sexta-feira, 1 de julho de 2016

Os Sete Pecados Capitais. Plenos Pecados.

A coleção Plenos Pecados foi uma idealização da editora Objetiva. Deve ter sido concebida em meados dos anos 1990. Deduzo isso pelo livro de Zuenir Ventura, o primeiro a ser lançado, no ano de 1998. Como ele demorou bastante para escrever, no mínimo uns dois anos, concluo que o projeto tenha sido concebido lá pelos anos 1995-96.

Quando eu ainda estava em sala de aula sempre brincava com os meus alunos, perguntando se eles conheciam os sete pecados capitais e quando eles respondiam que não eu emendava uma outra pergunta. Então como é que vocês se divertem?  Agora, após a leitura sobre todos eles percebi que nem todos se constituem numa diversão. O livro de Zuenir Ventura, inclusive tem o título de Mal Secreto. É sobre a inveja. Este pecado é inconfessável e certamente não dá nenhum prazer.

O projeto da editora foi um projeto maravilhoso. Se eu brincava com os meus alunos a respeito de suas diversões, o tema, no entanto, é absolutamente sério. Ele remete ao que é profundamente humano. Eles estão presentes ao lado de toda a construção histórica e cultural da humanidade. Sem grandes esforços de memória vejamos alguma coisa da cultura judaico cristã como a desobediência de Adão e Eva (porque desobedeceram?), o primeiro assassinato cometido na história bíblica - o crime de Caim contra o seu irmão Abel, e as cenas de bebida e Luxúria cometidas por Noé e, até o pecado cometido por Deus, na expulsão de Adão e Eva do paraíso, o pecado da ira.

E se fôssemos fazer estas incursões pela mitologia e pela literatura? Ou então os estudos que envolvem as patologias humanas?  Zuenir Ventura buscou informações sobre o pecado da inveja, junto a religiosos judaico-cristãos e africanos, além de psiquiatras e psicanalistas. Repressão e excessos estão sempre na ordem do dia. Mas como o tema é longo e quero apenas apresentar os livros da coleção, vamos lá. Eles são os seguintes. Vou enumerá-los e apresentá-los de acordo com o que consta nos próprios livros.
Uma amostra. A coleção tem uma edição padronizada.

SOBERBA - O voo da rainha - Tomás Eloy Martinez. A soberba é o mais prolífico dos vícios capitais. O autor constroi uma narrativa apaixonante, ao mergulhar no universo da arrogância masculina - 280 páginas.

LUXÚRIA - A casa dos Budas Ditosos. João Ubaldo Ribeiro. O relato de uma senhora de 68 que viveu plenamente a luxúria. João Ubaldo conta as peripécias sexuais e aventurosas dessa mulher que provocou a libido de homens e mulheres. 164 páginas.

GULA - O clube dos anjos. Luis Fernando Veríssimo. Uma insólita e bem humorada celebração da gula. Veríssimo conta a história de dez homens que se entregaram a essa afinidade animal, a fome em bando, sem temer a morte. 140 páginas.

IRA - Xadrez, truco e outras guerras. José Roberto Torero. O escritor e roteirista se inspira na Guerra do Paraguai para construir um romance em que ironia e sarcasmo revelam o lado pouco heroico de muitas guerras. 184 páginas.

INVEJA - Mal secreto. Zuenir Ventura. O livro mistura aventura e revelações, como um jogo tecido pela própria inveja, onde o mais importante não é o que se ganha, mas o que o outro perde. 268 páginas.

PREGUIÇA - Canoas e marolas. João Gilberto Noll. No seu texto de incomparável poesia, Noll apresenta uma nova visão da preguiça, mostrando o mais indolente dos pecados capitais. 108 páginas.

AVAREZA - Terapia. Ariel Dorfman. O autor nos leva a uma viagem tempestuosa e divertida pelos desejos de um empresário que aceita um tratamento nada ortodoxo, que o faz adaptar-se com seu lado mais obscuro. 171 páginas.

No livro de Tomás  Eloy Martinez, um dos mais bonitos por sinal, tem até uma pequena história destes pecados. Como não é tão longa, a transcrevo: "No século IV depois de Cristo, propagou-se nos mosteiros orientais certo temor dos vícios que podiam perturbar a aspiração dos monges a uma vida perfeita. O primeiro a estabelecer uma lista de vícios foi o anacoreta egípcio Evagrius Ponticus (346-399). Determinou que os essenciais eram oito e que deles derivavam todos os demais.

Mais tarde, outro eremita, o romeno Johannes Cassian (360-435), impôs a proibição absoluta dos oito vícios, convertendo-a em regra de ferro da vida monástica. O papa Gregório Magno estendeu essa proibição a toda a cristandade, ainda falando em oito pecados viciosos: inveja, ira, gula, luxúria, avareza, preguiça, soberba e vanglória. Foi Tomás de Aquino, por volta de 1250, quem fundiu os dois últimos em um só. Ao simplificar a soberba, tornou-a menos temível e involuntariamente a fomentou".

Uma curiosidade interessante é que Dante Alighieri, que fundamenta os seus círculos do Inferno nos pecados capitais, não considerou a inveja um pecado tão grave. Foi condescendente com os invejosos que o precederam e os colocou apenas no Purgatório.
A atualização dos pecados feita por Herkenhoff.


Também achei um belo livrinho em que os pecados capitais foram atualizados e as suas dimensões foram atualizadas. É um livrinho muito sério e profundamente humano. Estou falando de Os Novos Pecados Capitais, de João Baptista Herkenhoff. Nele os pecados ganharam as seguintes atualizações: A soberba se transformou em pretensão imperialista, ira em guerra, a inveja em complexo de inferioridade, a avareza em materialismo, a preguiça em individualismo, a gula em fome de lucro e a luxúria em consumismo.

Quem quiser se por no espelho e se conhecer um pouco melhor encontra nestes livros uma boa oportunidade. Também são extraordinários para presentear os amigos. Pena que muitos estejam com a edição esgotada.

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