sexta-feira, 10 de julho de 2020

A cor púrpura. Alice Walker.

Um livro na lista de espera desde 2012. Não sei exatamente as razões por ter ficado tanto tempo nessa lista. Certamente não devo ter gostado das suas primeiras páginas. Estou falando de um livro famoso, A cor púrpura, da conhecida escritora dos Estado Unidos, Alice Walker. O livro está escrito sob a forma de cartas, cartas de Celie para Deus - Querido Deus, de Celie para Nettie, querida Nettie e de Nettie para Celie, querida Celie.
A cor púrpura. José Olympio. Tradução: Betúlia Machado, Maria José Silveira e Peg Bodelson.

O livro foi escrito em 1982 e já em 1983 ganhou o Prêmio Pulitzer de ficção. Chegou ao Brasil em 1986 e tenho em mãos a 9ª. edição, da José Olympio. Steven Spielberg o levou ao cinema. O cineasta se entusiasmou com o livro, como lemos na contracapa: "Eu não consegui parar de ler... Um dos melhores livros que li em anos, uma leitura de muita força, emocional". Algum exagero? Certamente.

Já que estamos nas frases, na contracapa tem mais duas: "Uma saga de alegria e dor, humor e amargura (...) e um elenco de personagens que vivem, respiram e iluminam o mundo". Publishers Weekly. E: "Personagens maravilhosos (...) Alice Walker ousa dizer verdades sobre homens e mulheres, sobre pretos e brancos, sobre Deus e amor (...) Um dos grandes livros de nosso tempo". Essence Magazine. Essas, creio, bem mais condizentes.

A narradora é Celie, sua irmã é Nettie. Sinhô (Albert) tomou Celie por esposa e afastou-a da irmã Nettie. Shug Avery era amane do Sinhô e depois também de Celie. Estão aí os principais personagens do romance. Celie é apresentada como meio semi analfabeta. Vamos a dois parágrafos da orelha do livro:

"'Querido Deus': assim começa a maior parte das cartas escritas por Celie. Negra semianalfabeta, vivendo no sul dos Estados Unidos, subjugada a um homem que ela pensa ser seu pai, forçada a viver longe dos dois filhos e com um marido a quem não ama, Celie vive entre cuidar da família e planejar uma vida diferente da sua para a irmã, Nettie.

As duas irmãs passariam trinta anos sem notícias uma da outra, Celie confiando seus pensamentos a Deus, seu único correspondente. Até que sua amizade com Shug Avery, cantora de sucesso e amante de seu marido, lhe dá outra perspectiva da vida. Em oposição à solidão, pobreza, brutalidade e violência, Celie descobre novas maneiras de sentir: beleza, conforto, desejo, amor, saudade, esperança e consciência de si".

A maioria das cartas são bem pequeninhas, duas a três páginas. Existem também as que chegam a dez. A maioria das cartas era endereçada mesmo para Deus, as outras são cartas trocadas entre as irmãs. O sinhô ocultava as cartas de Celie por desentendimentos com ela. Até que um dia, encorajada por Shug Avery, encontram e leem todas elas. Como vimos, trinta anos separaram as duas irmãs. Nettie é meio adotada por um casal de missionários e vai para a Inglaterra e de lá para a África trabalhar em missões religiosas. Nessas cartas aparece um tema forte do livro. Os males do colonialismo. A impiedade dos colonizadores brancos.

As cartas de Celie trazem os outros temas fortes da escritora. O patriarcalismo está presente na relação que se estabelece entre os personagens masculinos e femininos. Bater em mulher era uma especie de obrigação, mostra de autoridade. É uma constante de todos os homens e a resistência de apenas algumas das mulheres. Outro componente é o racismo, também fortemente expresso nas cartas, tanto de Celie quanto de Nettie. As questões financeiras são tratadas meio a margem. Não havia maiores problemas, como a fome, por exemplo. Quanto ao tempo retratado, ele retorna aos meados do século. Há uma referência de que Nettie teria morrido num navio americano, afundado pelos alemães.

A cantora Shug Avery é a personagem emancipadora do livro. Ela tem poder de fala. Dá de dedo em todos os homens e os enquadra. Ela é a professora de Celie, de quem se torna amante. Esse amor tem volta, isto é, tem reciprocidade. Acima de tudo, ela lhe ensina fazer sexo, com ela e com o sinhô, 'mexer com o butonzinho', numa referência ao clitóris. Bebida e drogas também fazem parte do cardápio. O livro é relativamente longo. São 335 páginas.

Com relação ao título, já ao final do livro encontramos a seguinte referência, quando Celie aponta para Shug, que está de volta, o seu quarto: "Bom, é aqui, eu falei, parada na porta. Tudo no meu quarto é púrpura e vermelho a num ser o chão que tá pintado de amarelo vivo. Ela foi direto ao pequeno sapo púrpura que tava na minha prateleira. O que é isso? Ela perguntou. Ah, eu falei, uma lembrança que o Albert (o sinhô) fez para mim". A essas alturas já existe afetividade e ternura na relação, uma relação que atinge também o espírito. Eram outras pessoas, seres humanos.

Uma palavrinha sobre a escritora: "Alice Walker é internacionalmente conhecida por sua participação em movimentos pelos direitos civis, principalmente das causas negra e feminina. Além de romancista premiada, é também autora de contos, ensaios, poemas e vários livros infantis. Sua obra está traduzida para mais de vinte línguas. Nascida no estado da Geórgia, Alice Walker mora na Califórnia, Estados Unidos", lemos na orelha do livro. Dela temos também.
http://www.blogdopedroeloi.com.br/2018/07/rompendo-o-silencio-alice-walker.html

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