terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Intocáveis. A sensibilidade do humano.


Fazia tempo que eu queria assistir este filme. Confesso que não fiz um esforço maior para assisti-lo antes, em função, talvez, de preconceitos com relação ao que eu preconcebia do filme: mais um melodrama. Ontem eu fui. Confesso que sinto dificuldades em descrevê-lo. É um filme, não para descrever, é um filme para sentir.O mais que eu posso dizer, é que ele é simplesmente maravilhoso. É maravilhoso não pela sua história mas, por aquilo que ele realmente nos oferece de melhor. Algo que é intocável. A sensibilidade humana.

O filme é francês, dirigido por Eric Toledano e Oliver Nakache e é um grande sucesso de público. Na França está batendo recordes de público e no Brasil já passou da casa de um milhão de espectadores. A história é simples: um homem muito rico e de fino trato (Philippe) sofre um acidente e fica tetraplégico. Precisa de assistência em tempo integral para suprir as suas deficiências, os seus novos limites. A procura por essa pessoa que o acompanhe é interminável. Ninguém se adapta à função.

Alguém se inscreve (Driss), não para o exercício da função mas, para obter mais um carimbo nos seus papéis, para receber o auxílio desemprego. E o impossível acontece. Driss não tinha o mínimo perfil, ou qualidades requeridas para ser este assistente de Philippe e, no entanto... tudo deu certo. Philippe não é tratado como um pobre coitado e será tocá-lo naquilo que o incomoda mais do que a sua própria situação. A sua solidão. Os seus limites físicos tinham sido atingidos, mas não a sua sensibilidade e o seu desejo de viver e  este desejo de viver, ampliado pelo sentimento, pela emoção e pela sensibilidade. Driss, pelas coisas mais simples, lhe restaura o desejo de viver.

Por pragmatismo, que era o fio condutor de todas as entrevistas para o preenchimento da função, o único que jamais seria aprovado, seria exatamente o Driss. O imponderável o levou ao exercício da função. E a exerceu não como uma função, isto é, não a exerceu burocraticamente. A exerceu vitalmente e isso restaurou em Philippe o desejo de viver. Essa é a grande lição do filme. Em minha vida de professor esse dado sempre esteve muito presente. Exercer uma função que nunca fosse meramente burocrática, mas uma função vital. Belas reflexões sobre o pragmatismo.

Outra questão importante que eu vi no filme. O encontro das diferenças. O mundo aristocrático e sofisticado de Philippe e o popular de Driss. Os dois se complementam e se enriquecem. Existe o momento para cada um. Existe o momento do sublime e existe o momento para a festa.

Adorei a cena em que Driss volta a atender Philippe e o encontra desanimado e com barba para fazer. Ao fazê-la lhe imprime diversas figuras. A cena provoca a repulsa ao assemelhá-lo a Hitler e o hilário ao torná-lo semelhante ao ativista José Bové.

Saí do cinema pisando leve, me sentindo bem. Não por uma história fantástica ou recursos ao show, tão próprios do entretenimento. Saí pisando leve por aquilo que é meio intocado pelos valores culturais hoje em dia, que é o retorno às coisas simples, ao humano e especialmente ao desejo de viver a vida em toda a sua intensidade, mediado exatamente pela sensibilidade, pelas emoções ou simplesmente pelo humano e pela sua extensão e multiplicação. Acima de tudo uma bela lição de vida.

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