segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Temas educacionais. Discussões pedagógicas. 2020.

O grupo de professores ligados à oposição da direção estadual da APP-Sindicato, denominado APP Independente, recebeu uma bela convocação, assim expressa pelo professor Luiz Paixão, um dos coordenadores do grupo: "Atendendo um pedido de um grupo de pedagogas da rede pública do Paraná gravamos uma série de vídeos para contribuir com a reflexão das políticas educacionais em implementação no Paraná".
Professor Luiz Paixão, um dos coordenadores dos trabalhos de formação da APP-Independente.

Aproveito esse espaço do blog, um espaço permanente, para deixá-los à disposição de quem delas quiser fazer uso. A primeira fala é do professor Luiz Paixão, que, além da saudação inicial, fala sobre a avaliação, que não pode ser reduzida a treinamentos para a realização da "Prova Paraná" e de seus objetivos visando o IDEB. A avaliação sempre deve ser sobre o processo de aprendizagem. Aborda ainda o tema do currículo e os desmontes que ele vem sofrendo. Eis a fala:   

A segunda fala é minha. Abordo a questão da história da educação pública, fruto da modernidade e que tomou forma através de um longo processo histórico, como educação pública religiosa, estatal, nacional e democrática, na sucessão dos diferentes interesses. A sua forma mais consagrada é a da educação pública, gratuita, universal, obrigatória, laica e progressista. Foi instituída pelos Sistemas Nacionais de Educação ao longo da segunda metade do século XIX. Por ela se eliminou o analfabetismo e se formou o trabalhador exigido pelo mundo do trabalho da Revolução Industrial. Dois princípios sempre a nortearam. A unidade entre a formação filosófica e a preparação para o mundo do trabalho. Quando essa unidade é quebrada, formam-se, segundo um belo texto do professor Milton Santos, os deficientes cívicos. Eis o vídeo:

Deixo também o texto do professor Milton Santos , Os deficientes cívicos:

A terceira fala também é minha. Verso sobre a educação como um enorme campo de disputas, entre os interesses do capital e os interesses do trabalho. Essas disputas se dão pela formulação das teorias pedagógicas, que de forma geral se apresentam como a pedagogia tradicional, centrada no professor e nos conteúdos, na pedagogia da escola nova, centrada no aluno e nas suas atividades e as pedagogias tecnicistas, não centradas, nem no professor, nem no aluno, mas nos meios. As chamadas tecnologias educacionais. As pedagogias tecnicistas ganharam evidência a partir dos anos 1950, com a Teoria do Capital Humano. Você mesmo é o teu capital. Faça de você uma máquina de alta tecnologia. Com a teoria do Capital Humano os filósofos, pedagogos e psicólogos foram relegados na formulação das políticas educacionais, preteridos pelos economistas. O Banco Mundial monopolizou essa função. No Brasil essas políticas se afirmaram especialmente em três momentos: Na ditadura civil militar de 1964, na primeira onda neoliberal dos anos 1990 e na segunda onda neoliberal, após o golpe de 2016. Toda a ênfase será no treinamento e no menosprezo às disciplinas do pensar. Eis o vídeo:

A quarta fala é do professor Sebastião Donizete Santarosa. Faz uma calorosa saudação mas logo se centra no clima de tristeza e desânimo que tomou conta das escolas, em função das políticas pedagógicas dissociadas da realidade e das necessidades dos educandos, implementadas pela Secretaria de Estado da Educação. Essas políticas desconsideram a autonomia dos professores e lhes impõem controles e tutorias, que redobram a burocratização em seus trabalhos. Os professores tem a capacidade do discernimento e da autonomia pelos seus estudos, pela realização de seus concursos e pela sensibilidade humana adquirida ao longo de seus anos de trabalho. Reclama também da redução dos objetivos da educação a treinamento para a "Prova Paraná" e não às exigências clássicas atribuídas à educação. Conclama a todas e a todos para a resistência e para a unidade em torno das reivindicações por dignidade profissional e condições de trabalho. Eis a fala:

A quinta fala é da professora Cláudia Gruber. Ela se apresenta e fala do ambiente escolar que a Secretaria de Estado da Educação pretende que seja positivo. Que tudo seja perfeito e que todos os conflitos sejam superados pela força do diálogo e do entendimento. Para obter esse clima citam até Paulo Freire. Cláudia nos lembra, no entanto, que não podemos esquecer o nosso ontem dos últimos anos, sob pena de comprometer o nosso hoje e o nosso amanhã, também citando Paulo Freire. Não podemos esquecer a perda dos direitos, as repressões nas greves, a redução das garantias trabalhistas e a precarização das condições de trabalho. Isso se quisermos ter o nosso respeito profissional afirmado e assegurado. Eis a fala da professora Cláudia:
https://www.facebook.com/APPindependente/videos/pcb.2899418636746768/120761995942468/?type=3&theater

A sexta e última fala é novamente do professor Luiz Paixão. Ele também se refere ao ambiente escolar, que deseja ser saudável, aconchegante e alegre. Para que ele se efetive o professor deve ficar atento para não entrar no jogo divisionista do governo, que chega até o extremo de provocar que professores, por meio de atas, incriminem os próprios colegas. Reclama de um clima adverso contra os professores provocado pelo governo e certos setores da sociedade. O seu trabalho é criminalizado por conteúdos trabalhados e chega a ser até culpabilizado pelo fracasso escolar. Reconhece que há problemas nas escolas mas discorda dos controles, fiscalização e tutorias como solução. Essas políticas geram o quadro de adoecimento que grassa em nossas escolas, fruto do mau ambiente escolar criado por esses meios que cerceiam a autonomia e a liberdade do professor. Somos humanos e não máquinas. Eis a fala:

Como o professor Luiz Paixão se referiu ao fato de sermos humanos e não máquinas lembrei de Charles Chaplin, de seu filme O Grande Ditador, em que profere o seu último discurso:

A todas e a todos um ótimo ano letivo de 2020. As imperfeições nos vídeos são fruto da luta contra a exiguidade do tempo que travamos. Se servirem para alavancar debates expressamos a nossa satisfação e agradecimento.




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