Lima Barreto é um dos escritores brasileiros que hoje em dia mais está em evidência. Vários fatores são responsáveis para que isso ocorresse. Mas creio que um dos principais é de ordem econômica. As suas obras caíram em domínio público, fato que motivou muitas editoras a se interessarem pela reedição de sua obra. Lima Barreto teve vida curta, mas intensa (1881-1922). Foi extremamente ativo, tanto como romancista e talvez, mais ainda, como cronista. Como cronista se tornou um atento crítico das mazelas da Bruzundanga, nome pelo qual ironicamente designava as inacreditáveis mazelas brasileiras.
Uma edição com boa apresentação e um excelente posfácio. Leitura militante.
A crônica militante é uma coletânea de trinta e cinco crônicas escritas especialmente ao longo dos anos 1918 e 1922. Esta coletânea data de 2016, da Expressão Popular, uma editora que não ostenta gratuitamente o seu título de ser uma oportunidade para a expressão do povo. A maior parte dessas crônicas já haviam sido reunidas pelo próprio escritor e publicadas postumamente, em 1923, sob o título de Bagatelas. Lima Barreto sempre encontrou jornais e revistas interessadas em publicá-lo, apesar de seu posicionamento em favor da classe da qual se originou e da sua conflituosa relação com a imprensa conservadora dominante. A sua preferência era por pequenos e frágeis jornais e revistas.
A crônica militante tem três textos introdutórios. O primeiro é uma nota editorial, com explicações úteis em torno da edição. O segundo texto é maravilhoso. É de autoria de Cláudia de Arruda Campos e tem por título ler - compartilhar. Vou dedicar-lhe um post em separado. O terceiro texto é Lima Barreto militante, de Zenir Campos Reis, que se constitui na apresentação do autor e das crônicas presentes no livro. Seguem as trinta e cinco crônicas escolhidas e um primoroso posfácio, de autoria de Astrojildo Pereira, texto que servira de prefácio para a apresentação de Bagatelas, em sua segunda edição, de 1956. Um primor de contextualização.
Sobre o que escrevia Lima Barreto? Crônica tem a ver com o tempo. Assim, com certeza, Lima Barreto se ocupou de seu tempo em suas crônicas. Então vejamos o acontecia em seu tempo no Brasil e no mundo. Já vimos que as crônicas eram especialmente datadas entre os anos de 1918 e 1922. No Brasil tínhamos os governos oligárquicos da República Velha e das primeiras rebeliões contra ela, quando ainda menino, como a Revolta da Armada em 1893, e depois, dos movimentos dos trabalhadores, sob a liderança dos anarquistas. Os temas do imperialismo e da reforma agrária também sempre se fizeram presentes. No cenário internacional, ocorria o final da Grande Guerra e os tratados de paz, verdadeira causa para novas guerras, pela não erradicação das causas que a provocaram. Com entusiasmo também recebeu a Revolução Comunista da Rússia, em 1917.
Em que jornais escrevia? Lima Barreto tinha a vocação para o jornalismo. Recordações do Escrivão Isaías Caminha se constitui numa primeira grande observação crítica do comportamento e comprometimento dos grandes jornais brasileiros, os hoje chamados jornalões. Escrevia nos pequenos jornais, aqueles que sobreviviam por curtos espaços de tempo e que eram frutos da indignação e da militância de seus idealizadores. As crônicas desta edição vem datadas e com a indicação dos jornais ou revistas que as publicaram. Os títulos mais presentes são: ABC, de tendência anarquista, Revista Contemporânea, O País, Hoje, Gazeta de Notícias, O Estrela, Careta, Revista Argos, A Voz do Trabalhador. A presença mais constante está no ABC, com quem rompeu por uma questão racista.
Astrojildo Pereira em seu posfácio nos dá uma boa ideia sobre a formação de Lima Barreto. Afirma que ele nunca foi um marxista ou formado dentro do marxismo. "Desde jovem se afizera ao trato dos livro, mas sua formação sofria do mal muito comum do ecletismo, uma certa mistura de materialismo positivista, de liberalismo spenceriano, de anarquismo kropotkiniano e de outros ingredientes semelhantes" (p. 329). Tinha vasta formação e criticava os notáveis por não a terem. As suas crônicas se alimentavam em uma ampla formação teórica. A informação também esteve sempre presente em sua vida. Em sua casa havia uma biblioteca.
Ele teve origem numa família muito pobre, não miserável, porém. Tanto o pai, quanto ele, se ocupavam em modestas funções públicas. Teve estudos regulares e chegou ao ensino superior na área da engenharia. Por sorte, conforme ele afirma, não se formou. Conhecia a literatura mundial e tinha fluência em línguas. Foi por duas vezes internado no Hospital Nacional dos Alienados, por delírios provocados pelo álcool. Escreveu sobre isto e, inclusive, houve agora uma reedição destes seus escritos, numa edição da Companhia das Letras, que ficou entre os mais vendidos na FLIP - 2017. Trata-se de Diário do Hospício - Cemitério dos vivos. Chama também atenção o seu curto tempo de vida, de 1881 a 1922. Bem, mas os dados biográficos ficam por conta de Lilia Schwarcz e da sua biografia do autor, Lima Barreto - triste visionário, que vou começar a ler.
A próxima tarefa.Uma pesquisa de mais de dez anos.
Mas não posso encerrar este post sem trazer presente a máxima capitalista, vitoriosa com a Revolução burguesa e presente nos Estados Unidos, em sua longa ação imperialista, na crônica O nosso "ianquismo". Diz esta máxima: Make money, honestly if you can, but make money". Ou seja: "Enriqueça, honestamente se puder, mas enriqueça" (p.130).
Uma edição com boa apresentação e um excelente posfácio. Leitura militante.
A crônica militante é uma coletânea de trinta e cinco crônicas escritas especialmente ao longo dos anos 1918 e 1922. Esta coletânea data de 2016, da Expressão Popular, uma editora que não ostenta gratuitamente o seu título de ser uma oportunidade para a expressão do povo. A maior parte dessas crônicas já haviam sido reunidas pelo próprio escritor e publicadas postumamente, em 1923, sob o título de Bagatelas. Lima Barreto sempre encontrou jornais e revistas interessadas em publicá-lo, apesar de seu posicionamento em favor da classe da qual se originou e da sua conflituosa relação com a imprensa conservadora dominante. A sua preferência era por pequenos e frágeis jornais e revistas.
A crônica militante tem três textos introdutórios. O primeiro é uma nota editorial, com explicações úteis em torno da edição. O segundo texto é maravilhoso. É de autoria de Cláudia de Arruda Campos e tem por título ler - compartilhar. Vou dedicar-lhe um post em separado. O terceiro texto é Lima Barreto militante, de Zenir Campos Reis, que se constitui na apresentação do autor e das crônicas presentes no livro. Seguem as trinta e cinco crônicas escolhidas e um primoroso posfácio, de autoria de Astrojildo Pereira, texto que servira de prefácio para a apresentação de Bagatelas, em sua segunda edição, de 1956. Um primor de contextualização.
Sobre o que escrevia Lima Barreto? Crônica tem a ver com o tempo. Assim, com certeza, Lima Barreto se ocupou de seu tempo em suas crônicas. Então vejamos o acontecia em seu tempo no Brasil e no mundo. Já vimos que as crônicas eram especialmente datadas entre os anos de 1918 e 1922. No Brasil tínhamos os governos oligárquicos da República Velha e das primeiras rebeliões contra ela, quando ainda menino, como a Revolta da Armada em 1893, e depois, dos movimentos dos trabalhadores, sob a liderança dos anarquistas. Os temas do imperialismo e da reforma agrária também sempre se fizeram presentes. No cenário internacional, ocorria o final da Grande Guerra e os tratados de paz, verdadeira causa para novas guerras, pela não erradicação das causas que a provocaram. Com entusiasmo também recebeu a Revolução Comunista da Rússia, em 1917.
Em que jornais escrevia? Lima Barreto tinha a vocação para o jornalismo. Recordações do Escrivão Isaías Caminha se constitui numa primeira grande observação crítica do comportamento e comprometimento dos grandes jornais brasileiros, os hoje chamados jornalões. Escrevia nos pequenos jornais, aqueles que sobreviviam por curtos espaços de tempo e que eram frutos da indignação e da militância de seus idealizadores. As crônicas desta edição vem datadas e com a indicação dos jornais ou revistas que as publicaram. Os títulos mais presentes são: ABC, de tendência anarquista, Revista Contemporânea, O País, Hoje, Gazeta de Notícias, O Estrela, Careta, Revista Argos, A Voz do Trabalhador. A presença mais constante está no ABC, com quem rompeu por uma questão racista.
Astrojildo Pereira em seu posfácio nos dá uma boa ideia sobre a formação de Lima Barreto. Afirma que ele nunca foi um marxista ou formado dentro do marxismo. "Desde jovem se afizera ao trato dos livro, mas sua formação sofria do mal muito comum do ecletismo, uma certa mistura de materialismo positivista, de liberalismo spenceriano, de anarquismo kropotkiniano e de outros ingredientes semelhantes" (p. 329). Tinha vasta formação e criticava os notáveis por não a terem. As suas crônicas se alimentavam em uma ampla formação teórica. A informação também esteve sempre presente em sua vida. Em sua casa havia uma biblioteca.
Ele teve origem numa família muito pobre, não miserável, porém. Tanto o pai, quanto ele, se ocupavam em modestas funções públicas. Teve estudos regulares e chegou ao ensino superior na área da engenharia. Por sorte, conforme ele afirma, não se formou. Conhecia a literatura mundial e tinha fluência em línguas. Foi por duas vezes internado no Hospital Nacional dos Alienados, por delírios provocados pelo álcool. Escreveu sobre isto e, inclusive, houve agora uma reedição destes seus escritos, numa edição da Companhia das Letras, que ficou entre os mais vendidos na FLIP - 2017. Trata-se de Diário do Hospício - Cemitério dos vivos. Chama também atenção o seu curto tempo de vida, de 1881 a 1922. Bem, mas os dados biográficos ficam por conta de Lilia Schwarcz e da sua biografia do autor, Lima Barreto - triste visionário, que vou começar a ler.
A próxima tarefa.Uma pesquisa de mais de dez anos.
Mas não posso encerrar este post sem trazer presente a máxima capitalista, vitoriosa com a Revolução burguesa e presente nos Estados Unidos, em sua longa ação imperialista, na crônica O nosso "ianquismo". Diz esta máxima: Make money, honestly if you can, but make money". Ou seja: "Enriqueça, honestamente se puder, mas enriqueça" (p.130).
Ótima sugestão de leitura, Pedro Elói!
ResponderExcluirCom certeza, Helena. Mas eu ainda estou mais do que entusiasmado com a biografia do Lima, escrita pela Lilia Schwarcz, "Lima Barreto - Triste visionário". Uma obra simplesmente monumental. Grande Lima Barreto. Agradeço o seu comentário, Helena.
ResponderExcluir