sexta-feira, 31 de julho de 2020

Guerra e Paz. Volume IV. Leon Tolstói.

O volume IV de Guerra e paz de Leon Tolstói, composto de mais 354 páginas de letras pequeninhas, completa a obra, que pela edição de bolso da L&PM, tem um total de 1491 páginas. Uma das obras mais longas da literatura universal. Mais do que uma obra apenas da literatura o livro é considerado como uma obra da arte universal, tal a sua grandiosidade.
Guerra e Paz. Volume IV.  pela capa, uma mostra da retirada da Rússia. É o grande tema.

Como é o livro de encerramento, os desfechos precisam ser feitos. Ele se divide em três partes, a décima segunda, décima terceira e décima quarta partes, mais um epílogo, este dividido em dois tempos. Tem ainda um apêndice, em que o autor faz interessantes considerações sobre a sua própria obra, que bem poderia ser o prefácio.

Na décima segunda parte o olhar se volta para Petersburgo, que nada sofrera com a guerra. Resta a pergunta - por que Napoleão não a atacou? A cidade continuava em festa, alheia às preocupações com Napoleão. As grandes festas não haviam sido interrompidas. De novidade, temos o falecimento de Helena, a esposa de Pedro mas com a qual ele não convivia. Apenas as milícias se preocupavam com a defesa da pátria. O termo milícias não tem o significado que nós lhe atribuímos. São os exércitos populares, montados fora da institucionalidade do exército.

Encontramos ainda Pedro como prisioneiro dos franceses sendo levado a julgamento e execução. Porém, no momento da sua vez, ele é beneficiado com um indulto, mas é mantido como prisioneiro. É o momento em que o autor introduz em sua obra um outro prisioneiro, um personagem fantástico, homem de extrema simplicidade e com o sugestivo nome de Platão Karataiev. Ele exerceu profundas influências sobre Pedro, sobre o seu pensar e sobre o modo de viver. Ele permanecerá em sua memória. Quero recuperar uma de suas frases e deixá-la aqui registrada, em especial para o povo adepto da chamada "República de Curitiba", da lava-jatista, justiceira e moralista república de Curitiba. Vejam a simplicidade e singeleza de sua afirmação: "Onde há justiça há injustiça". Os dois travam diálogos de profunda humanidade.

Na parte das famílias há a aproximação de Nicolau (Rostov) com Maria (Bolkonski) e a morte de André (Bolkonski). No início do volume I existe um quadro ilustrativo das grandes famílias protagonistas da obra, que convém ser constantemente consultada.

Na décima terceira parte ocorrem descrições da retirada de Napoleão e as chamadas "marchas de flanco" dos russos. "Tempo e paciência serão as duas grandes armas empregadas pelo general Kutuzov, o sereníssimo. Agora a terra prometida de Napoleão não era mais Moscou, mas sim, Paris. Os russos fustigam a retirada mas não a impedem. 

A décima quarta parte é muito peculiar. A guerra adquire novos contornos, fora das regras, fora da institucionalidade. É a guerra de guerrilhas. São as populações civis se movimentando e afugentando os franceses. A população age instintivamente. Cossacos e camponeses e o seu elevado moral  os alça à condição de heróis e protagonistas da parte final dessa absurda guerra. Ocorre ainda a libertação de Pedro e a morte do intrépido Pétia, o caçulinha da família dos Rostov.

No décimo quinto capítulo vemos as famílias russas voltando e reconstruindo Moscou, enquanto continua a fuga atabalhoada dos franceses, agora fazendo o caminho inverso, do oriente para o ocidente. As forças do seu exército estão literalmente em decomposição. Kutuzov recebe as maiores honrarias nacionais. Pedro se recompõe, recupera a sua saúde e se aproxima de Natacha. Tolstói volta agora a sua arte para a exaltação do povo russo, agora na reconstrução de Moscou e no afugentar das tropas francesas.

Na primeira parte do epílogo temos um avanço histórico de sete anos, após os fortes episódios de 1812. A diplomacia entra em cena. Alexandre exercerá fortes influências. O capítulo III dessa parte é uma análise sobre Napoleão, sua ascensão, sua queda e significados. Temos ainda os acertos afetivos entre as grandes famílias. Pedro casa com Natacha e Nicolau com Maria. Viverão felizes, retirados das grandes agitações de Moscou ou de Petersburgo. Consuma-se o fato de Pedro e Natacha serem os maiores personagens da obra. A segunda parte do epílogo é toda ela dedicada a reflexões de ordem política, histórica, filosófica e ética. A história e os seus personagens e as relações de poder ganham o maior destaque. A liberdade e a necessidade ganharão as suas contraposições e o livre arbítrio merecerá sentar-se no divã, posto sob análise.

O livro termina com um apêndice, que originalmente não fazia parte da obra, mas que perfeitamente poderia ser o seu prefácio. O autor fala de sua obra, escrita ao longo de cinco anos ininterruptos e de dedicação exclusiva. Faz seis grandes considerações em torno de sua obra, escrita ao longo dos anos 1865 e 1869. A contracapa dos quatro volumes tem a mesma apresentação, com a qual encerro o meu post.

"Publicado entre 1865 e 1869, Guerra e Paz é mundialmente aclamado como um dos maiores romances jamais escritos. Trata-se de um imenso e detalhado painel da sociedade russa durante o tumultuado período das guerras napoleônicas, de 1805 (ano da vitória de Napoleão na batalha de Austerlitz) a 1812 (quando ocorreram a célebre retirada dos franceses durante o inverno e o incêndio de Moscou). Como fio condutor, temos a vida, as misérias e os amores de duas grandes famílias aristocratas. Uma multidão de personagens retrata as diversas camadas do mundo russo, dos camponeses ao tzar, e os protagonistas parecem ter vida própria, tão admirável é a capacidade de Tolstói (1828-1910) de representar pessoas psicologicamente complexas e profundas. Por sua ambição e pelas técnicas utilizadas, Guerra e paz desafiou os parâmetros literários e a própria literatura de seu tempo.

Se em seu magnífico romance o autor mostrou o sacrifício, o patriotismo e a grandeza do povo russo, também construiu um monumento à paz. A obra-prima de Tolstói brilha como um livro maior entre os milhões de livros, deslumbra como só uma verdadeira obra de arte é capaz de deslumbrar e emociona como só as grandes histórias, contadas pelos grandes narradores, conseguem emocionar".

Deixo ainda a resenha de uma biografia do autor e a dos três outros volumes;

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2014/01/tolstoi-biografia-rosamund-bartlett.html

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2020/06/guerra-e-paz-leon-tolstoi-volume-i.html

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2020/07/guerra-e-paz-leon-tolstoi-volume-ii.html

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2020/07/guerra-e-paz-leon-tolstoi-volume-iii.html




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