sexta-feira, 29 de julho de 2016

Manhã inesquecível. Com Pepe Mujica.

A manhã do dia 27 de julho de 2016 foi simplesmente inesquecível. O Laboratório de Cultura Digital do setor de educação da Universidade Federal do Paraná foi a grande responsável pelo evento - um encontro com o ex presidente e atual Senador do Uruguai, José Pepe Mujica, que já foi considerado o presidente mais pobre do mundo. Uma questão de coerência com os seus princípios de vida. Mujica esteve acompanhado por sua esposa.
Momentos que antecederam a fala do ex presidente uruguaio. O coral latino da Unespar.

Como estive fora, em memorável viagem a Cuba, não fiquei sabendo do evento em tempo hábil para fazer a tão concorrida inscrição. Mas a minha experiência me dizia que a participação seria possível se tivesse a paciência necessária da espera. Foi o que de fato ocorreu. O evento foi precedido por uma apresentação do coral da UNESPAR, que apresentou músicas latinas e por muitos oradores, todos ligados aos promotores do evento. Então Pepe Mujica falou apenas as 11h30, em evento iniciado duas horas antes.

Vou procurar falar livremente do que eu ouvi, mesmo sabendo que não vou traduzir com toda a fidelidade a sua fala, mas prometo ser fiel à essência de seu pensamento. Não consegui captar a integralidade das frases por duas razões principais: por problemas de tradução de uma fala pronunciada com extrema emoção e por problemas de som, de um ambiente de quadra de esportes do Círculo Militar, local em que o evento ocorreu.
Vista parcial dos participantes que foram ouvir a fala de Mujica.

A visão de futuro marcou o início da fala, com a preocupação de que as futuras gerações tenham dificuldades em interpretar a realidade para que possam transformá-la. Compreender a realidade de um determinado tempo é uma grave responsabilidade e previu que as lutas sociais deste tempo futuro serão muito duras.

O foco principal da fala foi a contraposição entre uma vida marcada pela visão humanista com aquela marcada pelos valores do mercado e do consumismo. A visão humanista é marcada pela necessidade de estabelecermos relações com os outros, da insuportabilidade da solidão e da necessidade que temos da compreensão de um projeto de vida. Para dar um destino para a vida é necessário ter a compreensão da natureza da própria vida. Esta é marcada pela acumulação, não de riquezas, mas de experiências enriquecedoras, adquiridas na convivência com as diferenças. Esta visão também é marcada pela solidariedade entre as gerações. Para assim entendermos a vida existe a necessidade de cambiar a cultura dominante.
Nesta foto eu cheguei bem perto deste grande ser humano.

Na visão consumista e de mercado os valores são outros. Estamos voltados para o consumo de mercadorias e fazemos de nossa própria vida uma dessas mercadorias. A visão de mercado nos coloca no isolamento do mundo, numa visão meramente egoísta. Mas os verdadeiros valores humanos não são encontrados no mercado. Não podemos comprar, por exemplo, mais cinco anos de vida.

Também falou sobre a questão do tempo. Este não pode estar totalmente voltado para o trabalho, para prover o atendimento de necessidades básicas. Devemos também ter o tempo para os filhos e para os amigos e ter tempo para viver. Também falou da dimensão das atividades ligadas ao crescimento econômico, de sua necessidade de ter uma dimensão do humano e não dentro de espírito escravocrata que a muitos domina.

Também destacou a necessidade de conviver com as diferenças. Assim o ser único que somos, com todas as especificidades de sua singularidade, que se complementa com as diferenças enriquecedoras proporcionadas pela alteridade. Reside nisso a nossa contribuição para melhorar a humanidade. Também ganhou força a ideia de sempre recomeçar quando percebemos que estamos caminhando em direção errada.
Mujica ovacionado pelo público.

Outro foco foi a questão da desigualdade, que hoje é tamanha que está gerando o descontrole total da vida em sociedade. Também deve ser evitado o pensamento de que a miséria é um fenômeno natural e que a política nada tem a ver com isso. É possível eliminar a miséria no mundo. Existem todas as possibilidades para isso. É uma questão de vontade política. A política não pode fazer a apologia da pobreza. Por isso a democracia não pode estar voltada para atender aos interesses do mercado, mas sim, os interesses da igualdade pela inclusão social.

Também falou das religiões. Elas também deveriam ajudar na formação de uma consciência e não serem apenas instrumentos de consolo para suportar as dores da humanidade.
Pepe Mujica recebendo cumprimentos do público.

As suas mensagens finais estavam voltadas para a necessidade da construção de uma cultura centrada no humano, da felicidade e não para o consumo de coisas. Também esteve presente a sua frase que eu já conhecia, a da de ter coragem para mudar quando você estiver trilhando por caminhos errados. Não mudamos nada se continuamos sempre fazendo a mesma coisa. É a ideia do recomeço. Não se chega à terra prometida seguindo por caminhos errados, que não estejam marcados pela busca da felicidade.

Foi o que eu consegui captar da sua fala. Pode conter imprecisões pelos motivos que já expliquei. Mas o dia foi para mim um dia de grandeza ímpar. Pude realimentar convicções alicerçadas em ideias e confirmadas pela sua longa vida de coerência com os seus princípios. Coerência a toda prova. Estou extremamente feliz.


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