quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Jango conversa com João Vicente (12) 2. Reforma Agrária.

As causas do golpe civil-militar de primeiro de abril de 1964 tem causas múltiplas. Mas, no cenário mais profundo, estavam sempre presentes o caráter de justiça social e de nacionalismo das reformas de base do governo João Goulart. Elas eram um conjunto de transformações que abrangiam o sistema bancário, fiscal, urbano, administrativo, agrário, educacional e eleitoral do país. Mas sem dúvida, a que mais mexeu com o imaginário popular e com o bolso da elite foi o seu projeto de reforma agrária. O pobre temia perder o que ele nunca teve e jamais teria.
Jango e João Vicente também dialogam sobre o sentido da reforma agrária.

Já ao final de 2016 o leitor brasileiro foi contemplado com um belo livro sobre o presidente João Goulart, escrito por seu filho João Vicente, que recupera as memórias dos tempos do exílio, passados no Uruguai, na Argentina e com passagens por cidades europeias, tendo Paris como destaque. As reformas de base ganharam um destaque todo especial no capítulo 7, Uma vida nova, dia após dia. E entre as reformas, a reforma agrária mereceu uma atenção toda especial. Acompanhemos o diálogo e os comentários, inseridos em Jango e eu - Memórias de um exílio sem volta.

" - Mas e as reformas no Brasil, porque foram tão atacadas?
- Era uma série de reformas, meu filho, mas a que mais doeu na classe alta foi a reforma agrária, pois atingiria os interesses dos poderosos. As elites nacionais são tão retrógradas que entendem que a terra é um ativo financeiro, independentemente de ser produtiva ou não, se cumpre a sua função social, que é produzir alimentos, ou não. A classe abastada quer as benesses retrógradas que o direito de propriedade eternamente protege e ampara por lei. Para elas, os menos favorecidos podem passar fome, pois em sua terra não entram nem para plantar uma espiga de milho; se quiserem, que comam sabugo. Mesmo não produzindo, queriam receber à vista, caso houvesse uma desapropriação de terras. Mas as reformas tinham que ser feitas, e a agrária foi uma das que atiçou o golpe, mas não me arrependo de ter me posicionado do lado dos mais fracos.

Sem dúvida, esse foi  o calcanhar de Aquiles da luta de Jango. Uma reforma agrária que há cinquenta anos se arrasta sem ser concluída no país. Hoje ela é tão ou mais necessária do que na época em que Jango a propôs.

Naquele tempo, 75% da população vivia no campo e apenas 25%, nas cidades, e mesmo assim já era difícil para as elites da oligarquia rural engolirem a perda de suas propriedades improdutivas. Imaginem como ficou essa relação hoje, em que os números se inverteram, e as grandes massas populacionais estão na periferia das grandes metrópoles, sem direito a educação, dignidade, emprego e assistência social. 

A reforma agrária se faz perto dos grandes centros urbanos, nas estradas e ferrovias federais valorizadas pelo investimento público, perto dos centros de consumo para incentivar o escoamento de produção e distribuição alimentar. É necessário defender essa iniciativa, que trará paz e desenvolvimento ao campo, desafogando as grandes metrópoles e diminuindo a violência, a escassez de emprego e a falta de oportunidades nas cidades. É uma luta imprescindível ao desenvolvimento social de nosso imenso país.
Bela biografia de Jango. Nela o tema da reforma agrária é longamente tratado.



Seu pensamento social me acompanha até hoje. Temos que mudar a postura da sociedade baseada na meritocracia: Jango, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Josué de Castro, Evandro Lins e Silva, San Tiago Dantas, Wilson Fadul, Armando Monteiro Filho, Raul Riff, Waldir Pires, Almino Afonso, Luis Salmerón e Hermes Lima tinham razão. Todos os integrantes do governo João Goulart, considerados incapazes pela ditadura, caíram de pé, caíram por seus acertos, pois não tinham apenas um projeto de governo, mais sim um projeto de nação". Estão aí também os principais nomes que acompanharam Jango em sua trajetória política. Diálogo e reflexões encontradas nas páginas 83 e 84 do livro.

Hoje o êxito brasileiro, se é que existe, se fundamenta no agro negócio. Por ele o Brasil produz alimentos, de preferência para os animais e, em troca ele absorve a maior parte dos venenos agrícolas produzidos pelas grandes corporações multinacionais. E assim o Brasil vive em paz. (Este último comentário não faz parte do livro, é meu).


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