No ano de 2018 comemoramos os 50 anos do lançamento do livro Pedagogia do Oprimido, do Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire. Como o grupo de professores que integra a chamada APP-Independente, um grupo que faz oposição à atual direção da APP-Sindicato, tem na formação um de seus pilares básicos, aproveitou esta efeméride para promover a leitura de sua obra, fundamental e necessária, tanto para a prática educativa, quanto para a sindical. Os núcleos sindicais da APP. - Curitiba Norte e Londrina se responsabilizaram pela realização da tarefa.
Pedagogia da autonomia. O livro testamento de sua presença no mundo.
Pedagogia da autonomia. O livro testamento de sua presença no mundo.
Parcerias foram procuradas para aliar aos trabalhos de formação, a progressão na carreira, de todos os envolvidos na educação, funcionários e professores. Fomos à UFPR e firmamos uma parceria com o NESEF e o DEPLAE, ambos do setor de educação desta universidade. O NESEF emitiria um certificado de participação no seminário de leituras, fixadas em setenta horas. Junto aos parceiros, cinco livros foram escolhidos. O formato constou de abertura, quatro encontros que seriam feitos pelos grupos de leitura e, estas experiências de grupo seriam relatadas em um encontro final. Mais de quarenta grupos foram formados, envolvendo mais de quinhentos educadores, das mais diversas cidades paranaenses.
O grupo considerou a experiência altamente exitosa e resolveu repeti-la, dando-lhe porém outro formato, deliberado junto com os parceiros da UFPR, desta vez com o acréscimo, também do Instituto Federal do Paraná, campus Curitiba e do GTPR-APUFpr. O livro de leitura escolhido foi Pedagogia da Autonomia - saberes necessários à prática educativa, que terá interfaces com os temas educacionais que estão sendo debatidos nas escolas. Isso foi considerado absolutamente relevante diante do quadro da atual política brasileira, que numa só palavra, reduz os conceitos e as práticas educativas da formação a meros treinamentos, atendendo aos interesses do mercado.
Bem, diante disso, li o livro. Pedagogia da autonomia - saberes necessários à prática educativa é a última obra de Paulo, publicada em vida, no ano de 1996. Ele integra a última fase de sua vida, quando deixou a Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo, exatamente com a finalidade de escrever, de deixar o seu legado definitivo. Nita, a sua companheira assim se refere ao livro, nos dois últimos parágrafos da sua apresentação, em suas orelhas:
"Quanto mais nos aprofundamos na leitura deste livro mais percebemos que Paulo se fez texto! O seu bem-querer pelos seres humanos, a gentidade de seu eu pessoa/eu educador e a sua fé na educação estão vivamente presentes, evidenciando ter sido um apaixonado pelo mundo e pela vida.
Pedagogia da autonomia sintetiza a sua pedagogia do oprimido e o engrandece como gente. É o livro-testamento de sua presença no mundo. Ofereceu-se nela por inteiro na sua grandeza e inteireza". Destaco, "é o livro-testamento de sua presença no mundo".
Na minha visão Pedagogia da autonomia é, antes de tudo. um livro de humanidade, de amor à humanidade. A partir disso, reflexões simples, porém profundas, passam a ser feitas. São estabelecidas as condições para que a prática pedagógica conduza efetivamente o ser humano à sua condição de humanidade. Eu formularia uma síntese, nos seguintes termos: somos seres inconclusos que estão em permanente busca de sua completude. É uma grande reflexão sobre as características fundamentais do ser humano, do ponto de vista da emancipação e não da perspectiva da dominação. Por isso, para o educador, torna-se necessário revestir-se da esperança e da utopia, desfazendo-se dos determinismos e fatalismos que impedem uma visão transformadora e humanizadora de mundo.
O livro é dividido em três partes: Na primeira são feitas algumas reflexões básicas da prática docente, com a afirmação de que não existe docência sem discência; na segunda, parte-se do princípio de que ensinar não é uma simples transferência de conhecimentos e na terceira, se afirma que o ato de ensinar é um ato da especificidade humana. Em cada capítulo, algumas questões são sugeridas para embasar a formação docente. São nove tópicos em cada capítulo. Vejamos:
No primeiro, as primeiras reflexões, temos: 1. ensinar exige rigorosidade metódica; 2. Ensinar exige pesquisa; 3. Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos; 4. Ensinar exige criticidade; 5. Ensinar exige estética e ética; 6. Ensinar exige a corporificação das palavras pelo exemplo; 7. Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; 8. Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática; 9. Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural.
No segundo, as reflexões em torno de que o ensinar não é transmitir conhecimento, temos: 1. Ensinar exige consciência do inacabamento; 2. Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado; 3. Ensinar exige respeito à autonomia de ser do educando; 4. Ensinar exige bom-senso; 5. Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores; 6. Ensinar exige apreensão da realidade; 7. Ensinar exige alegria e esperança; 8. Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível; 9. Ensinar exige curiosidade.
No terceiro, que ensinar é uma especificidade humana, temos: 1. Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade; 2. Ensinar exige comprometimento; 3. Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo; 4. Ensinar exige liberdade e autoridade; 5. Ensinar exige tomada consciente de decisões; 6. Ensinar exige saber escutar; 7. Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica; 8. Ensinar exige disponibilidade para o diálogo; 9. Ensinar exige querer bem aos educandos.
Quero destacar os múltiplos "estudar exige". São as exigências que se põe para um educador progressista e humanista. Não são mandamentos. São proposições para iniciar trabalhos de formação, proposições para o diálogo em seu entorno, que elevam o ser docente para uma maior compreensão de sua tarefa, de um ser no mundo, sempre inconcluso, em busca do "ser mais". Deixo ainda um texto de filosofia, que, no meu entendimento, ajuda a compreender o ser humano em suas características fundamentais:
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2018/02/o-homem-ser-no-mundo-caracteristicas.html
E um convite. Participem no nosso segundo ciclo de leituras de Paulo Freire, acrescido de reflexões sobre conceitos e práticas educativas desses nossos novos e terríveis tempos. Procure a APP Independente.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2222756824512822&set=a.136654553123070&type=3&theater
E, um pouco da beleza do texto de Freire, já na parte final do livro: "É esta percepção do homem e da mulher como seres "programados para aprender" e, portanto, para ensinar, para conhecer, para intervir, que me faz entender a prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos. Como prática estritamente humana jamais pude entender a educação como uma experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma espécie de ditadura racionalista. Nem tampouco jamais compreendi a prática educativa como uma experiência a que faltasse o rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual".
PS. Já ia publicar o post quando, na leitura do belo livro da Lilia Moritz Schwarcz, Sobre o autoritarismo brasileiro, me deparo com a "escola perfeita", do livro Contos plausíveis. de Carlos Drummond de de Andrade. Como seria esta escola? A resposta está na página 151: "Era uma escola festiva, em que os macacos, as borboletas, os seixos de estrada não só faziam parte do material escolar como davam palpites sobre a matéria, por esse ou aquele modo peculiar a cada um deles. O entusiasmo foi tamanho que pais e filhos chegaram à conclusão que melhor fora transformar o estabelecimento, já então sem sede fixa nem necessidades de tê-la, numa escola natural de coisas, em que tudo fosse objeto de curiosidade, sem currículo, e sem diploma, onde todos aprendem de todos, na maior alegria e falta de cerimônia, até que o Incra ou outro organismo civilizador qualquer se lembre de dividir as terras de Sambaíba em fatias burocráticas e legais. Será a escola perfeita".
"Quanto mais nos aprofundamos na leitura deste livro mais percebemos que Paulo se fez texto! O seu bem-querer pelos seres humanos, a gentidade de seu eu pessoa/eu educador e a sua fé na educação estão vivamente presentes, evidenciando ter sido um apaixonado pelo mundo e pela vida.
Pedagogia da autonomia sintetiza a sua pedagogia do oprimido e o engrandece como gente. É o livro-testamento de sua presença no mundo. Ofereceu-se nela por inteiro na sua grandeza e inteireza". Destaco, "é o livro-testamento de sua presença no mundo".
Na minha visão Pedagogia da autonomia é, antes de tudo. um livro de humanidade, de amor à humanidade. A partir disso, reflexões simples, porém profundas, passam a ser feitas. São estabelecidas as condições para que a prática pedagógica conduza efetivamente o ser humano à sua condição de humanidade. Eu formularia uma síntese, nos seguintes termos: somos seres inconclusos que estão em permanente busca de sua completude. É uma grande reflexão sobre as características fundamentais do ser humano, do ponto de vista da emancipação e não da perspectiva da dominação. Por isso, para o educador, torna-se necessário revestir-se da esperança e da utopia, desfazendo-se dos determinismos e fatalismos que impedem uma visão transformadora e humanizadora de mundo.
O livro é dividido em três partes: Na primeira são feitas algumas reflexões básicas da prática docente, com a afirmação de que não existe docência sem discência; na segunda, parte-se do princípio de que ensinar não é uma simples transferência de conhecimentos e na terceira, se afirma que o ato de ensinar é um ato da especificidade humana. Em cada capítulo, algumas questões são sugeridas para embasar a formação docente. São nove tópicos em cada capítulo. Vejamos:
No primeiro, as primeiras reflexões, temos: 1. ensinar exige rigorosidade metódica; 2. Ensinar exige pesquisa; 3. Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos; 4. Ensinar exige criticidade; 5. Ensinar exige estética e ética; 6. Ensinar exige a corporificação das palavras pelo exemplo; 7. Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; 8. Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática; 9. Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural.
No segundo, as reflexões em torno de que o ensinar não é transmitir conhecimento, temos: 1. Ensinar exige consciência do inacabamento; 2. Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado; 3. Ensinar exige respeito à autonomia de ser do educando; 4. Ensinar exige bom-senso; 5. Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores; 6. Ensinar exige apreensão da realidade; 7. Ensinar exige alegria e esperança; 8. Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível; 9. Ensinar exige curiosidade.
No terceiro, que ensinar é uma especificidade humana, temos: 1. Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade; 2. Ensinar exige comprometimento; 3. Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo; 4. Ensinar exige liberdade e autoridade; 5. Ensinar exige tomada consciente de decisões; 6. Ensinar exige saber escutar; 7. Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica; 8. Ensinar exige disponibilidade para o diálogo; 9. Ensinar exige querer bem aos educandos.
Quero destacar os múltiplos "estudar exige". São as exigências que se põe para um educador progressista e humanista. Não são mandamentos. São proposições para iniciar trabalhos de formação, proposições para o diálogo em seu entorno, que elevam o ser docente para uma maior compreensão de sua tarefa, de um ser no mundo, sempre inconcluso, em busca do "ser mais". Deixo ainda um texto de filosofia, que, no meu entendimento, ajuda a compreender o ser humano em suas características fundamentais:
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2018/02/o-homem-ser-no-mundo-caracteristicas.html
E um convite. Participem no nosso segundo ciclo de leituras de Paulo Freire, acrescido de reflexões sobre conceitos e práticas educativas desses nossos novos e terríveis tempos. Procure a APP Independente.
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E, um pouco da beleza do texto de Freire, já na parte final do livro: "É esta percepção do homem e da mulher como seres "programados para aprender" e, portanto, para ensinar, para conhecer, para intervir, que me faz entender a prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos. Como prática estritamente humana jamais pude entender a educação como uma experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma espécie de ditadura racionalista. Nem tampouco jamais compreendi a prática educativa como uma experiência a que faltasse o rigor em que se gera a necessária disciplina intelectual".
PS. Já ia publicar o post quando, na leitura do belo livro da Lilia Moritz Schwarcz, Sobre o autoritarismo brasileiro, me deparo com a "escola perfeita", do livro Contos plausíveis. de Carlos Drummond de de Andrade. Como seria esta escola? A resposta está na página 151: "Era uma escola festiva, em que os macacos, as borboletas, os seixos de estrada não só faziam parte do material escolar como davam palpites sobre a matéria, por esse ou aquele modo peculiar a cada um deles. O entusiasmo foi tamanho que pais e filhos chegaram à conclusão que melhor fora transformar o estabelecimento, já então sem sede fixa nem necessidades de tê-la, numa escola natural de coisas, em que tudo fosse objeto de curiosidade, sem currículo, e sem diploma, onde todos aprendem de todos, na maior alegria e falta de cerimônia, até que o Incra ou outro organismo civilizador qualquer se lembre de dividir as terras de Sambaíba em fatias burocráticas e legais. Será a escola perfeita".
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