sábado, 18 de julho de 2020

Guerra e Paz. Leon Tolstói. Volume II.

Antes de iniciar a resenha do volume II de Guerra e paz, de Leon Tolstói, creio ser necessário voltar à apresentação do livro (da L&PM) feita por Ivan Pinheiro Machado, sobre o teor do livro. Antes lembrando, que no volume II, são mais 378 páginas, divididas em cinco partes. Mas vamos ao comentarista:
Guerra e paz, volume II. L&PM. 

"Oficial do exército russo, veterano de várias batalhas, Tolstói conheceu os horrores e a irracionalidade da guerra. E todo o seu pacifismo e seu repúdio às guerras está registrado em Guerra e Paz. Tolstói é também meticuloso ao extremo no que diz respeito à verdade histórica; são absolutamente precisas as descrições das batalhas e as 'participações' de Napoleão, do tsar Alexandre I e do generalíssimo Kutuzov, comandante-geral das tropas russas. A trama ficcional se justapõe aos acontecimentos reais. A frivolidade de Ana Mikailovna, a bravura dos aristocratas André Bolkonski, Nicolau Rostov, a figura fascinante e controvertida do conde Pedro Bezukov, a apaixonante Natacha, a bela e pérfida Helena Bezukov, o ambiente de uma sociedade traumatizada pelo terror da guerra que a tudo destrói e separa os amantes - tudo está em Guerra e Paz, um livro que atravessa os séculos como um clássico humanista que, descrevendo a guerra de maneira magistral, faz a sua mais pungente e eterna condenação". O romance foi escrito entre os anos 1865 e 1869.

No volume II, a guerra dá uma trégua. É a paz de Tilsit. Lembrando que o primeiro volume termina com a vitória de Napoleão sobre a Áustria e a Rússia, na batalha de Austerlitz (1805). As relações entre Napoleão e Alexandre I chegam até a ser amistosas. Questões da diplomacia. Se a guerra está mais distante, ou se ela não ocorre porque as forças estão totalmente extenuadas em busca de recuperação, o segundo tema, o das grandes famílias ganha grande destaque. Vamos por etapas:

Na quarta parte (No primeiro volume são três partes), temos a volta dos heróis da guerra. Em primeiro lugar aparece Nicolau Rostov e o seu amigo Denissov. Mais adiante aparecerá André, da família Bolkonski, que partira para a guerra, deixando a esposa Lisa grávida. André era tido como morto, mas, de repente, ele surge, bem vivo. Boa parte do livro é destinada ao nascimento do filho e à morte de Lisa, a esposa.  O velho conde, um general, adoece gravemente e se desentende com toda a família (seria o Alzheimer?). Lautos jantares são oferecidos aos generais. Pedro, dos Bezukov se desentende com Dolokov e partem para duelo. Eles saem vivos e o caso é abafado. Pedro é muito poderoso.

Na quinta parte nos deparamos com os problemas de Pedro, um fantástico personagem, marcado pela inconstância, com picos de euforia e estados depressivos. Ele casa-se com Helena, da família Karaguine, desfaz o casamento mas volta a ela. Ela é bela e fútil. Pedro entra na maçonaria e com ela se encanta e se decepciona. Nessa parte são mostradas as deficiências do exército. Denissov assaltou o próprio exército em busca de alimentos para seus soldados famintos. O amigo Nicolau Rostov o encontra em um hospital (um lixo) e com ele acerta pedir clemência ao Imperador. É a parte do livro que é um libelo em favor da paz e uma procrastinação contra a guerra e o armamento dos exércitos.

A sexta parte é toda ela centrada em Pedro Bezukov e em André Bolkonski. Pedro continua em seus altos e baixos. Volta com Helena mas não convivem e passa a ter grandes decepções com a maçonaria. Nessa parte começa um dos pontos altos do livro, com o namoro entre André e Natasha, menina de 16 anos, de marcante beleza, pertencente à família dos Rostov. André ficara viúvo, mas não recebe o consentimento do pai para este casamento, ao menos para o momento. daqui a uma ano voltariam a conversar. Aí as coisas acontecem. Natacha se envolve com Anatole, irmão de Helena e cunhado de Pedro. Seguramente um personagem do mal.

A sétima parte é dedicada à família Rostov, em graves crises financeiras. Mas o centro das atenções será a filha Natacha. A crise financeira se resolve com a venda de patrimônio, mas a crise com Natacha só se agrava. Ela rompe com o príncipe André, por meio de carta, exatamente para se envolver com Anatole.

A oitava parte marca a continuidade. Natacha e Anatole ocupam a maior parte e a sua história certamente não terá um grande final.  André volta e continua a sua vida, não dando sinais de abatimento. O livro se encerra com Pedro procurando administrar os problemas de Natacha. Pedro se encanta com a ternura da menina, mas no horizonte passa um cometa, prenunciando os acontecimentos de 1812.

A força do livro está, obviamente, na descrição dos personagens. Pedro é hesitante. Anatole e Dolokov se definem como personagens do mal e Helena e Natacha vão configurando as famosas personagens femininas do escritor. Do livro selecionei uma passagem primorosa sobre a ociosidade no exército. Mas isso era naquele tempo! Eis a passagem:

"A tradição bíblica ensina-nos que a felicidade do primeiro homem antes da queda consistia na ausência de trabalho, isto é, na ociosidade. O gosto da ociosidade manteve-se no homem réprobo, mas a maldição divina continua a pesar sobre ele, não só por ser obrigado a ganhar o pão de cada dia com o suor do seu rosto, mas também porque a sua natureza moral o impede de encontrar satisfação na inatividade. Uma voz secreta diz ao homem que ele é culpado de se abandonar à preguiça. E, no entanto, se o homem pudesse achar um estado em que se sentisse útil e em que tivesse o sentimento de que cumpria um dever, embora inativo, nesse estado viria a encontrar uma das condições da sua felicidade primitiva. Esta condição de ociosidade imposta e não censurável é aquela em que vive toda uma classe social, a dos militares. Em tal ociosidade está e estará o principal atrativo do serviço militar" (Pág. 598).

E uma premonição, cá comigo. Nos dois próximos volumes, prestar muita atenção em Pedro, da família Bezukov e em Natacha, da família Rostov. E um adendo. A resenha do volume I. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2020/06/guerra-e-paz-leon-tolstoi-volume-i.html

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