sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Europa 2019. 6. DÜSSELDORF - ZOLLVEREIN - HAMELIN - HANNOVER.

24 de julho. Quarta feira. No dia de hoje conheceríamos a região que tornou a Alemanha poderosa. A Alemanha dos vales do rio Reno e do Ruhr. A Alemanha que fez a Revolução Industrial. A Alemanha da mineração do carvão e da siderurgia, da indústria pesada. A Alemanha em suas origens, com a concepção do Zollverein, o embrião do que viria a ser a Alemanha. O Zollverein (1834) foi uma união aduaneira de 39 estados, sob a inspiração da Prússia, que ficou atuante até 1871, o ano da unificação, ou do surgimento da Nação alemã. É também a região alemã mais densamente povoada.
Zollverein. União aduaneira, industrialização e origens da Alemanha.

Estive nesta região no ano de 1995, quando participei de cursos de formação sindical, num convênio entre a CUT e a DGB (Deutscher Gewerkschaftsbund), a poderosa central sindical alemã, com sede em Düsseldorf. Passei a primeira semana da minha estadia na cidade de Duisburg, uma espécie de Volta Redonda alemã, se é que esta comparação pode ser feita. Fui indicado para esta participação por um requisito que me privilegiou, saber a língua alemã, que eu herdei de berço. Vim aprender o português, apenas na escola. Foi um aprendizado maravilhoso.
Düsseldorf, às margens do rio Reno.

Düsseldorf é uma cidade que se reinventou. Após a fase da indústria pesada, ela virou a capital da moda e da publicidade. Nela tem sede mais de 600 grandes agências. A cidade remonta ao século XVIII e o seu centro histórico preserva esta memória. Grandes marcas internacionais são comandadas a partir desta cidade. É totalmente cosmopolita, abrigando, inclusive, a maior colônia japonesa da Alemanha. Percorremos o seu centro histórico, às margens do Reno, até a praça do mercado. O cineasta Wim Wenders é um filho seu, ilustre.
A caminho da praça do mercado.

Seguimos na mesma região, a que engloba as cidades de Dortmund, Duisburg, Wuppertal, Bochum e Essen, no vale do Ruhr, o antigo centro industrial alemão. Em Essen visitamos a famosa mina do carvão, Patrimônio Cultural da Humanidade, que é a marca maior do poder econômico alemão, originário de sua industrialização, possibilitada pelas suas imensas minas. Estas foram desativadas em 1986. Em uma dessas minas foi instalado o Museu da Mina, Patrimônio Cultural da Humanidade. Do ponto de vista histórico foi a visita mais importante que fizemos ao longo de todo o tour.
Um bloco do precioso minério e um de seus marcos.


A cidade e a região se reinventaram para preservar o seu poder econômico. Passaram a ganhar dinheiro, muito dinheiro, a partir do imaginário. Essen é hoje a capital do Design e do planejamento e arquitetura urbana. A Universidade de Duisburg-Essen é considerada como a primeira universidade do século XXI. Possui em torno de 40.000 alunos. Nesta região nasceu, ou se desenvolveu, também a concepção arquitetônica conhecida sob o nome de Bauhaus, o modernismo na arquitetura e no design. A Bauhaus exerceu uma das maiores influências mundiais em termos de concepção arquitetônica. E, por incrível que pareça, a cidade de Essen, a capital da coqueria e siderurgia se transformou na capital verde da Alemanha. Um dia extraordinário. Me lembrei de 1995, quando às margens do Ruhr, eu me cutucava e perguntava se era eu mesmo que estava ali. Aula viva e de extrema importância da história mundial. É óbvio que nem todos apreciaram.
As boas vindas ao mundo do Design. O poder do imaginário, da concepção.

O próximo destino seria bem mais leve. Enveredaríamos para a literatura. O destino seria a cidade de Hamelin. Hamelin lembra a história da flauta mágica. Nesta cidade os ratos se transformaram na grande atração turística. Eles estão nas calçadas, nos cardápios bem humorados dos restaurantes, nos souvenirs, na carne enlatada e nos raticidas. O conto é do folclore alemão, recolhido e tornado famoso através dos irmãos Grimm. A história é simples. O rato é um dos mais temidos animais, devido a transmissão da peste negra ou da peste bubônica. Inúmeras cidades tem colunas de preces para o extermínio da praga. Hamelin estava acometida desta peste e o rei ofereceu um saco de moedas de ouro para quem oferecesse uma solução para o caso.
O homem que com a sua flauta eliminou a praga dos ratos.

Aí entra em cena o flautista mágico, que topou a proposta. Tocou a flauta e encantou os ratos. Ele foi tocando e andando e levou os ratos até o rio Weser, onde eles se afogaram. Indo ao rei, receber a recompensa, o rei a recusou, alegando que ele nada fizera. O flautista não se intimidou e foi com a sua flauta tocar em frente a igreja. Desta vez encantou as crianças, levando-as até um monte, onde as crianças se perderam. Como percebem, a história tem um fundo moral. Trouxe o souvenir dos ratos para meus netos e agora vou comprar a história, devidamente ilustrada. Vejam o final da história, contada pela Wikipédia: "Na cidade, só ficaram opulentos habitantes e repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza. E foi isso que se sucedeu há muitos, muitos anos, na deserta e vazia cidade de Hamelin, onde, por mais que se procure, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança".
A flauta mágica e os ratos fizeram a fama de Hamelin.

O final do dia seria na cidade de Hannover. Esta também me avivou a memória. Lembrei perfeitamente da igreja em destroços e preservada como memória e das maquetes da cidade no prédio da prefeitura, mostrando a mesma antes e depois da guerra. Ela foi intensamente bombardeada. Nas suas imediações se localiza o campo de concentração de mulheres, de Bergen Belsen, onde esteve aprisionada Anne Frank. Estive neste campo em 1995, levado pelo Karl, um ser humano maravilhoso, que na época era um trabalhador aposentado da Volkswagen. Hannover é hoje uma cidade moderna, que conta com cerca de 500 mil habitantes. São famosas as Messe, as exposições, especialmente, as ligadas à robótica. O que aparece de novo no mundo - será mostrado em Hannover, diz uma propaganda da cidade. É também uma forte região agrícola e sede dos pneus da Continental. Já esteve vinculada à Coroa britânica. Nas proximidades está a cidade de Celle, belíssima, e a pequena Bad Minden, onde estive em 1995, uma semana em cada, participando de um seminário sobre ecologia e com o Betriebsrat da VW.
Uma igreja em destroços e outra com a homenagem ao reformador Lutero.

Nos hospedamos no Maritim, um hotel que por compromissos com reservas, recusou hospedagem para o presidente Obama e comitiva. Mas reunia as condições para tal. Fizemos tour pela cidade, tanto ao final da tarde, quanto pela manhã. Nesta manhã seguinte, o último dia deste tour, voltaríamos a Berlim, passando pela encantadora e mágica cidade das letras, Goslar, uma cidade dividida entre minas, bruxas e muita literatura.

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