Estou me preparando para a leitura da grande biografia Lima Barreto - triste visionário, de Lilia Moritz Schwarcz, lançado neste julho de 2017, creio eu, na grande Feira Internacional do Livro de Paraty, da qual Lima Barreto é o homenageado, na sua edição de 2017. Para isso acabo de ler, aquele que seguramente é o mais irônico dos livros deste triste visionário, como o qualifica a biógrafa. Trata-se de Os Bruzundangas, ou melhor, da República dos Estados Unidos da Bruzundanga. Qualquer referência ao Brasil será fruto da tua imaginação, ou talvez, da ironia do escritor.
A edição de Os Bruzundangas da Difusão Cultural do Livro.
A edição de Os Bruzundangas da Difusão Cultural do Livro.
Os Bruzundangas é uma coletânea de crônicas que foram publicadas no semanário ABC (de tendência anarquista) a partir do ano de 1917. Lima Barreto, a estas alturas, já era autor consagrado. Em livro, com as crônicas reunidas, só houve uma edição póstuma, um ano após a sua morte em 1923. Lima Barreto nasceu em1881 e morreu em 1922, no ano do centenário da independência. Na última página da edição que eu li, da Difusão Cultural do Livro se lê algo sobre a sua obra que se aplica perfeitamente a esta república. Vejamos.
"Lima Barreto foi um dos mais legítimos cronistas do Rio de Janeiro. Tudo quanto acontecia à sua volta, o escritor atento registrava nas suas crônicas, pois colaborava em quase todos os jornais. Sob este aspecto foi um "marginalizado" ou "perseguido" pelos escritores estabelecidos, como muitos pensam. Lima Barreto nunca teve dificuldade em publicar os seus às vezes contundentes artigos panfletários, ou as suas sátiras cortantes, que muitas vezes atingiam homens de prestígio de seu tempo".
É o que lemos em Os Bruzundangas. As crônicas são realmente ácidas. Alguns políticos ou escritores são nominados e outros apenas subentendidos. Quem conhece razoavelmente a história consegue identificar a muitos deles. Alguns eu não consegui identificar. Os personagens favoritos em sua caracterização são os políticos, os ministros em particular, os escritores, os militares e os artistas de uma maneira geral. Lhes critica muito a falta de originalidade e a preocupação com a cópia e a vontade de pertencerem a Academia de Letras, mesmo sem se dedicarem a elas.
Trata-se de um pequeno livrinho de apenas 112 páginas. Tem 22 capítulos, um prefácio e ainda não numerados em capítulo outras histórias dos Bruzundangas e uma nota informativa. Dou o título de cada um dos capítulos a fim de que conheçam mais de perto este rico e pobre país, qual seja a República dos Estados Unidos da Bruzundanga. Ainda faço um esforço de síntese para cada um destes.Vejamos:
I. Um grande financeiro. Trata-se de um deputado especializado em orçamento que virou ministro. Sua especialidade era aumentar impostos. II. A nobreza de Bruzundanga. As qualifica pela sua origem, a de toga e a dos costumes. A de toga são os doutores, advogados, médicos e engenheiros. III. A outra nobreza de Bruzundanga. Era formada pelos que ocupavam os mais bem remunerados cargos na administração do Estado. Eram marcados por duas grandes características, a ingenuidade infantil e a idiotice senil. IV. A política e os políticos de Bruzundanga. Eram os ricos em meio a miséria. Eram ajudados pelas freiras dos educandários que arranjavam para os rapazes - ricas herdeiras, para lhes alavancar a carreira.
V. As riquezas de Bruzundanga. A república é descrita como a mais rica do mundo. Tem carvão, café, cana e borracha. VI. O ensino em Bruzundanga. Este capítulo vai ganhar um post especial. VII. A diplomacia em Bruzndanga. Um dos mais irônicos. A diplomacia é a profissão dos escritores que fazem algumas cópias e se candidatam à Academia de Letras de Bruzundanga. Trazem também honrarias, comendas e condecorações. VIII. A Constituição. Outro capítulo de fina ironia. Dá vontade de transcrever alguns artigos. Mas o certo é que a República tem uma Constituição. As leis formam o esqueleto da sociedade. IX. Um mandachuva. É assim que chamam o presidente. Descreve as características mas a que mais se destaca é o fato de abominar a cultura. X. Força Armada. A conclusão do cronista é a de que não existe força armada, mas que há 175 generais e 87 almirantes. A maior preocupação é com os uniformes.
XI. Um ministro. Um país agrícola sem agricultura, com misto de latifúndio e propriedade feudal. XII. Os herois. Outro capítulo ácido. Quem são os herois de Bruzundanga? Izabel, o velho marechal? XIII. A sociedade. Os privilegiados do serviço público com a marca de sua mediocridade. XIV. As eleições. Um capítulo dedicado às falsificações. XV. Uma consulta médica. O medo de gastar e o médico que não consulta. XVI. A organização do entusiasmo. dez mil soldados para recepcionar políticos, embaixadores e capitalistas. XVII. Ensino Prático. Tudo prático, uma escola de comércio. XVIII. A religião. É suficiente dizer que é católica, apostólica e romana. XIX. Q.E.D. Quod erat demonstrandum. Versa sobre a administração da república. XX. Uma província. Talvez o ponto alto da obra. Uma descrição imperdível de São Paulo. XXI. Pâncome, as suas ideias e o amanuense. Outro capítulo de ironia intensa. Trata-se de um ministro de relações exteriores, que ocupou o cargo por dez anos e que escolheu um amanuense pela sua beleza. Não ousei identificá-lo. Dele quero apresentar uma propaganda que ele fez em Paris a respeito de seu país: "Bruzundanga, País rico - Café, cacau e borracha. Não há pretos". XXII. Notas soltas. E seguem ainda Outras histórias dos Bruzundangas e uma nota informativa. Nesta república os mulatos eram chamados de javaneses.
Uma pergunta final. O que mudou na quase centenária República dos Estados Unidos de Bruzundanga para a atualidade de 2017?
XI. Um ministro. Um país agrícola sem agricultura, com misto de latifúndio e propriedade feudal. XII. Os herois. Outro capítulo ácido. Quem são os herois de Bruzundanga? Izabel, o velho marechal? XIII. A sociedade. Os privilegiados do serviço público com a marca de sua mediocridade. XIV. As eleições. Um capítulo dedicado às falsificações. XV. Uma consulta médica. O medo de gastar e o médico que não consulta. XVI. A organização do entusiasmo. dez mil soldados para recepcionar políticos, embaixadores e capitalistas. XVII. Ensino Prático. Tudo prático, uma escola de comércio. XVIII. A religião. É suficiente dizer que é católica, apostólica e romana. XIX. Q.E.D. Quod erat demonstrandum. Versa sobre a administração da república. XX. Uma província. Talvez o ponto alto da obra. Uma descrição imperdível de São Paulo. XXI. Pâncome, as suas ideias e o amanuense. Outro capítulo de ironia intensa. Trata-se de um ministro de relações exteriores, que ocupou o cargo por dez anos e que escolheu um amanuense pela sua beleza. Não ousei identificá-lo. Dele quero apresentar uma propaganda que ele fez em Paris a respeito de seu país: "Bruzundanga, País rico - Café, cacau e borracha. Não há pretos". XXII. Notas soltas. E seguem ainda Outras histórias dos Bruzundangas e uma nota informativa. Nesta república os mulatos eram chamados de javaneses.
Uma pergunta final. O que mudou na quase centenária República dos Estados Unidos de Bruzundanga para a atualidade de 2017?
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