sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

O Super-homem vai ao supermercado. Norman Mailer.

Ao fazer uma revista em minha biblioteca de livros ainda não lidos, deparei com o interessante título O super-homem vai ao supermercado. O subtítulo esclarece o tema: De Kennedy ao cerco de Chicago, reportagens clássicas sobre convenções presidenciais nos Estados Unidos. O autor é o famoso jornalista Norman Mailer. A edição brasileira data do ano de 2006, que foi também o ano em que adquiri esta obra. O subtítulo também nos fornece o tempo do livro. Kennedy recebeu a sua indicação presidencial pelo Partido Democrata em 1960 e o cerco de Chicago ocorreu no terrível e temível ano de 1968.

O super-homem vai ao supermercado. Norman Mailer. Tradução: José Geraldo Couto e Sérgio Flaksman.

O livro é uma coletânea de artigos do jornalista-escritor, de suas coberturas das convenções partidárias do Partido Democrata, de 1960, do Partido Republicanos de 1964 e a dos dois partidos, em 1968.  A convenção dos democratas de 1960 ocorreu na cidade de Los Angeles, a dos republicanos, de 1964, em São Francisco. Já convenção dos republicanos, em 1968 ocorreu em Miami, enquanto a dos democratas, em Chicago, onde ocorreu o famoso cerco à cidade. O título do livro é uma referência à primeira convenção descrita, a de Los Angeles. O super-homem é uma referência a John Kennedy, enquanto a convenção se transformara num verdadeiro supermercado. Kennedy chegara à convenção com apenas 43 anos de idade.

O livro brasileiro é editado pela Companhia das Letras. Junto a indicação existe um pequeno detalhe que merece uma observação: jornalismo literário. Este novo jornalismo tem a marca do aprofundamento das análises da cobertura e é nisso que está a beleza e a grandiosidade desse livro. Nele encontramos a descrição da cidade, o perfil dos convencionais, dos candidatos, a análise de discursos, a conjuntura em que são pronunciados esses discursos, quer de ordem nacional, quanto da internacional, as revelações dos bastidores, os comportamentos e comprometimentos das pessoas, as traições, as explosões de ódio e, sobretudo, os ambientes festivos.

Com a leitura eu fiz uma verdadeira viagem às cidades de Los Angeles, de São Francisco, de Miami, ah Miami (a capital materialista do mundo)! e Chicago. Entrei em contato com as realidades regionais dos Estados Unidos e conheci mais de perto a raiz histórica de suas principais características, bem como os perfis psicológicos de seus protagonistas. E, acima de tudo, me deparei com a famosa década de 1960. Que década enigmática. Os super-homens e os supermercados. Tudo fluido.

A década de 1960. Como os Estados Unidos lidaram com as questões raciais, com a luta e a resistência em torno dos Direitos Civis, a brutalidade das marcas da escravidão, da segregação, da afirmação da superioridade europeia e branca, os WASP - White - Anglo - Saxon - Protestant, as disputas regionais entre o Leste e o Oeste e o Meio. Ah, as marcas do colonialismo, do racismo e do supremacismo! E um fantasma onipresente a rondar permanentemente, o fantasma do comunismo e a paranoia por ele provocada. Às favas, as liberdades! E o mal-estar ante esse processo civilizatório todo e as insatisfações do mundo jovem e a suas rebeliões. E as guerras, em particular a do Vietnã (São sempre os velhos que nos levam para a guerra; são sempre os jovens que tombam), as brigas pelo poder entre as máfias e o complexo industrial militar. Os Estados Unidos no divã. Os hippies, os yippies e os panteras negras. E a revolução dos costumes... O cerco de Chicago. 

O livro brasileiro tem um posfácio muito esclarecedor, tanto sobre o livro, quanto do escritor, assinado por Sérgio Dávila. Dele foi extraído a contracapa: "As convenções dos grandes partidos políticos norte-americanos nunca seriam vistas da mesma forma depois dos artigos que compõem este livro. Neles, Norman Mailer lança mão de toda a sua verve e todo o seu talento literário para expor as entranhas dos Estados Unidos numa década de profundas transformações.

As convenções democráticas e republicanas de 1960, 1964 e 1968 são perpassadas, aos olhos de Mailer, pelos grandes dilemas americanos da época: guerra ou paz, segregação ou integração racial, amor livre ou american way of life, Numa prosa densa, pontuada por alusões literárias e referências a fatos da cultura de massas, o autor examina de modo implacável os sonhos e traumas da América naquele momento crucial de sua história.

Subvertendo os limites entre a reportagem e a ficção, o escritor não hesita em colocar-se como personagem no próprio texto, ao lado de figuras como John F. Kennedy, Richard Nixon, Adlai Stevenson e Lyndon Johnson, retratados ao mesmo tempo com realismo crítico e sensibilidade literária".

Deixo aqui os resultados das eleições dos anos das convenções analisadas. Lembrando que em 1960, o Partido Republicano estava no poder, já há oito anos, com o presidente Dwight Eisenhower.

1960. Democratas: John Kennedy e Lyndon B. Johnson. 303 delegados. 34.220.984 votos - 49,7%.

           Republicanos: Richard Nixon e H. Loodge. 219 delegados. 34.108.157 votos - 49,6%.

1964. Democratas: Lyndon Johnson e H. Humphrey. 486 delegados. 43.127.040 votos - 61,4%.

           Republicanos: Barry Goldwater e W. Miller. 52 delegados. 27.175.754 votos - 38,5%.

1968. Democratas: Hubert Humphrey e E. Muskie. 191 delegados. 31.271.839 votos. 42,7%.

           Republicanos: Richard Nixon e Spiro Agnew. 301 delegados. 31.783.783 votos. 43,4%.

           Independente: George Wallace e Curtis Le May. 46 delegados. 9.901.118 votos 13,5%.

Em 1972, Nixon foi reeleito mas não terminou o seu mandato. Renunciou em função do escândalo de espionagem - Watergate (1974). Os democratas só voltariam à presidência em 1976, quando Jimmy Carter venceu Gerald Ford. A derrota democrata de 1968 teve muito a ver com as conturbações sociais do Cerco de Chicago, que tiveram como principal motivo a Guerra do Vietnã. A rebelião jovem. Se negavam ao recrutamento.

O escritor também mereceria uma especial atenção. Sua biografia também daria um belo e longo romance. Os jovens do cerco de Chicago merecerão um post especial.

Deixo também a resenha do livro biográfico de um dos mais famosos personagens desse período: Malcom X.

 http://www.blogdopedroeloi.com.br/2014/10/malcolm-x-uma-vida-de-reivindicacoes.html 

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