terça-feira, 10 de março de 2020

A terra inabitável. Uma história do futuro. David Wallace-Wells.

"Se você chegou até aqui, é um leitor corajoso. Cada um desses doze capítulos contém, por direito próprio, horror suficiente para induzir um ataque de pânico até nos de imaginação mais otimista. Mas você não está apenas imaginando esse horror; está prestes a vivê-lo. Em muitos casos, em muitos lugares, já o está vivendo.

Na verdade, o que é talvez mais notável em toda a pesquisa sumarizada até este ponto - relativa não só a refugiados, saúde do corpo e saúde mental, mas também a conflitos, oferta de alimentos, nível do mar e todos os demais componentes da desordem climática - é o fato de ser uma pesquisa emergindo do mundo como o conhecemos hoje. Ou seja, um mundo apenas 1ºC mais quente; um mundo ainda não desfigurado e obliterado além do reconhecimento; um mundo unido na maior parte em torno de convenções concebidas numa era mais parecida com o caos climático; um mundo que apenas começamos a perceber".
O meteoro A terra inabitável - uma história do futuro. Companhia das Letras 2019.

É o que lemos às páginas 169 e 170 do livro A terra inabitável - uma história do futuro de David Wallace-Wells, lançado no Brasil pela Companhia das Letras em 2019. Na capa do livro lemos: "A terra inabitável atinge o leitor como um meteoro". Como é difícil imaginar o que seja ser atingido por um meteoro, a não ser a destruição total, creio que também seja difícil imaginar o que virá a ser o desastre climático/ambiental. As dimensões gigantescas e a não percepção do tempo, num prazo um pouco mais longo, tornam possível o não assustar-se. Acrescentem-se a isso, ainda as inúmeras afirmações em torno da possibilidade de que a técnica possa resolver todos os problemas. O título do livro, porém, é enfático: A terra inabitável.

Na contracapa do livro ainda lemos, sob forma de advertência: "É pior do que você imagina. O ritmo lento atribuído à mudança climática é um mito, talvez tão pernicioso quanto aquele que nega sua existência. Calor letal, fome, inundações, incêndios, piora da qualidade do ar, desertificações, morte dos oceanos, colapso econômico... Essa é só uma amostra do que está por vir. E virá rápido. Se não revolucionarmos completamente a maneira como bilhões de seres humanos vivem, grande parte do planeta se tornará inabitável até o fim deste século.

Ao palco do nosso futuro próximo, David Wallace-Wells traz não só o caos climático, mas também as mudanças políticas e culturais que afetarão o mundo que conhecemos, promovendo, promovendo uma metamorfose radical na forma como entendemos a vida. A terra inabitável é uma história da devastação que provocamos a nós mesmos e também um chamado à ação. Um livro corajoso e desafiador sobre os problemas que o século XXI enfrentará por causa do aquecimento global".

O livro, de 374 páginas, está dividido em quatro partes: I. Cascatas, uma espécie de introdução um pouco mais longa; II. Elementos do Caos, que é, praticamente, a questão central do livro. Cada um dos elementos do caos se constitui numa espécie de sub capítulo. São eles: calor letal; fome; afogamento; incêndios florestais; desastres não mais naturais; esgotamento da água doce; morte dos oceanos; ar irrespirável; pragas do aquecimento; colapso econômico; conflitos climáticos e "sistemas". III. O caleidoscópio climático, também divido em subcapítulos: Narrativas; capitalismo de crise; igreja da tecnologia; política do consumo; história depois do progresso e ética do fim do mundo. IV. O princípio antrópico. Agradecimentos e notas completam o livro.

O livro aponta para o caos que se estabelecerá no mundo em questão de não muito tempo. Confesso que tenho certa dificuldade em ler sobre o tema. Muitas hipóteses e suposições. Se aumentar tanto, mas se aumentar tanto mais, acontecerá isso e aquilo, mas tenho também a certeza de que são leituras necessárias. É preciso conhecer. A informação correta é o primeiro passo para a tomada de consciência e o levar às ações necessárias, em decorrência dos fatos. Essas questões afetam, não apenas o coletivo da humanidade mas também as pessoas, individualmente. Gera também um "clima" no mundo subjetivo das pessoas.

Na terceira parte, a do caleidoscópio climático, o autor estabelece importantes relações entre as mudanças climáticas e o mundo da política, bastante distante do problema, especialmente, sob a ótica do neoliberalismo. Cita o notável livro A Doutrina do Choque - A ascensão do capitalismo de desastre, de Naomi Klein, mas eu quero dar destaque a duas observações que me chamaram muito a atenção em função de sua origem. A primeira é relativa a um documento do FMI: "Em 2016, o FMI publicou um artigo intitulado 'Neoliberalismo: Gato por lebre?' - logo o FMI". A segunda, de Paul Romer, economista chefe do Banco Mundial, que "propôs que a macroeconomia, a 'ciência' do capitalismo, era uma espécie de disciplina fantasiosa, equivalente à teoria das cordas, hoje sem um papel legítimo em descrever o funcionamento preciso da economia real". O texto segue, afirmando que em 2018, Paul Romer foi contemplado com o Nobel de economia (As duas observações se encontram à pagina 202).
O notável livro de Naomi Klein, Nova Fronteira. 2008.

Deixo ainda uma breve mas dura advertência contida na orelha do livro: "Se você não quer que nossos netos nos odeiem, precisa ler este livro". O autor é jornalista e trabalha como editor da New York Magazine. Escreve principalmente sobre ciência e o futuro do planeta. Vive em Manhattan. No livro também é citada a Amazônia e o "caos" Bolsonaro.


2 comentários:

  1. Respostas
    1. E como, Leni. O pior é que isso já não assusta mais as maiorias imbecilizadas por esse governo de imbecis destruidores, tanto da natureza, quanto processo civilizatório. Agradeço o seu comentário.

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