Louco! Julgou poder imitar com o bronze e o tropel dos cavalos o trovão e o raio! No entanto, o Todo-Poderoso lançou-lhe seu raio por entre as nuvens espessas - não archotes ou nós de pinheiro soltando fumaça negra, desta vez - arremessando o ímpio às profundezas do Inferno, entre imenso turbilhão de chamas. Também lá estava Títio, filho da Terra, mãe de todas as coisas. Seu corpo se estende por muitos hectares e um abutre cruel come-lhe eternamente, com o bico adunco, o fígado, abrindo-lhe dia e noite o peito cujas fibras renascem para que o castigo se prolongue sempre e sempre. E também Ixião e Piritoo, sobre os quais se alteia sobranceiro um penhasco gigantesco, sempre a ponto de desabar-lhes em cima. A sua vista está disposto suntuoso banquete preparado com magnificência real, mas ao lado senta-se uma Fúria, que, a cada movimento dos dois para alcançar as iguarias, ergue-se brandindo um archote e soltando trovões pela boca. Ali estavam encarcerados os muitos que haviam matado pai e irmão, ou feito grande mal a um vizinho, ou que amontoaram riquezas sem fim, nada repartindo com suas famílias - e eram os em maior número -, ou então era um traidor que vendera sua pátria ao inimigo, alguém que roubara a noiva ou forçara sua filha a casar contra a vontade. Todos são culpados de crimes horrendos e não me indagues que castigos lhes foram inventados pelos deuses. Uns são condenados a levar grande pedra ao cimo da encosta. Ao chegarem próximo ao topo, ela lhes escapa das mãos e rola de novo para baixo e eles de novo têm de buscá-la, assim fazendo eternamente. Outros giram sem cessar, membros atados aos raios de uma roda. Entre eles está Flégias, que com outros companheiros infiéis ateou fogo ao templo de Apolo em Delfos, profanando o santuário sagrado. Ele chama incessantemente, em altas vozes, da escuridão: "Tende cuidado. Aprendei a justiça e não ofendais os deuses". Mas por que te relato todas as histórias desses pobres miseráveis? Devemos apressar-nos, pois já vejo adiante as paredes e os portões no interior dos quais devemos depositar nossas oferendas.
Então, dirigindo-se naquela direção, Eneias borrifou o corpo com água fresca e colocou o ramo dourado no limiar dos portões. Portanto, tendo levado à deusa o presente desejado, chegaram eles aos campos alegres, aos vergéis frescos, às árvores deliciosas e às habitações abençoadas que são os Campos Elísios" (Páginas 154-158).
Na literatura, não são muitas as incursões ao mundo dos mortos. Mil anos antes de Virgílio, já Homero imaginara viagem semelhante. E no século XIV, teremos aquela que certamente é a mais famosa de todas, a de Dante Alighieri, à qual Virgílio serviu de inspiração e guia. Segue uma resenha de A Eneida.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2024/12/a-eneida-virgilio-19-c-o-grande-livro.html
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