segunda-feira, 2 de setembro de 2013

As Manifestações de Junho. Marilena Chauí comenta.

Marilena Chauí é hoje, seguramente, uma das maiores intelectuais brasileiras e das poucas que tem condições de sustentar um debate com os maiores representantes da intelectualidade mundial. Hoje ela comparece pouco ao debate, por uma opção sua. Já se foi o tempo em que os intelectuais foram muito ouvidos. A mídia prefere ouvir os tais de especialistas. Estes sim são apreciadíssimos. Já ouvi dizer de alguém, que quando foi solicitado para conceder uma entrevista ou para fazer uma palestra, ele perguntava ao interlocutor, se era para falar a favor ou contra. Isso jamais acontecerá com um intelectual.
Capa da revista Cult de agosto, com a entrevista de Marilena Chauí.

Marilena Chauí abriu uma exceção e concedeu entrevista de dez páginas para a revista Cult, da qual eu sou assinante e pretendo continuar sendo, por um longo tempo. Ela é de uma qualidade excepcional. Chauí opina sobre as manifestações de junho, fala sobre a classe média e da inexistente nova classe média brasileira, tece críticas ao PT e ao governo e aponta para as origens da atual crise política brasileira, para a qual defende sim, uma consulta popular direta.

Perguntada sobre a sua reação às manifestações populares de junho, respondeu que levou um susto inicial sim, em função do número de pessoas que as redes sociais conseguiram arregimentar. Mas o susto foi apenas esse, de terem usado as redes sociais e conseguido tanta gente. Não se assustou, porém, quanto aos motivos. Ouviu as primeiras manifestações relacionadas com o transporte, de seu preço e de sua má qualidade. Diz não ter estranhado estas manifestações, embora ela tenha ocorrido num tempo em que, aparentemente, não havia motivos para tal, como a inflação estar sob controle, os programas sociais estarem em funcionamento, as taxas de desemprego diminuindo e de haver estabilidade econômica e política. Ela há tempos insiste em dizer, ao menos no que refere a São Paulo, que a cidade se transformou num inferno urbano. Está impossível viver nela, pelo seu trânsito, pela indecência de seu transporte coletivo, pela explosão demográfica e com a expansão de seus condomínios e shoppings.

Afirma ter sentido um certo temor, quando viu gente tentando pegar carona nestes movimentos. Ao identificar certos tipos de participantes percebeu uma tentativa de apropriação dos movimentos por parte da direita autoritária. Isso ocorreu especialmente através do discurso que negava a mediação política. Um movimento sem os partidos. O que querem os que negam a mediação das relações sociais através da política? Negar a mediação política é o mesmo que pedir a instauração da ditadura. Assim foram as manifestações dos anos 20 e 30, que levaram ao fascismo e ao nazismo e os movimentos de 64 e 68, que levaram ao golpe e ao golpe dentro do golpe.

Sobre a participação de partidos como o PSOL e o PSTU ela afirma que procuram a sua legitimação através de discursos mais violentos, legitimação que não conseguem com a sua não inserção junto às massas populares. Problemas de representação. Faz também uma diferenciação entre as manifestações que ocorrem nas periferias e nos centros das grandes cidades. Os interesses dos manifestantes da periferia sempre tem reivindicações bem específicas, pontuais e concretas e lideranças plenamente identificáveis, enquanto que as do centro são mais difusas e genéricas. As da periferia podem ser atendidas, enquanto as do centro, da classe média, só agravam problemas, pela natureza de suas reivindicações, pelos seus sonhos individuais. Serão programas de estímulo às montadoras, às empreiteiras imobiliárias, às importadoras, aprofundando ao mesmo tempo o consumo, a competição e o isolamento. Só fazem explodir o inferno urbano.

Extraordinária é a sua visão da classe média, ao dizer que somente existe a antiga classe média, negando assim peremptoriamente a existência de uma nova classe média no Brasil. Estas classificações em termos de classe A -B - C - D - E, não passam de divisões mercadológicas. O que ocorre no Brasil de hoje é uma expansão da antiga classe média, com todas as características que sempre a marcaram. A acidez maior de sua crítica se dirige, exatamente a esta classe média, com as suas três abominações: uma abominação política, porque ela é fascista, uma abominação ética, porque ela é violenta e uma abominação cognitiva porque ela é ignorante.

Ela defende a consulta direta ao povo sobre a necessidade da reforma política e identifica a atual crise da estrutura política com as maquinações feitas por Golbery do Couto e Silva, ainda sob o regime militar. O modelo de governabilidade na formação de uma base aliada, fragmentada em partidos políticos sem ideologia e, se não tem ideologia, estão em busca de outra coisa. Assim a governabilidade está vinculada à corrupção.

Quanto ao PT, cita diversos fatos que gradativamente a afastaram de sua organicidade, destacando entre eles a sua burocratização, que o transformou em máquina eleitoral e o afastamento dos movimentos sociais que marcaram as origens do partido. Não obstante a sua posição crítica, continua na defesa do PT. Faço aqui uma transcrição deste trecho de sua entrevista, em que ela fala desta sua relação com o partido:

"Dizer que eu estou cegada pelo PT, dizer que eu não faço críticas ao PT é coisa de gente que não lê a literatura política" Aí cita algumas publicações relativas ao tema e continua: "mas o fato de eu ser crítica não significa que invalido o partido que vi nascer e que foi a condição do estabelecimento da democracia no Brasil, porque foi o único que introduziu a ideia dos direitos sociais, políticos e culturais, pois a democracia se define pela criação e garantia de direitos novos. Eu não abro mão disso. O partido não me traiu (como dizem os que o abandonaram). Ele me encoleriza, me enraivece. Eu quero fazer outro com ele, mudá-lo de cima para baixo. Mas sou petista. Isso faz parte da minha história política, da minha luta e do enorme respeito que tenho pelos grandes militantes ao longo de sua história".

Não sei se consegui expressar corretamente as ideias apresentadas na revista. Muitos conceitos precisariam de maior explicitação. Em função disso remeto a todos os que sentem a necessidade de mais...-  ao texto completo da entrevista na Cult de agosto, em seu número 182. No mesmo número e sobre basicamente o mesmo tema, tem uma entrevista com quatro líderes do movimento "por uma vida sem catracas". 

6 comentários:

  1. Vejo a entrevista dela como um incentivo a ideia de reinventar a roda. Corremos o risco de ficar tempo demais enraivecidos enquanto os não ideológicos tomam conta da roda. Precisamos sair do discurso e nos organizarmos em grupos que pensem ideologicamente. Eu quero aprofundar meu conhecimento político. MUITO BOM

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  2. Embora sob anonimato, agradeço o comentário. O certo é que a roda da história não pode andar para traz. Que bom que pretendes aprofundar conhecimento político. Isto se faz estudando teoria.

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  3. Não escrevo como anônimo, pois o anonimato é uma arma dos covardes.
    "Isso" que você proclama como sendo uma intelectual é, na verdade, uma ignominia, uam fraude, uma legítima representante da imbecilidade vermelha que assola este País.
    Uma figura excrescente, destituída de qualquer valor mora e ético.
    Chula, mal educada, vazia como todos os esquerdinhas comunistas que a adoram e a quem ela venera.
    Não faz qualquer falta em uma sociedade digna.
    Lamento o endeusamento desta figura , o que me leva a crer que o futuro deste País, a se seguir seus valores, será nefasto.
    Adoraria, o mais rápido possível, ler a única obra a seu respeito que eu apreciaria: seu obituário.

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  4. Publico este comentário como comprovação da existência de mentes mórbidas.

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  5. Esta senhora não passa de uma abominação cognitiva por ter somente um único neurônio em funcionamento.

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