Não bastassem as
dificuldades que a população brasileira e paranaense está vivenciando em função
da pandemia do coronavírus, a Secretaria de Estado da Educação está implantando
o terrorismo real e simbólico em nossas escolas, atingindo, simultaneamente,
toda a comunidade escolar: alunos, pais e educadores.
Este terrorismo
advém da implantação de um projeto de educação à distância, em substituição ao
sistema presencial, único sistema viável, quando se trata da educação infantil
e da educação básica. Até no nível superior ela sempre deverá ter um caráter de
complementação. Existem até discussões pedagógicas que duvidam da
possibilidade, ou não, de alunos do ensino fundamental estarem aptos para a
realização de pesquisas, o que se dirá então, da educação à distância? Em suma,
o que comanda o processo educacional nesta fase da vida é o rico mundo de
relações pessoais que se estabelece no espaço físico da escola. Além do mais, o processo educativo vai para muito além da mera preocupação com a transmissão de conteúdos, que deve ser o motivo do projeto. Ah, o CREP! Ah, a Prova Paraná! Quanto pensar pequeno! Quanto apequenamento do grandioso conceito de - a partir de um ser inacabado - transitar no rumo de um "SER MAIS!
A implementação
de um novo projeto sempre deve ser precedida de muito cuidado. O novo sempre
assusta. Experiências no setor devem ser consultadas, teóricos são chamados a
opinar e, normalmente, se realizam experiências piloto para a avaliação de seus
resultados. Estas são as condições, sem as quais, pessoas sérias não se
aventurariam.
Assim no Paraná,
durante o período do isolamento social causado pela pandemia, a comunidade
escolar paranaense foi surpreendida com a imposição vertical de um projeto de
educação à distância, com a pronta aquiescência do Conselho Estadual de
Educação. E as perguntas surgem. Quais são os fundamentos teóricos e empíricos
deste projeto? A única hipótese possível é a de que eles saíram da mente
"empreendedora” do senhor secretário de educação do estado do Paraná, o
empresário Renato Feder.
Renato Feder
merece uma palavra toda especial, sob a forma de uma nova pergunta. A
curiosidade epistemológica me obriga a perguntar. Quem é ele e quais são as
suas credenciais para ter sido indicado a tão elevado cargo? Quais são as suas
experiências teórico/práticas no campo da educação que o elevaram à condição para o exercício do cargo?
Diante disso, as
perguntas continuam. Quem o nomeou? É óbvio que quem o nomeou foi o governador
do Paraná, o senhor Ratinho Júnior. Quais as referências que ele dele teve,
para referendá-lo a tão alto cargo? Sei que em alguns setores da administração
estadual os quadros dirigentes foram escolhidos entre os profissionais das
próprias entidades ou instituições, e a partir daí, surge uma nova
interrogação. Por que este critério não foi também estabelecido na educação? Não há nela
quadros competentes para tal? Por que trazer um triplo alienígena para o seu
comando? Triplo sim. De fora dos quadros da educação, alheio às questões
educacionais e de fora do próprio estado do Paraná?
Todos estes são
componentes para a democracia não dar certo. Para ela ser uma prática difícil. Na democracia, o principal
ingrediente para que ela efetivamente funcione é a busca da adesão, do
convencimento e o instrumento para tal é o diálogo. O diálogo entre este
governo e o setor da educação ainda não ocorreu. A violência, esta sim, já. Questões de
herança truculenta. 30 de agosto, 29 de abril.
Mas voltemos ao
ato da educação à distância. O improviso está acontecendo. Nada funciona
corretamente. Por relatos sei que existe um despejar de conteúdos que são
pessimamente trabalhados. Setenta reais seduziram inescrupulosos que desfilaram
incompetências. Contratos milionários foram assinados. Não houve nenhum
treinamento para a assimilação das tecnologias inerentes ao processo. A
situação real da comunidade foi simplesmente ignorada. Foi ignorado, inclusive,
o estado de carência de grande parte, senão da maioria dos alunos da escola
pública, carentes dos meios para que uma educação à distância possa ser viável
do ponto de vista técnico, que é a sua razão de ser.
O que sobrou, no
entanto, nesse processo? Ameaças e mais ameaças. Reposição em período de
férias, quebras à hierarquia a serem julgadas e punidas, faltas, licenças obrigatórias,
retirada dessas licenças, protagonismo subserviente, indisposições com a
comunidade, ruptura de contratos precários. E o próprio futuro profissional.
Não será um abrir de porteiras para um futuro não distante?
Além das
preocupações psicológicas com a pandemia se somam agora as ameaças reais e
simbólicas da vontade autoritária do sorridente secretário. Vejo postagens de
professores que afirmam não dormir, que entram nos sistemas de manhã, voltam à
tarde e à noite e não conseguem conexões. E as ameaças pairam no ar. Circulam
as imagens grotescas de uma senhora chefe de núcleo com ameaças vexatórias, que
deveriam envergonhar qualquer currículo.
E o pior. Muitos
estão tomados pelo medo. Sabemos que os dois mais importantes afetos humanos são o medo
e a esperança. O medo faz mal e a esperança faz bem. Mas os professores estão
com medo, com medo até de perder a esperança. E perder a esperança implica na própria condição do humano. A democracia é um difícil
exercício entre pessoas que se consideram iguais e que se respeitam e que
aprendem com a riqueza do encontro das alteridades. A democracia é um difícil exercício entre
a liberdade, o exercício da autoridade e a responsabilidade. O exercício da
democracia não suporta mandonismos, tutores, supressão de eleições e imposição
de medos. Tomara que os superiores hierárquicos abram pequenas fendas para que
ar puro possa penetrar.
Para terminar.
Existem protagonismos. Hoje (17.04.2020) fiquei sabendo do protagonismo da Colégio Edith, de
Campo Largo. Usaram de um expediente do Conselho Estadual de Educação e
convocaram o Conselho Escolar para deliberarem sobre a aceitação ou não da dita
imposição. Optaram pelo não. Mas não um não absoluto e definitivo. Sobrou
espaço para redefinir. Daqui a uma semana voltarão a se reunir para democrática e coletivamente deliberarem
os próximos passos. Os protagonistas fazem história. Os autoritários também.
Porém todos serão julgados e, como estamos nos aproximando do 21 de abril, uns
serão lembrados como Tiradentes, como protagonistas de tempos de libertação e
outros como Joaquins Silvérios. A obediência cega levou aos piores julgamentos
da história. Que Adorno, Hannah Arendt, Primo Levi, entre outros, não permitam
que percamos nossa condição e capacidade de refletir.
Com incertezas e muito triste contatamos a forma que nossos educandos tem sido visto por esse governo terrorista. Nesse momento de pandemia vem esses escrotos tirar a paz dos lares já fragilizados.
ResponderExcluirEm primeiro lugar agradeço o comentário. Atitudes tomadas pelos homens da mercadoria.
ExcluirQue artigo fantástico. As qualificações que colocam o secretário da inducassão, são as mesmas que coloma co sinistro lá em Brasília. Conchavos políticos e politiqueiros. Uns abutres que nem sabem oque fazem lá, só querem o salário no final do mês. Em relação á essa escola de Campo Largo. Que exemplo de RESISTÊNCIA, minha solidariedade e compaixão por esses guerreiros.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo seu comentário, professor Gilmar. Estamos realmente vivendo tempos de turbulência. O humano está sob escombros e ruínas.
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