segunda-feira, 15 de junho de 2015

Devassos por natureza. Provocações sobre o sexo e a condição humana. Jesse Bering.

O acesso que eu tive a esse livro ocorreu por dois motivos. Em primeiro lugar, uma promoção da Jorge Zahar, repito, da Zahar, com preços realmente incríveis e, em segundo lugar, fui movido pela curiosidade. O título é extremamente provocativo e aguçador. Adoro a palavra provocação - de pro e vocare, isto é, chamar para... Provocar é uma das palavras fundamentais para o estudo, para a filosofia, para a ciência. Ao lê-lo tive uma rara surpresa e se confirmou uma das frases de sua contracapa: "Um livro acessível, provocador e cheio de vida. Para todos os interessados em saber o que significa ser humano".
O livro de Jesse Bering. Uma visão científica da sexualidade e suas implicações humanas.


O livro é agradabilíssimo de ser lido. Em momento algum ele abre mão do rigor científico. Apenas torna o linguajar mais popular, sem o extremo rigor da pesquisa científica, pesquisa essa presente da primeira à última página do livro, a de número 300. Também está presente o humor, a ironia e a satírica irreverência, já a partir dos títulos ou das perguntas que formula. Em outras partes o livro assume um caráter absolutamente sério e austero, o que ocorre, especialmente, quando trata dos estudos sobre o suicídio. 

Quem é o autor desse Livro. Jesse Bering é apresentado, na orelha do livro, como doutor em psicologia, tendo sido diretor do Instituto de Cognição e Cultura na Universidade Queen's, em Belfast e professor na Universidade de Arkansas. É um cidadão nascido nos Estados Unidos. É assíduo colaborador de revistas científicas, onde comparece com os seus ensaios, dos quais 33 comparecem nesse livro.
Jesse Bering se define como "um cientista psicológico gay, ateu, com uma queda por teorias evolucionárias".


Ele se autodefine como "um cientista psicológico gay, ateu, com uma queda por teorias evolucionárias". Muito provocador. Na orelha do livro temos mais uma informação adicional. "Vive em Ithaca, no estado de Nova York, com seu parceiro, dois terriers hiperativos e um gato com problemas de peso". Isso significa que ele não tem uma visão religiosa de mundo (desculpem a obviedade), ignora a ditadura heteronormativa e em sua visão científica, segue os padrões do evolucionismo darwiniano. Esta visão me foi particularmente interessante.

O livro inicia por um "um convite à impropriedade", à guisa de introdução, seguida de oito partes, cada uma com uns três ou quatro ensaios, num total, como já vimos, de 33. Os temas estão distribuídos nas oito partes, sendo os seguintes: Parte I. "Uma visão darwiniana do que pende", onde aborda questões como o por que de eles (os testículos) estarem pendentes, sobre a autofelação, sobre o formato do pênis, sobre a ejaculação precoce e sobre as propriedades medicinais do sêmen. Como podem ver, temas bem intrigantes.
 Como o livro não traz ilustrações, busquei algumas. Lilith, a anti Eva. A insubmissão feminina.

Na parte II, que tem por título "Corpos generosos" aborda a questão dos pelos pubianos, a história natural do canibalismo e a afecção da pela humana com a acne. Já na parte III, "Mentes indecorosas" os temas tratados se referem ao despudoramento da mente, sobre o como o cérebro adquiriu nádegas, sobre o sonambulismo e as ereções noturnas e sobre a masturbação, que comprova ser muito praticada, e de ser uma exclusividade dos humanos. 

A parte IV, "Estranhos companheiros de cama" os temas abordados são os pedófilos, hebéfilos e efebófilos (não se preocupe, ele explica), a zoofilia, sobre os assexuados, a podofilia e sobre as bonecas de borracha. Já na parte V, "A noite das damas" os temas versam sobre a ejaculação feminina, sobre as fag hags (ele também explica), sobre o orgasmo feminino e a agressividade das adolescentes. 
Um psicólogo com tendências evolucionistas.

A parte VI, " a gaia ciência, cada vez mais gay: há algo estranho aqui" trata da dificuldade de orientação espacial dos gays, onde aconselha nunca pedir informações a um gay, sobre a homofobia como desejo reprimido, particularmente interessante, sobre o poliamor, sobre os cientistas bem dotados e se o seu filho é um "pré-homossexual". A parte VII, "Como diz a Bíblia", prova que os cristãos são bons, mas só aos domingos, sobre os coelinhos de deus e sobre as cerimônias fúnebres.

O último capítulo, o VIII, "Rumo às profundezas: trabalho existencial em laboratório", o tema tabu é o suicídio. Nele encontramos dois ensaios sobre o ser suicida, sobre o livre arbítrio e sobre a hilaridade no mundo animal. Por ter lido muito pouco sobre o suicídio, achei muito interessante a abordagem do tema, especialmente o segundo ensaio, no qual descreve as características do suicida. Um mundo de descobertas.

A minha experiência com o livro me diz que não mudei a minha maneira de ser (continuo um judaico cristão ocidental heterossexual), mas que aprendi muito, muito mesmo, e não tenho vergonha de dizer. A vergonha deveria ser exatamente da cultura que tenta ocultar tanto sobre o humano, sobre o demasiadamente humano, e termino reafirmando o escrito na contracapa do livro. "Um livro acessível, provocador e cheio de vida. Para todos os interessados em saber o que significa ser humano".
Outro símbolo que busquei. Símbolos masculinos e femininos juntos.

Um livro especial para quem trabalha a diretriz de número dez do Plano Nacional de Educação, e para os que militam e estudam as relações homoafetivas. Acima de tudo um livro muito sério, apesar do humor, da ironia e da sátira. Quero ainda apresentar dois destaques finais. O primeiro para você ver o quanto você é normal e o segundo é para os homofóbicos, que estão se revelando novamente em plenitude, quando estão sendo elaborados os Planos Municipais e Estaduais de Educação, quando é abordada a questão da diversidade, na diretriz de nº dez. São duas frases.

O primeiro destaque: "...No último incidente (a sua quarta prisão), ele havia matado cruelmente uma égua por ciúmes porque pensava que ela estava dando bola para um certo garanhão. (E você pensava que tinha problemas)". Observem que o entre parêntesis é do autor. O segundo destaque: "Se há uma coisa que aprendi sobre a natureza humana, é que sempre que a sociedade esbraveja sobre um demônio ou outro, ela provavelmente acabou de surpreender uma visão especialmente alarmante de si mesma no espelho". Que os Malafaias e Felicianos  se expliquem.




Um comentário:

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.