sábado, 6 de janeiro de 2018

Histórias da gente brasileira. Volume 3 República. Memórias 1889 - 1950. Mary del Priore.

Sempre é muito agradável ler Mary del Priore. O livro da vez foi o Histórias da gente brasileira. Volume 3. República. Memórias (1889-1950). Lembrando que o primeiro volume da coleção fez a abordagem do Brasil colonial e o segundo, o período do império. Mais uma vez a autora primou pela originalidade, buscando nos grandes memorialistas os fatos e a sua interpretação deste período de nossa história. Ao final existe uma mini biografia destes notáveis, bem como os livros utilizados para a produção deste livro.
Neste livro os memorialistas brasileiros ganham voz.

A leitura corre fluente e agradável, por uma narrativa que sempre excita a curiosidade. É o mais longo dos livros da coleção, contando com 572 páginas. O primeiro volume tem 427 e o segundo 515. Três tópicos são apresentados e analisados. A primeira parte tem por título: Política, terra e trabalho; a segunda, Morar, consumir e comunicar e a terceira O relógio da vida: nascer, amar, perder. Acompanha ainda glossário, as mini biografias e as referências bibliográficas. No pequeno prefácio é apresentada a opção pelos memorialistas.

A primeira parte, Política, terra e trabalho, está dividida em 15 capítulos: 1.Tempo de mudanças e medo - cabeças cortadas. O foco está nos primeiros e difíceis anos da República Velha, a República da Espada e as revoltas regionais. 2. O Bota-abaixo e a Revolta da Vacina - Café amargo e leite azedo - A guerra de pelados e peludos. A análise foca a modernização e higienização na cidade do Rio de Janeiro e a política do Café com Leite e, ainda, a Guerra do Contestado. 3. Guerra de papel e guerra de sangue. O foco está na primeira guerra mundial, nas primeiras greves dos trabalhadores e na guerra entre federados e republicanos no Rio Grande do Sul. 4. A revolução esquecida e a outra sempre lembrada. Respectivamente, a de São Paulo, em 1924 e a Coluna Prestes.

5. O silêncio dos seringais e o vento soprando do sul. Versa sobre o ciclo da borracha e a instalação do governo Vargas. 6. São Paulo livre, civil e paulista. Versa sobre a elite paulista e Revolução de 1932, a constitucionalista. 7. A voragem, Anauê! Imundas prisões. São vários os temas: as Constituições de 1934 e 1937, a Intentona comunista e os integralistas e as prisões do Estado Novo, em Fernando de Noronha e Ilha Grande. 8. A cobra vai fumar!  for all ou forró. É sobre a participação brasileira na segunda guerra mundial e a maciça presença de soldados americanos em Natal. 9. A guerra em casa. O tema é a imigração e a configuração e organização partidária na política brasileira. 10. O "Pai dos Pobres". Versa sobre o "populismo" e a guerra fria, sobre o nacionalismo versus imperialismo.

11. O aprendizado das cidades. Do norte ao nordeste. É a vida urbana surgindo e a separação classista do povo pelos bairros das cidades, os cortiços e as favelas e mais as capitais do nordeste. 12. Babel e Babéis. Sobre as grandes metrópoles de São Paulo e Belo Horizonte. 13. Caipiras, caiporas e jecas-tatus. A estigmatização de Monteiro Lobato ocupa a centralidade. 14. O último dos brasis e a descoberta da praia. Rondon, o SPI e a interiorização e os hábitos dos banhos e trajes à beira mar. 15. Os trabalhos e os dias: desordem e progresso. A vida urbana, os trabalhadores, a ascensão da classe média, a legislação trabalhista e o trabalho feminino.

A segunda parte, morar, consumir e comunicar, está dividida em 14 capítulos. 1. Tempos modernos: nas asas e nos trilhos. No ar, os aviões e nos trilhos, trens e bondes. 2. Fom-Fom: sai da frente que eu quero passar. É fácil imaginar que este capítulo trata da emergente indústria automobilística. 3. Morar bem ou morar mal. São mostrados os contrastes entre os ricos palacetes e os subúrbios urbanos e, ainda, o surgimento dos primeiros conjuntos habitacionais para os trabalhadores. 4. A era de ouro do rádio. As primeiras transmissões, Vargas e a sua utilização política, os artistas do rádio e as fofocas e, depois da guerra, o surgimento da televisão. 5. Alimentação: costumes, saberes e sabores. A melhora da conservação com a geladeira é um dos focos, assim como os vendedores ambulantes.

6. A fome e como saciá-la. Versa sobre a fome e os hábitos alimentares e sobre o que se comia. 7. A vida pós abolição. Um capítulo muito forte sobre o triste dia seguinte. Postos à margem. A decadência do Vale do Paraíba. 8.Tudo limpo? Ainda não... Sobre limpeza, higiene e a higiene pessoal. 9. Diversões das cidades grandes e pequenas. Bailes e danças, o teatro e suas coristas e o circo. 10.O encanto da tela, da música e da conversinha. O cinema e as revistas sobre ele e o incendiar do imaginário. Serenatas, conversas e mexericos.

11. Ala-la-ôoo ôoo ôoo. É óbvio que é sobre o carnaval e a sua evolução, dos cordões aos ranchos e às escolas e, ainda, os clubes. 12. Festas de santos ainda e sempre. Sobre as festas juninas e as diferentes festas regionais. 13. Do sport ao esporte. A questão feminina e os esportes, a sexualidade e os trajes da natação e, enfim, o futebol. 14. No espelho, espelho meu, elas e eles. Sobre os hábitos de higiene pessoal e artigos de beleza e moda.

A terceira parte, o relógio da vida: nascer, amar, perder, está dividido em dez capítulos. 1. Duzentos e setenta dias mais ou menos. Sexualidade, parto e maternidade é o tema. 2. Os primeiros anos. os primeiros passos. Os memorialistas contam  de sua infância, de trabalhos e brinquedos. 3. Primeiras letras. O tema é a escola e são apresentados relatos sobre o processo, especialmente, sobre os castigos físicos. 4. Adolescência: descobertas e "desejos em botão". As descobertas do corpo e a sexualidade, a sua iniciação. O feminino e o masculino. 5. Namoros: os "sérios" e os outros. Os diferentes passos e costumes.

6. Felizes ou infelizes para sempre. Versa sobre comportamentos adequados, separações, desquites e a infidelidade. 7. Amores à margem, amores proibidos. Versa sobre os "amores invertidos" e sobre os processos de "cura". 8. De cama: infecções, doenças e outros males. As diferentes epidemias, espanhola, tuberculose, febre amarela, sífilis, a saúde pública e assistência médica. 9. Coração de luto. Uma referência a música do Teixeirinha. Versa sobre a morte, luto, enterros e cemitérios. 10. O país do futuro ou um país de futuro? É um pequeno capítulo recheado de dúvidas e interrogações sobre o futuro deste país. Stefan Zweig é tomado como referência. E é anunciado o quarto volume da coleção: O turbilhão dos anos 1951 a 2000.

Um livro muito prazeroso de se ler. Mary del Priore mostra o quanto realmente conhece o Brasil, conhece os memorialistas e os usa com a devida e plena adequação. Boa leitura.




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