domingo, 5 de julho de 2020

Romeu e Julieta. Shakespeare.

Esses tempos de pandemia nos trazem desassossegos, mesmo com aparente sossego total. O fato de não sair de casa, de não rever os amigos, de não satisfazer pequenos caprichos propiciam um clima um tanto depressivo. O frio também colabora. Bem, assim procuro me ocupar com coisas mais leves, como livros menores, entenda-se - não tão longos, ou então, como no caso, de releituras. Foi assim que retomei Romeu e Julieta, do mestre maior William Shakespeare.

Romeu e Julieta não é apenas uma tragédia. São várias. Não são apenas Romeu e Julieta as vítimas, há também Teobaldo, Páris e a mulher do chefe dos Montéquio. E há também a história inconclusa do bom e prestativo frei Lourenço. E uma descoberta. O plano de frei Lourenço só não deu certo em função de uma pandemia. Uma barreira sanitária impediu que os freis mensageiros pudessem seguir de Verona para Mântua e entregar a Romeu a carta com as ações finais traçadas para salvar o famoso casal. E aí, haja tragédia!  

Bem, vamos a algumas contextualizações. Shakespeare nasce em 1564 e morre em 1616. Essa tragédia foi encenada pela primeira vez em 1594, no auge do chamado teatro elizabetano. É das peças de Shakespeare em que ele mais mostra as sua habilidades. Afinal de contas, histórias e mesmo tragédias de amor não são fatos tão raros. A genialidade está então na forma de narrar. Os jovens enamorados pertenciam a famílias rivais. Romeu era Montéquio e Julieta era Capuleto. O Príncipe tinha poderes e estes já eram respeitados. Ele era obedecido. Mas o ódio era maior e, com isso, as transgressões. A peça se desenvolve através de cinco atos.

No primeiro ato são mostradas as rivalidades entre as duas famílias e as advertências do Príncipe, que puniria com a morte as transgressões. Os Capuleto dão uma festa e o atrevido Romeu comparece. Julieta tem então 14 anos incompletos. Trocam beijos e as paixões se incendeiam. São seis cenas. No segundo ato entra em cena o pátio da casa dos Capuleto, hoje um dos lugares mais famosos, e conhecidos do mundo. Romeu pulara a cerca e se posta abaixo de sua janela. As juras de amor rompem a madrugada. Romeu busca conselhos com Frei Lourenço, certamente um grande co- protagonista da tragédia. A ama de Julieta servirá de pombo-correio entre os envolvidos. Quando Julieta vai se confessar com o frei Lourenço ele os casa em cerimônia simples. São mais seis cenas.

No terceiro ato começa propriamente a tragédia. As famílias se envolvem em confusão e Teobaldo (dos Capuleto) mata Mercúrio (dos Montéquio) Romeu mata Teobaldo, o primo de Julieta. Romeu é punido com o exílio, que deverá ser cumprido em Mântua. O frei Lourenço mediará as situações favoráveis aos noivos, enquanto que, na casa dos Capuleto se trama o casamento imediato da menina com Páris, parente do Príncipe. A ama de Julieta dá uma de grande sem vergonha. Hoje diríamos, uma moral líquida, de acordo com as conveniências. São mais cinco atos.

O quarto ato tem cinco cenas e o quinto três. Não vou entregar a narrativa para não tirar o suspense. Nesses atos temos, de um lado a movimentação de Romeu e de Julieta, articuladas pelo frei Lourenço e de outro a família dos Capuleto querendo apressar o casamento com Páris, preparando uma festa que deveria ser inesquecível. Como já citei, uma barreira sanitária frustrou as comunicações e a tragédia assumiu efetivamente proporções descomunais. Julieta tivera premonições do que poderia ocorrer.

Uma dica do enredo, a retiro da contracapa da edição da L&PM Pocket: "O amor apresenta-se à vida de Romeu e Julieta de modo traiçoeiro: ambos apaixonam-se instantaneamente, em uma festa - um baile de máscaras -, desconhecendo a identidade um do outro. Ele é filho dos Montéquio, e ela, dos Capuleto, duas das mais poderosas famílias de Verona, inimigas entre si. Desobedecendo às restrições familiares e políticas, eles vivem a sua paixão explosiva e desesperançada, naquela que se tornou a mais famosa história de amor da literatura ocidental, além de uma das mais populares tragédias shakespearianas".

Aproveito para fazer dois destaques dessas partes finais. A primeira se passa em Mântua quando Romeu suborna um pobre boticário para lhe comprar o veneno, apesar da proibição. Romeu entrega-lhe o dinheiro da encomenda: "Aqui está o ouro, o pior veneno para a alma humana, o que comete mais assassinatos nesse mundo detestável - mais que esses pobres compostos que o senhor está impedido de vender. Sou eu quem estou lhe vendendo veneno; o senhor não me vendeu nenhum. Adeus. Compre comida, e acrescente carnes a esse seu esqueleto. - Venha licor estimulante. Não és veneno. Vamos até a sepultura de Julieta, pois é lá que devo te usar".

A segunda é a fala do Príncipe, depois da tragédia consumada e esclarecida com a carta de frei Lourenço: "Esta carta corrobora as palavras do frei: o andamento do amor dos dois, a notícia da morte de Julieta, e aqui ele escreve que comprou veneno de um pobre boticário, depois do que veio até a cripta, para morrer e deitar-se com Julieta. - Onde estão os inimigos? - Capuleto! - Montéquio! - Vejam que maldição recaiu sobre o ódio de vocês, que até mesmo os céus encontraram meios de matar, com amor, as vossas alegrias! E eu, por fechar meus olhos às vossas discórdias, também perdi dois de minha família. Fomos todos punidos.
No pátio, abaixo da janela de Julieta.

Por fim temos a fala dos dois chefes das famílias, expressando arrependimento e mandando construir estátuas de ouro para as pobres vítimas dessas inimizades. Eu estive em Verona. Estive no pátio, abaixo da janela, onde Romeu e Julieta trocavam as suas juras de amor. Estive com o mais famoso casal de amantes infelizes, que o gênio de Shakespeare legou à humanidade, junto com uma mensagem de paz e de entendimento. E, sem nenhuma condenação moral.

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