quarta-feira, 13 de março de 2024

O tempo e o vento. (parte I). O CONTINENTE. Vol. 2. Érico Veríssimo.

Na contracapa do volume 2 de O continente, temos uma esclarecedora síntese desse segundo volume de O Continente, a primeira parte da trilogia de O tempo e o vento. Vejamos: "O Continente - vol. 2 conclui a primeira parte de O tempo e o vento. A trilogia - formada por O Continente, O retrato e O arquipélago - percorre um século e meio da história do Rio Grande do Sul e do Brasil acompanhando a formação da família Terra Cambará.

O tempo e o vento (parte I). O Continente (Vol. 2). Companhia das Letras.

Aqui, as lutas da Revolução Federalista e a guerra no casarão chegam a um desfecho dramático na fictícia Santa Fé. Numa guerra sem quartel, Bibiana confronta-se com a nora, a enigmática Luzia, pela posse do Sobrado e do menino Licurgo, herdeiro da família. Distanciado, meticuloso, o médico alemão Carl Winter a tudo observa, fascinado pela tenacidade daquela gente".

Por essa pequena síntese já se faz sentir que Bibiana, Carl Winter, Luzia e Licurgo serão os personagens que ocuparão as principais páginas desse segundo volume. Vejamos os seus títulos, ou capítulos: 1. A teiniaguá; 2. O Sobrado V; 3. A guerra; 4. O Sobrado VI; 5. Ismália Caré; 6. O Sobrado VII. Grande parte do livro é tomada pela história - ou lenda - da Teiniaguá, ou A Salamanca do Jarau, lenda sempre presente na obra de Veríssimo. Vou tentar contar, em poucas palavras, essa lenda, mas na página 236, temos uma definição muito apropriada, dada pela própria Luzia, a Teiniaguá: "As pessoas normais, são as mais sem graça do mundo". Luzia tinha muita graça. Ela simplesmente encantava a todos, mas também a todos enfeitiçava. Não foi diferente com Bolívar, embora toda a permanente vigilância de Bibiana, no zelo com o seu neto Licurgo, o filho de Bolívar e de Luzia. Era preciso afastar dele a sua influência.

Vamos a lenda da Teiniaguá - ou da Salamanca do Jarau. Vou recorrer à Wikipédia para contá-la. É uma lenda que conta a história de uma princesa moura, transformada em bruxa, vinda de Salamanca para o Cerro do Jarau (Quaraí). Na lenda gaúcha ela foi transformada em lagartixa, que tinha na cabeça uma pedra brilhante, que fascinava e atraía os homens. Era uma princesa afortunada, mas que na qualidade de bruxa, era meio endemoniada. Arruinava os homens que dela se aproximavam. Pois bem, agora vamos à história de Luzia.

Apareceu em Santa Fé um tal de Aguinaldo Silva, um homem com muito dinheiro e poucos escrúpulos para ganhá-lo. Diziam-no pernambucano e agiota. Para mostrar-se afortunado, mandou construir o maior sobrado de Santa Fé. Ele veio com a sua neta, Luzia, a famosa Teiniaguá. Para o médico alemão, Dr. Carl Winter, ela era Melpômone, uma das nove musas gregas, que representava a tragédia. Tudo está armado para o Érico deslanchar no seu enredo. A tragédia estava anunciada. Bolívar se encanta por Luzia, moça de fino trato, educada na corte no Rio de Janeiro. Bibiana se transformou em permanente vigilante para amenizar a tragédia que seria esse casamento, já que não conseguia diminuir em nada a paixão de Bolívar pela moça. É o primeiro capítulo.

No segundo capítulo (O Sobrado V), vamos encontrar Licurgo Cambará, o chefe dos legalistas, comandar a resistência contra o cerco dos federalistas, disposto aos maiores sacrifícios em nome da honra e de não se dar por vencido. Terá uma grave baixa.

O terceiro capítulo, menos longo apenas que o primeiro, se ocupa de contar as loucuras da Guerra do Paraguai (1864-1870). A família Terra Cambará terá uma vítima. Florêncio voltará mutilado. Este capítulo traz uma das grandes marcas presentes na obra: os diálogos. A discussão envolve juiz, padre, militar e médico. Assim está garantida a pluralidade de opiniões. Um major, que está de olho em Luzia, agora já viúva, apresenta Caxias como o Bismarck brasileiro. A vigilância de Bibiana não permite a aproximação entre Luzia e o major. Essa guerra entre as mulheres será vencida por Bibiana. A guerra no Sobrado se arrastava por mais tempo do que a própria Guerra do Paraguai. No itálico, que segue ao capítulo, Fandango (que personagem fantástico!), o capataz da fazenda do Angico, conta histórias de suas andanças pelo Rio Grande.

No quarto capítulo, de novo no Sobrado (Sobrado VI), a espera continua. O cerco dos maragatos continua, impondo aos moradores do Sobrado, fome, cansaço e espera. Para divertir e distrair as crianças, Fandango contará as lendas do folclore gaúcho.

O quinto capítulo é dedicado a Ismália Caré. É mais um sobrenome, o dos Caré, que se juntará aos Terra Cambará. São as aventuras amorosas de Licurgo Cambará, heranças do espírito aventureiro do Capitão Rodrigo. Essas aventuras são contadas em meio as festividades programadas na agora cidade de Santa Fé, elevada à condição de município. Grandes festejos não impedem as rivalidades entre os Amaral e os Terra Cambará. Fortes entreveros na luta entre cristãos e mouros. Nos festejos o abolicionista e republicano Licurgo Cambará libertará os seus escravos. Abolição e República serão os grandes temas em debate (A abolição merecerá um post especial). Isso ocorreu no ano de 1884. Em itálico, José Lírio exaltará o monarca D. Pedro II e o personagem gaúcho de Gaspar Silveira Martins, o grande personagem da Revolução Federalista (1893-1895).

O segundo volume da parte 1 da trilogia, termina no Sobrado (Sobrado VII). Licurgo está prestes a estender bandeira branca, mas não é necessário. A Revolução terminara, com a vitória dos legalistas e a consequente derrota dos federalistas. Restou, no entanto, muita tristeza e desolação e, mais uma grave baixa no Sobrado. Mas a mais sangrenta e vingativa das revoluções chegara ao seu final, "com perda de vidas, de tempo e de dinheiro".

Deixo também a resenha do vol. I.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2024/03/o-tempo-e-o-vento-1-o-continente-vol-1.html

  



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.