segunda-feira, 27 de abril de 2020

Drácula. Bram Stoker.

Tempos de pandemia. Pensei em ler algo sobre esses tempos em que todas as crenças afloram. Tempos em que a economia fala mais alto que a própria vida e, em que, imbecis absolutos passam a ser o norte a orientar as pessoas, ou "nortear" as pessoas. Esses dias li uma contestação a esse nortear. As ideologias do sul é que precisariam ser afirmadas. Estive entre reler Decamerão, de Boccaccio, que tem a peste negra (1348- 1353) como seu tema, ou então, enveredar pela literatura de terror, para mim completamente desconhecida. Optei pela segunda e o livro escolhido foi uma verdadeira obra prima.
Drácula. Da coleção clássicos Zahar.

A escolha recaiu sobre Drácula, do escritor inglês Bram Stoker (1847-1912). A obra em questão foi escrita no ano de 1897. Quase cem anos depois ela foi levada ao cinema pelo diretor Francis Ford Coppola. Existem versões anteriores e posteriores. A leitura foi extremamente agradável e a forma da narrativa não possibilita qualquer dificuldade em sua leitura. O narrador sempre está identificado. Tudo está escrito em cartas, diários ou memorandos.

Procurei caprichar na compra. Minha opção recaiu sobre o da coleção Clássicos Zahar, em edição comentada por Alexandre Barbosa de Souza. Ele também é o responsável pela apresentação. A Zahar tem alta credibilidade comigo. A escolha foi certeira. Durante a leitura, a primeira pessoa que me veio à mente foi Freud. A razão não é absoluta. Ela é insuficiente para explicar a totalidade do fenômeno humano. Mas na resenha vou me ater, praticamente, à apresentação do livro. Apenas lembrando que a obra é de 1897 e que o conde Drácula tem o seu castelo na Transilvânia, Romênia, entre os Cárpatos. A minha leitura foi acompanhada com a consulta constante dos mapas da região, tão fortemente disputada ao longo de toda a história.

Começo pela narrativa, em que os personagens são arrolados: "Além de Jonathan, Mina e Van Helsing, também fazem parte da perseguição frenética ao velho aristocrata romeno, ou húngaro, o lorde inglês Arthur Holmwood, cuja noiva Lucy tivera relações íntimas, e fatais, com o conde, o psiquiatra John Seward e o playboy texano Quincey Morris. Mina também mantivera relações com o conde, apenas quase fatais, embora tenha passado por um "batismo", no qual foi obrigada a beber o sangue do tétrico vampiro: 'Com a [mão] direita, agarrava-a pela nuca, forçando o rosto para baixo sobre o peito dele. A camisola branca estava suja de sangue, e um fio escorria pelo peito nu do conde, exposto por suas roupas abertas. A posição dos dois lembrava terrivelmente uma criança forçando um gatinho a enfiar o focinho no pires de leite, para obrigá-lo a beber'. A luta deles todos para pôr fim ao mal encarnado é, de início, narrada por Mina, a partir dos diários do marido, mas completa com a transcrição das gravações do psiquiatra (em cilindros fonográficos), além de cartas pessoais e comerciais, telegramas, notícias de jornais, incluindo parte de um diário de bordo de um navio russo (encontrado em uma garrafa) naufragado na Inglaterra".

A narrativa começa quando Jonathan vai ao castelo do conde para com ele fechar uma transação imobiliária em Londres e termina numa perseguição ao mesmo em seu castelo. Esta narrativa consome, na edição da Zahar, 468 páginas, divididas ao longo de 27 capítulos.

Mas o que envolve o romance, volto a repetir, escrito em 1897? Alexandre Barbosa de Souza na apresentação nos chama atenção para sete fenômenos que ocorrem nessa transição de século, empregados em sua narrativa: 

"1) o magnetismo animal do médico Franz Anton Mesmer (1734-1815); 2) as experiências de hipnose e indução ao sonambulismo para o tratamento da histeria de Jean-Martin Charcot (1825-93), citado no romance; 3) as crenças espiritualistas na transferência corporal, segundo as quais o espírito de uma pessoa pode se transferir para outro corpo (algo semelhante ao que acontecerá entre Mina e o conde); 4) a teoria da materialização, isto é, a aparição de objetos aparentemente sólidos onde não havia nada, como nas sessões espíritas da era vitoriana; 5) o conceito de corpo astral, adotado pela teosofia e pelos videntes, e compreendido como um vaso ou recipiente para o espírito, emoções, desejos e paixões, invisível aos não iniciados, mas capaz de migrar quando a pessoa dorme, durante a chamada 'projeção astral'; 6) a neurologia e a psiquiatria da época (Stoker consultou Principles of Mental Physiology (1874), do fisiologista W. B. Carpenter, criador do conceito de 'un-conscious cerebration'); 7) a discutível ciência de Max Nordau (1848-1932) e Cesare Lombroso (1835-1909), também citados no romance". As pessoas eram acometidas por uma "febre cerebral". Como percebem, uma obra extremamente erudita.

Ao final do livro tem uma nota, escrita sete anos após os episódios finais ou fatais. Jonathan e Mina tiveram um filho e este recebeu o nome de Quincey Morris. O último parágrafo relembra a terrível e necessária empreitada, ou missão. Quem fala é o Dr. Van Helsing: "-Não precisamos de provas. Não estamos pedindo que ninguém acredite! Este menino um dia vai saber a mulher corajosa e galante que é sua mãe. Agora já conhece sua meiguice e seus cuidados amorosos. Mais tarde, ele entenderá como alguns homens a amaram de tal modo que arriscaram muito pelo seu bem".

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