segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O Retrato de Dorian Gray. Oscar Wilde.

Creio que conhecer dados biográficos de Oscar Wilde ajuda a entender a leitura de sua obra mais controvertida e famosa, O retrato de Dorian Gray.  Vamos aos dados mais interessantes, Nasceu em Dublin, na Irlanda, em 1854 e morreu em Paris, em 1900. Depois de dois anos de prisão exilou-se em Paris, onde os amigos foram escasseando até morrer praticamente sozinho mas tendo o seu último pedido aceito, o de ser recebido no seio da igreja católica. O arrependimento está muito presente ao longo do livro, especialmente em seu final. Levara uma vida dissoluta, segundo os padrões morais, tendo se envolvido em práticas homossexuais, inadmissíveis na época. 
Juventude e beleza e o drama da consciência. Do Prefácio: "Um livro não é, de modo algum, moral ou imoral, Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo.


Por essas questões postas, o seu romance não foi bem recebido. O livro de biografias que acompanha a edição de Os Imortais da Literatura Universal assim se refere à obra: "É uma estória simples mas original sobre um jovem belíssimo, Dorian Gray, que apaixonadamente cultua a beleza e o prazer. Basílio Hallward, um pintor seu amigo, presenteia-o com um retrato que o reproduz no auge da juventude, e o faz sentir com maior violência a dor pela efemeridade da vida. Em virtude de certo voto mágico, as vicissitudes não deformarão o rosto vivo e perfeito de Dorian Gray: apenas o retrato sofrerá a passagem do tempo. O romance não foi bem recebido pelos críticos, principalmente pelos moralistas, que o consideraram uma obra 'envenenadora dos costumes'".

Bem, já apareceram dois dos principais personagens da história. nenhum terá final feliz.  O terceiro personagem, talvez o mais importante de todos, é o amigo de ambos, Lorde Henry (Harry), que exercerá forte influência sobre o jovem, uma influência que o levará a viver o seu egoísmo, narcisismo e hedonismo. Será ele o portador dos conteúdos 'envenenadores dos costumes". Já o pintor Basílio será uma espécie de consciência moral punitiva de Dorian, que não o suportará. Entre os três se darão os mais longos diálogos, quando o jovem não dialoga com a sua própria consciência, como ocorre no capítulo de número onze, por sinal, o mais longo dos vinte capítulos.

Um dos capítulos mais polêmicos certamente é o de número dezesseis. Nele se encontra a famosa tese de "curar a alma através dos sentidos e curar os sentidos através da alma". No caso ele irá curar as dores da alma através dos sentidos, num inferninho nas proximidades do porto. Sexo e drogas, o ópio mais precisamente, entram em cena. Tendências à relações homoafetivas estão levemente implícitas em toda obra, envolvendo os trio condutor do romance.

Dois outros importantes personagens aparecem ao longo da história. Sibyl e James Vane. Sibyl é uma bela, talentosa e jovem atriz, que fracassa numa interpretação de Julieta. Dorian não a perdoa e leva a menina ao suicídio. James, uma espécie de protetor da irmã, era contra o namoro e prometera vingança se caso algo acontecesse à irmã. Dorian, frente a frente com James, foi salvo pelo seu rosto, permanentemente jovem. Mas tudo termina em tragédia. Até aqui o rosto de Dorian ainda sofrera alterações. A aparência jovem o salvou.

Outro personagem envolvido ao longo da história é Alan Campbell, que além dos dotes musicais, conhece também os segredos da química. Dorian precisa de seus serviços e o força a executá-los. A culpa o levará ao suicídio.

Deixo duas passagens extremamente ilustrativas na compreensão da obra. Ambas são do último capítulo, sendo a segunda a de encerramento do livro. Vamos à primeira, o drama de consciência de Dorian: "Melhor seria não pensar no passado. Nada mais poderia alterá-lo. Era em si mesmo e no seu futuro que devia pensar. James Vane jazia em uma sepultura sem nome, no cemitério de Selby. Alan Campbell tinha-se suicidado uma noite em seu laboratório, mas não havia revelado o segredo do qual o tinha obrigado a participar. A agitação momentânea causada pelo desaparecimento de Basílio Hallward desapareceria rapidamente. Já estava mesmo diminuindo. Estava inteiramente salvo. Na realidade, não era a morte de Basílio o que mais lhe pesava sobre o espírito. O que o transtornava era a morte em vida de sua própria alma. Basílio tinha pintado o retrato que havia destruído sua vida. Não poderia perdoar-lhe. O retrato tinha sido a causa de tudo. Basílio  lhe tinha dito coisas terríveis, insuportáveis, e, todavia, tinha-o escutado com paciência". A consciência...

E, o parágrafo final: "Ao entrar, encontraram pendurado na parede um esplêndido retrato de seu patrão, que o representava como estavam acostumados a vê-lo, em toda a pujança de sua rara juventude e beleza. Estendido no solo, encontrava-se um homem morto, em traje de cerimônia, com uma faca cravada no coração. Era velho, cheio de rugas e seu rosto inspirava repugnância. Só o reconheceram quando examinaram os anéis que usava".

No livro biografia que acompanha a coleção temos uma frase em espécie de epígrafe final: A ÚNICA COISA TERRÍVEL QUE EXISTE NO MUNDO É O TÉDIO. É O ÚNICO PECADO PARA O QUAL NÃO EXISTE PERDÃO. Antes de morrer, Doriam havia prometido a Lorde Henry de que se tornaria um ser bom. Será que assim consentiria na prática do único pecado imperdoável ao longo de sua vida de juventude e beleza?

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